10 de janeiro de 2016, Bruno Lima Rocha

Na década de ’80 do século XX, a formação política de base anarquista retomava a memória das Greves Gerais de 1917, da Insurreição Operária de 1918, da formação do Partido Comunista Anarquista de 1919, dos congressos da Confederação Operária Brasileia, dentre outros episódios que demonstravam a presença da ideologia no seio da classe trabalhadora urbana. Até a obra de Zélia Gattai (Anarquistas Graças a Deus, 1979, livro transformado em minissérie pela Rede Globo, 1984) difundia a memória. A diferença dos estudos feitos através de referentes sérios e contundentes era a dimensão de autocaricatura que a escritora e esposa de Jorge Amado, trazia consigo como ranço de sua (de)formação stalinista.

Para quem militava na ideologia anarquista (ainda não havia a corrente especifista no Brasil, pois esta surge organicamente em 1995) e tinha inserção social de linha libertária, boa parte da formação se dava por alguns registros da imprensa operária do início do século passado, bons livros daí derivados, o trabalho abnegado de poucos editores e este documentário que segue abaixo (Os Libertários, Lauro Escorel, 1976). No Brasil, o pacto pelego-stalinista-trabalhista tornou invisível a memória da luta dos trabalhadores, em uma operação de corações e mentes, onde o chefe político de formação positivista e concepção corporativa da sociedade de classes tornara-se “o pai dos pobres”. Já a historiografia marxista e marxiana fez coro com o Estado Novo e difundiu a tese da “infância da luta operária no Brasil”. Duas mentiras históricas e cúmplices.

Em nosso país, com maior ou menor intensidade, da década de 1890 até 1934, o anarquismo esteve profundamente enraizado na luta dos trabalhadores urbanos e foi responsável tanto pela organização dos sindicatos classistas (de resistência), como da cultura de classe e do estilo de trabalho, incluindo instrumentos de organização social, como o apoio mútuo e a autodefesa de massas. Cada reconhecimento advindo no pacote legal de 1932 e tornado definitivo em 1943 com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi fruto da luta direta de milhares de militantes anarquistas. Milhares foram os reprimidos pelo Estado e a patronal e mais de dois mil organizadores foram presos, torturados, deportados e postos no campo de concentração da Clevelândia do Norte, distrito do município do Oiapoque – à época território federal do Amapá. Esta colônia penal, chamado de “gulag brasileiro”, foi o destino dos mais tenazes organizadores do movimento operário de orientação anarquista durante o governo do mineiro Artur Bernardes (1922-1926). Falaremos especificamente sobre esta colônia penal mais à frente incluindo sugestão de bibliografia.

Nesta postagem fica o reconhecimento deste belo documental de imagens, corajosamente produzido em pleno AI-5 (ver ficha técnica na sequência), e o reconhecimento a duas gerações de militantes classistas e libertários que, literalmente doaram suas vidas para a causa coletiva. Nenhuma mentira histórica dura para sempre, seja esta de origem varguista-trabalhista, marxista ou marxiana, stalinista ou pelega de toda e qualquer natureza. Esta postagem é nosso singelo grão de areia para esta obra e o mais relevante, o que nela está sendo relatado.

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Ficha técnica: Direção, roteiro e produção: Lauro Escorel / Fotografia: Adrian Cooper / Pesquisa: Laura Vergueiro, Lauro Escorel, Adrian Cooper e Ruth Toledo / Montagem: Adrian Cooper e Lauro Escorel / Música: Carlinhos Vergueiro / Violão: Edson Alves / Som direto: Jorge Eduardo He / Narração e interpretação: Othon Bastos / Intérpretes: Othon Bastos e Rodolpho Crespi / Brasil, 1976. 30′ / Prêmio Margarida de Prata, da CNBB, 1977

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