18 de julho de 2013, Bruno Lima Rocha
Nesta edição, dedico-me a analisar a atuação libertária na jornada de protestos de 2013 que atravessou as capitais e maiores cidades do país que equivale a um sub-continente luso-brasileiro. Tais jornadas se nacionalizam partindo da vitória pontual em Porto Alegre, alastrando uma nova modalidade de luta popular através do Brasil. Produzo estas palavras a partir dos documentos publicados pela Coordenação Anarquista Brasiléia (CAB, encontrados no portal anarkismo.net) e, especificamente, na atuação dentro do Rio Grande do Sul da Federação Anarquista Gaúcha (FAG). Oriento este texto pelo âmbito do especifismo por entender que é a versão orgânica de uma ideologia que expressa sua capacidade política.
O mais relevante, para além da criminalização sofrida pela CAB no geral e a FAG em particular; superando as calúnias de sempre exercidas sobre o anarquismo, o ganho real para o povo brasileiro, no meu ponto de vista, foi a incorporação de alguns mecanismos básicos de organização social que estavam, ou esquecidos, ou em dormência profunda. Os setores que foram para as ruas, quando convocados por alguma instância de coordenação, tinham nestas coordenações uma fonte de referência e sem uma liderança cristalizada. Por mais confusão gerada por tais medidas, no médio prazo isto favorece a ausência de liderança carismática e – portanto – capital eleitoral. Ao afirmar o sujeito coletivo (povo e classe) ao invés de alguma elite dirigente, afasta-se o oportunismo e a luta indireta nas urnas. “O povo acordou!” ou “não é por centavos, é por direitos” são consignas que vão ao encontro do programa de trabalho do anarquismo militante, presente em todos os momentos destas jornadas, desde sua concepção nacional em janeiro de 2005 durante uma das edições do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, assim como na formação do Movimento Passe Livre (MPL) em dezenas de cidades do Brasil.
Se recuarmos aos complicados anos ’90 do século XX, recordaremos das jornadas de Seattle (novembro de 1999, EUA), quando centenas de movimentos sociais e entidades de base afetadas pelo Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) mostraram sua indignação durante a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) ali realizada. As jornadas de protestos brasileiras em 2013 são tributárias destas lutas, da explosão da internet como forma de auto-organização; das lutas anti-globalização da virada do século (como as de Gênova e Sevilha); do papel pioneiro dos Centros de Mídia Independente e, a partir daí, da ação dos meios de comunicação alternativos.
Em cada uma destas frentes de atuação existe o peso, majoritário ou na composição, tanto da presença física do anarquismo militante como na inspiração de forma e pensamento organizada. E, como já se verificava em distintas partes da América Latina nos últimos quinze anos, a ideologia anarquista extrapola e ultrapassa sua dimensão orgânica (no Brasil, pela CAB) e atravessa a orientação geral dos protestos.