28 de outubro de 2010 , da Vila Setembrina dos Farrapos traídos por latifundiários entreguistas e lanceiros negros desaparecidos pela mentira sistemática do falso folclorismo, Bruno Lima Rocha
Venho assistindo por obrigação profissional aos debates entre candidatos a presidente, ocorridos em 2010. Confesso que as edições do segundo turno vêm me agradando mais, embora também reconheça ser nestas ocasiões quando o senso comum condena a campanha como agressiva e pouco programática. É difícil rebater esta tese, e os analistas não podem negar o óbvio. Reconheço a impressão transmitida na corrida eleitoral como esvaziada de sentido e, ao “apelar para baixaria”, iguala os candidatos em vários aspectos. Ainda assim, fica a questão. Como é possível marcar a diferença se os campos de alianças se assemelham?
Mesmo reconhecendo que José Serra e Índio da Costa (PSDB-DEM) e Dilma Rousseff e Michel Temer (PT-PMDB) não se equivalem, observo serem muitos os pontos de concordância. Bastava discorrer sobre os temas como agro-negócio e modelo de plataforma de exportação de produtos primários que veríamos a semelhança. É esta variável, a da permanência de estruturas de poder comuns a ambas coligações, que levanto para identificar o porquê da campanha ter descambado para denúncias, acirramento de ânimos e agressividades sobre os atores políticos e não objetivando os projetos que os mesmos representam ou dizem representar. Nos debates a pauta é marcada pela tentativa de criminalizar ou ao menos pôr sob suspeita o acionar político do adversário e, ao mesmo tempo, desqualificá-lo como gestor público e tribuno. Chega a ser enfadonho ouvir a mesma ladainha, mas a linha discursiva tem uma razão de ser. Ora, se o outro é incapaz e suspeito de condutas não-republicanas, simplesmente não há como discutir e debater. Isto porque, em afirmando o argumento, há uma barreira de convivência e confiabilidade, onde a “moral republicana” implicaria em ser uma “pessoa de bem” e, simultaneamente, “preocupada com o bem comum”.
Identifico em José Serra a primeira base de afirmação (“Serra é do bem”) e em Dilma, a segunda (“A presidente que não vai deixar privatizar”). O curioso é que, se formos analisar pelo campo das alianças e as reduzidas margens de manobras marcadas pela política econômica comum, poderia haver mais semelhanças do que disparidades. Talvez este seja o motivo do porque a radicalização dos discursos de campanha no segundo turno não ter vindo acompanhada de mobilização de voluntários e sim de cabos eleitorais remunerados para as funções de menor complexidade, tais como: gritar o nome dos políticos e aplaudi-los, distribuir santinhos, balançar bandeiras e até trocar empurrões.
A campanha está radicalizada, mas conforme é dito aqui no sul, “à meia boca”. Como se sabe, ambos escondem o jogo ou ao menos não o declaram. Se a aliança de centro-direita for expor os seus pressupostos, inclinados ao neoliberalismo, irá perder votos pelo fator rejeição ao governo FHC. Já se a coligação de Dilma for afirmar o que declarara no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (3º PNDH), sofrerá intervenções de agentes com poder de veto político e midiático, tal como ocorrera no tema dos direitos reprodutivos e descriminalização do aborto.
Enfim, fica a dúvida. Como se pode fazer política com profundidade se os candidatos ao Poder Executivo da 5ª economia do mundo não falam publicamente o que pensam?
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat