Do ponto de vista político, os grandes centros urbanos são importantes por serem relevantes polos de legitimidade, já que um governo não pode ser reconhecido como tal se apenas controlar uma ou outra vila. As grandes cidades também provêm recursos financeiros para os seus controladores, seja em forma de espólios, vide o saque de Fallujah em 2014, ou por forma de impostos ou extorsão.
A perda ou ganho de um grande centro urbano também afeta de maneira muito brusca a moral das forças combatentes. Um exemplo disso é a conquista de Homs pelo Exército Sírio, que teve sua moral aumentada e os rebeldes da FSA (Exército Livre Sírio), que além de perderem o terceiro maior centro urbano do país, perderam também sua capital simbólica, já que foi em Homs onde os protestos começaram em meados de 2011. Isso acarretou em uma grande baixa na moral das tropas, o que ajudou em alguma medida na deserção de alguns soldados para grupos armados salafistas, como o Army of Conquest e a Jabath Al-Nusra (a franquia-filial oficial da Al Qaeda na guerra síria).
No caso específico da Síria, a batalha por Aleppo tem uma importância maior que grande parte das batalhas travadas até aqui. Essa importância se justifica por dois pontos. O primeiro ponto é a importância econômica e demográfica da cidade. Aleppo é a segunda maior cidade da Síria e é o “coração econômico” do país, reunindo uma parte considerável do pouco parque industrial que não foi completamente destruído ao longo do conflito.
O segundo ponto é que no contexto da formação do Estado Sírio, no período de pós ocupação francesa, Aleppo é ao lado de Damasco, o segundo polo formador da nação. Enquanto Damasco representaria a porção cosmopolita e “levantina” do país, Aleppo representaria a maioria sunita da Síria. Também cabe acrescentar que geograficamente, Aleppo está em uma posição mais ao norte, o que permitiria a facção que a controla ao propagar suas ideias e influências a uma boa parte do país.
Militarmente o regime sírio está em uma melhor posição que os outros atores envolvidos. Após as vitórias sobre os rebeldes em Latakia, praticamente expulsando os rebeldes da província, e na própria província de Aleppo em 2015, mais a recente reconquista de Palmira (Tadmur) nas últimas semanas, deixa as Forças Armadas Sírias com a moral muito elevada. O apoio material e direto de Moscou dá uma maior segurança ao Alto Comando do Exército Sírio sobre a operação.
O Exército Sírio, mesmo com as recentes vitórias e com bons generais como o General Ibrahim Zahenedine, que defende a base aérea de Der-ez-zor e do recém promovido General Suheil Al Hassan, responsável por muitas das recentes vitórias contra o Daesh em Tadmur e os rebeldes na província de Aleppo; é uma força no geral despreparada e extremamente corrupta. Desde o início do Regime Bashir al-Assad em 2000, a associação entre o exército e os agentes econômicos se tornou comum, dado o baixo salário, cerca 400 dólares para oficiais e uma média de 80 a 100 dólares para praças e sargentos.
Para manter a lealdade dos oficiais, o Regime entrincheira as principais divisões de combate (Furaq em árabe) nos principais centros urbanos, provendo-lhes toda a infraestrutura necessária para que não seja necessário move-las sem necessidade e que permita o autogerenciamento das mesmas. É praticamente um sistema semifeudal (apropriadamente podemos comparar cada oficial a um pequeno emir, com cargo de autoridade no mundo não militarizado ou distante das milícias) em que os oficiais comandantes agem paralelamente ao governo civil. Principalmente pela cobrança de taxas para que os conscritos possam deixar de servir ao exército ou para serem promovidos.
Para compensar o inchaço no número de oficiais e a baixa qualidade dos conscritos, a SAA (Exército Sírio) se utiliza de milícias como a NDF (Força de Defesa Nacional) para suprir o papel de infantaria. Dado os melhores soldos e uma rotina mais flexível, muitos jovens preferem se alistar nas milícias ao invés do exército regular. Tanto unidades de elite como as Forças Tigre (Qwaat al-Nimr) quanto as milícias são mantidas não pelo governo, mas sim por grandes empresários como Rami Makhlouf, que sustenta muitas das despesas das Forças Tigre. Outra fonte de financiamento e apoio as forças militares que apoiam o Regime vem de nações estrangeiras como o Irã e a Rússia. Cabe destacar um fato interessante neste auxílio.
Quanto mais tempo uma unidade militar síria tem contato com oficiais dos países aliados, mais parecida a unidade fica com as forças militares do país que presta auxílio. Após a 67° Brigada da 11° Divisão do Exército Sírio receber treinamento da Guarda Revolucionária Iraniana, a brigada passou a ostentar o uniforme iraniano e também a se comportar de forma parecida com os seus treinadores. As unidades que recebem apoio dos russos, por outro lado, passam a se comunicar em russo, mesmo após o termino do treinamento.
Após este parêntese a respeito da situação do Exército Sírio, cabe ressaltar a situação precária dos rebeldes, que desde a perda da rota de suprimentos ao norte de Aleppo, estão restritos a receber reforços e suprimentos apenas a partir da província de Idib. Isso torna mais devagar, e muitas vezes inútil o transporte, já que sem a principal rota de transporte, alguns dos aliados estrangeiros dos Rebeldes, como Arábia Saudita, Qatar, Estados Unidos e Turquia, diminuíram seus fluxos de auxílio.
Com o recente fracasso do cessar-fogo, os Rebeldes se preparam, ainda que com pouca munição, com suprimentos de toda ordem e efetivo para resistir aos ataques aéreos das Forças Aerotransportadas da Rússia e da Força Aérea Síria. Em terra, os Rebeldes têm que enfrentar militares de forças especiais (Spec Ops) iranianos que auxiliam os soldados das principais unidades militares sírias como a milícia Falcões do Deserto, as Forças Tigre e dos Fuzileiros Navais da Síria.
Outro problema – ameaça militar para os Rebeldes sunitas e não vinculados diretamente aos jihadistas - são as forças da esquerda do Curdistão, pois estas se aproximam ao Noroeste da província, levantando a possibilidade de colocar as forças contrárias a Assad sob fogo de três direções diferentes: Sul, Noroeste e Norte. Caso percam, os Rebeldes da FSA estarão praticamente liquidados, enquanto os rebeldes islamitas ficaram em uma situação um pouco menos desfavorável, já que as diferentes facções islamitas dividem a província de Idib, e áreas das províncias de Hama e Homs.