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LARI de Análise de Conjuntura Internacional
Conjuntura Internacional

A conturbada aliança das forças militares da esquerda do Curdistão e as milícias pró-Assad.

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A existência da SDS depende da coexistência entre as milícias da esquerda do Curdistão e as forças pró-Assad

29 de junho de 2016, Pedro Guedes

Ao longo do mês de Abril de 2016, inúmeros confrontos foram reportados entre os membros do YPG (Unidades de Proteção Popular ou Yekîneyên Parastina Gel‎) e as forças da NDF (National Defense Forces ou Quwat ad-Difāʿ al-Watanī) na província de Al Hasaka, resultando em alguns mortos e feridos nos dois lados. Mesmo com a temporária aliança entre Damasco e Rojava em vigor, as relações entre as subunidades das duas facções nunca foram muito amistosas. 

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Isso acontece principalmente por dois motivos, o primeiro é a natureza das forças paramilitares pró-Assad, e pela estrutura coercitiva do YPG, principalmente na figura de sua força policial cantonal, a Asayish (Segurança em curdo) que opera nas regiões em que o YPG controla na Síria. O choque entre estas duas forças, ainda que já pacificado, mostra que a aliança entre o Governo e as regiões autônomas ainda é frágil.

A NDF, como já foi escrito anteriormente, é composta por cidadãos de inúmeras situações socioeconômicas, abrangendo desde o ex-trabalhador industrial até o criminoso convicto. Essa disparidade de origens leva ao recrutamento de indivíduos pouco confiáveis para executar as tarefas impostas à NDF, que são mais notoriamente a manutenção do território recém seguro pela SAA (Exército Sírio) e por outros grupos paramilitares pró-Damasco.

O que agrava esse problema é o fato de que considerável parte do quadro, tanto de praças e oficiais são compostas por criminosos e contrabandistas, muito deles com laços muito próximos do clã Assad, que no governo de Bashar se aproveitaram das medidas liberalizantes, e que via contrabando e extorsão adquiriam poder suficiente para integrar a NDF em posição de comando. Desde o início da Guerra Civil as populações sunitas do país chamam os quadros da NDF de Shabiha (nome dado para os contrabandistas e bandidos que trabalham para a família Assad), que em árabe significa “fantasma”.

O fato de uma parte do soldo da NDF ser pago na forma de pilhagem incentiva o comportamento criminoso por parte destes milicianos. Uma outra forma de obter-se rendimentos é pela extorsão ás populações que necessitam passar pelos diversos pontos de controle. Ainda que o Governo afirme publicamente que combate este comportamento, pouco ou nada é feito para coibir estas ações, principalmente se implementadas em regiões habitadas por Sunitas ou outra minoria marginalizada, como nas regiões curdas de Al-Hasaka e no norte de Aleppo.

Os Curdos (a esquerda do Curdistão), que possuem uma relação tumultuada com o governo central em Damasco, se equilibram no plano geopolítico, no tênue entendimento entre os Estados Unidos e a Rússia na coalizão anti-ISIS, tem como característica principal a governança descentralizada, que inclusive inclui a sua força policial, a Asayish, que possui pouco mais de 4 mil combatentes (homens e mulheres) em seu efetivo. Esta corporação se organiza de maneira similar com o YPG, mas focado em patrulha dentro das regiões controladas pelos curdos, mais focada em procurar supostos informantes ao invés de se engajar na linha de frente.

O incidente mais recente entre os curdos e as forças pró-Assad aconteceu em meados de Abril do presente ano nos arredores e no centro da cidade de Al- Quamishili na província de Al- Hasaka. Neste incidente, as forças da NDF desrespeitaram o acordo de cooperação entre Damasco e Rojava, e tentaram tomar o controle de alguns checkpoints nos arredores da cidade. Em represália, a Asayish tomou o controle da prisão local, prendendo cerca de 20 milicianos no local.

Após uma semana de confrontos, uma delegação de oficiais russos, enviados de Damasco e representantes das regiões curdas chegaram ao local e começaram as negociações para encerrar o conflito e retomar a normalidade na região. Depois de alguns dias de negociação, obtêm se um acordo entre as partes em que o regime de Damasco se retiraria da maior parte da cidade, e em troca, a Asayish soltaria os presos e devolveria a prisão para o controle do governo.

Esse incidente aponta que a relação Damasco-Rojava ainda é muito frágil, mesmo com o governo apoiando o YPG com munição na região, e cooperando com as ações russas pró-curdos. Essa fragilidade é fruto da desconfiança mútua e do pensamento de manter a relação entre as duas partes como um “acordo de interesses” ao invés de tentarem (principalmente o governo Assad) negociar com um pensamento mais a longo prazo e priorizando a unidade nacional sob bases justas de representação.

O próximo teste para esta “aliança” é a corrida por Al-Raqqua, em que o YPG e as forças governamentais (SAA, NDF e RuAF) competem para ver quem expulsa o DAESH de sua capital de facto e por tabela, da Síria.  A importância desta campanha é tanta, que o vencedor desta disputa irá ter uma margem de barganha muito maior que os seus concorrentes em negociações futuras, principalmente agora com a falência do cessar- fogo de fevereiro, chancelado por Washington e Moscou.

Pedro Guedes é graduando em relações internacionais na Unisinos – E-mail: pedro_0141@hotmail.com

 






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