Marina Rossetto, 09 de setembro de 2015
O governo de Rafael Correa (Patria Altiva y Soberana y Partido Socialista - Frente Amplio) teve início em 15 de janeiro de 2007 após as eleições em que venceu Álvaro Noboa (Partido Renovador Institucional de Acción Nacional), com 56,57% dos votos válidos, e autodenominou-se como "Revolução Cidadã" devido as amplas reformas políticas, econômicas e sociais que promoveu desde então. Como exemplo dessa revolução, pode-se citar a diminuição da pobreza, que na década de 1990 chegou a 60% e na atualidade atinge aos 22% da população. Além disso, durante o seu governo, Correa conseguiu diminuir a desigualdade social no Equador - baixando o coeficiente de gini de 0,55 para 0,48. Ademais, esta mesma administração conseguiu criar uma breve estabilidade política à nação que no final da década de '90 e início dos anos 2000 sofreu a expulsão de três governos conservadores-neoliberais - Abdallah Bucaram, Jamil Murad e o do coronel Hector Gutiérrez.
Dentre as medidas do programa “Revolução Cidadã” está o estímulo à produção de petróleo que tem objetivo de incrementar o crescimento econômico do Equador. É válida lembrança de Jaime Roldós Aguilera, presidente do Equador que também iniciou medidas nacionalizantes do petróleo e subitamente morreu em um acidente aéreo em 1981. Além dele, no mesmo ano, o presidente do Panamá, Omar Torrijos, também sofreu um acidente aéreo quando começou a defender temas de envergadura nacional semelhantes as tomadas no Equador. Ambos casos são mais que suspeitos, revelando a fragilidade da segurança institucional quando mandatários latino-americanos atingem interesses estratégicos da Super Potência.
O modelo de desenvolvimento da capacidade de extração de petróleo não é consenso na sociedade equatoriana. Tanto a oposição por direita como uma base social - aliada de Correa se contrapõem a este. A expansão de produção tem se dado em territórios indígenas, gerando reações contrarias dos povos originários equatorianos (7% da população equatoriana), que se sentem excluídos da “revolução". Além disso, os índios afirmam que diferentes projetos do presidente gerariam um grande impacto ambiental.
Alguns membros da poderosa CONAIE (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador) afirmam que Correa apenas utilizou-se de discursos em prol da população indígena durante a sua campanha e que depois disso voltou-se contra ela. A organização declarou-se contra o governo e apresentou uma longa lista de exigências que o presidente se recusa a aceitar. Dentre os pedidos listados está a crítica a um pacote de alterações constitucionais que lida com a maioria governista do congresso - são contrários a diferentes novas leis previstas, uma delas, por exemplo, permitiria que Correa se candidatasse a um novo mandato em 2017, ou outra que restringiria o direito de cuidar da água, da terra e da educação nos seus territórios. O embate entre o direito de autonomia da população originária em suas terras demarcadas se confronta com a potestade do Poder Executivo e as tomadas de decisão favoráveis ao aumento da exploração de recursos hidrominerais.
O presidente tem sido assediado com diversos protestos iniciados no segundo semestre de 2015 e sofrendo acusações a respeito da queda do preço do petróleo com a consequência da diminuição das receitas advindas desta indústria. A realidade cotidiana é marcada por dificuldades econômicas, forçando o mandatário a admitir publicamente em julho de 2015,em seu programa semanal de rádio e TV, que o país vem enfrentando uma difícil crise política e a sua popularidade vem caindo.
O grande problema é que essa indignação dos povos originários, e por consequente os protestos e revoltas contra o presidente, se somam à vontade das oligarquias equatorianas de voltar ao poder. É bastante contraditória a ideia de que os grandes políticos da direita se juntem a luta indígena. O que se pode notar é que caso a luta indígena continue e chegue ao ponto de retirar Rafael Correa do Poder Executivo, o único setor de classe diretamente beneficiado será a direita oligárquica, pois terá mais uma vez a chance de subir ao poder, deixando de lado completamente qualquer tipo de medida nacionalizante ou indígena.
Marina Soares Rossetto é estudante de Relações Internacionais da Unisinos (marina-rossetto@hotmail.com)