O FSA opera em conjunto com a Coalizão Nacional para a Revolução Síria as Forças de Oposição (National Coalition for Syrian Revolutionary and Opposition Forces), formada em meados de 2012 e reúne entre outras organizações o Conselho Nacional Sírio (que opera no campo político). Possui aproximadamente 45 mil homens e opera em praticamente todas as frentes do conflito. Desde 2013 o FSA vem perdendo terreno tanto para as forças governamentais quanto para outros grupos rebeldes, principalmente islamistas como a Frente Al-Nusra, e o Daesh (Estado Islâmico, ISIS).
Alguns analistas acreditam que de fato a FSA não existe mais como força de combate viável, dado o fato de ter sido demasiadamente enfraquecida pelos combates com outros grupos rebeldes, mesmo com forte suporte europeu e estadunidense, tanto em forma de apoio político, dinheiro e armamento e outro equipamento militar.
Outro agente não estatal importante neste conflito é a Frente Al-Nusra, que desde que se engajou no conflito sírio em 2012, ainda como filial síria da Al-Qaeda, vem obtendo consistentes resultados no Norte da Síria. A Al-Nusra possui aproximadamente 10 mil homens que lutam por uma Síria completamente confessional ao salafismo e submissa a lei da Sharia Islâmica. Para tal, declarou que os territórios mantidos pelo grupo são um Emirado, controlados pelo emir Abu Mohammad al-Julani na província de Idib.
A Frente Al-Nusra vive uma relação de amor e ódio com o DAESH e a Al-Qaeda, ora se unindo a eles, hora declarando jihad a eles. Isso reflete não apenas a desunião entre os diferentes grupos rebeldes, mas também a total falta de projeto de nação que inclua todos os agentes políticos, pois variando entre uma nação islâmica sunita a um suposto governo laico (mas altamente discriminatório), os principais participantes do conflito sírio, incluindo o governo, ajudam a apenas a aumentar o sectarismo da região ao custo de milhões de vidas e uma geração de jovens perdida.
Na segunda metade do ano de 2015, vários grupos rebeldes se uniram em uma coalizão militar denominada Exército da Conquista, com o objetivo de coordenar as operações militares contra as forças do Regime Sírio na Frente Norte na Síria. Este Exército concentra sua atuação na região de Idib e arredores, se resumindo em grandes avanços contra o Exército Sírio, praticamente o expulsando destas regiões, reequilibrando a situação militar.
Outro grupo rebelde importante é o já citado Estado Islâmico, também chamado de DAESH (ad-Dawlat al-Islāmiyah fī al-ʿIrāq wa sh-Shām), sendo o principal grupo jihadista no Oriente Médio, com operações no Iraque Síria e Norte da África. A organização político-militar-religiosa já é veterana da guerra do Iraque (2003- 2011), onde aproveitou o caos do conflito sírio para obter o apoio da maioria sunita que vive no norte e nordeste da Síria, e que descontentes com o Regime e os rebeldes seculares, viam a proposta de um Estado menos corrupto e direcionado pelo Islã com bons olhos.
A partir desse panorama, o DAESH se expande de maneira rápida no território sírio, controlando pouco mais da metade do território, pressionando ainda mais o Regime Assad. Ainda que essas áreas sejam menos populosas, com a possibilidade de poder (virtualmente) se projetar em qualquer lugar, cria um efeito psicológico sob seus adversários, que aliada ás táticas de hit and run (atirar e correr, bater e sair), possibilitou a autodeclararão do Califado Islâmico em meados de 2014.
De todos os grupos “rebeldes”, o ISIS é o mais organizado, com estrutura militar e civil muito semelhante ao do Estado Westephaliano, contando com regime jurídico e moeda própria, o que lhe permite recolher impostos como uma das formas se subsistência. Essa estrutura permite que o grupo recrute soldados de maneira muito semelhante aos Estados, possibilitando a criação de um efetivo que varia entre 30 mil e 100 mil soldados.
Uma das questões que se acercam a respeito dos grupos rebeldes é como estes grupos conseguem se manter como organização sem um orçamento ou fonte de renda direta? Normalmente estas organizações subsistem a partir de doações e injeções de dinheiro advindo das monarquias islâmicas do golfo, principalmente a Arábia Saudita e o Bahrein, e no caso do DAESH (vulgo Estado Islâmico) há o acréscimo da renda da venda ilegal de petróleo por carregamentos disfarçados via portos turcos, o que somado a denúncias de leniência por parte de Ancara (capital da Turquia e cujo governo é cúmplice da ação do ISIS dentro e além de suas fronteiras), levanta suspeitas acerca do real comportamento do governo turco.
Impasse militar e político e tentativa de desequilíbrio de forças
Ainda que a solução política seja o melhor caminho para a resolução do conflito sírio, nenhum dos agentes envolvidos nesta guerra multilateral, nem o Regime Assad com o suporte russo e iraniano, ou os rebeldes com suporte das monarquias do golfo pérsico estão em condição de impor derrotas graves a ponto de forçar uma negociação política. Tampouco existe condições concretas de encerrar o conflito militar de forma permanente, o que leva ao atual conflito de atrito que destrói o país em mais de quatro anos de guerra civil.
Com a chegada de tropas russas atuando diretamente no conflito, apoiando o governo de Bashir al-Assad e fortalecendo as alianças do xiismo expandido proveniente de Teerã, tal equilíbrio de forças pode pende para o que resta do Regime. Mas, como estes resultados só poderão ser observados em um período de quatro a seis meses, cabe projetar o papel da potência militar governada por Putin como um novo agente direto envolvido sendo ainda prematuro antecipar resultados diretos deste envolvimento.
Pedro Guedes é estudante de relações internacionais da Unisinos (pedro_0141@hotmail.com)