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Pontes e aproximações entre o anarquismo e o Confederalismo Democrático

takku.net

Neste mega-comício e celebração popular, os organismos políticos do PYD-PKK fazem valer o programa do Confederalismo Democrático, garantindo o poder de fato que vem do Grupo de Comunidades do Curdistão (KCK), verdadeiro organismo social da revolução curda.

Pontes e aproximações entre o anarquismo e o Confederalismo Democrático

 

23 de abril de 2015 – Bruno Lima Rocha

 

Segue a introdução escrita por Pablo Misraji, responsável pela radução do segundo artigo de uma série sobre a questão da Revolução Social contemporânea de Rojava, no Curdistão. Neste ensaio, as distinções e proximidades teórico-práticas com outras experiências de autogestão econômica e política, são apresentadas e permitem que os projetos políticos de transformação social continuadamente catalisem a força social e se condicionem às metodologias da realidade.

 

Introdução para esta questão em particular

 

Nesta seção eu vou expor algumas informações históricas básicas sobre o modelo de organização política anarquista e, no final, fazer uma comparação entre essas experiências e na contemporaneidade, com a estratégia da organização política que pretende ser a catalisadora de uma transformação social pelo Confederalismo Democrático.

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A ascendência do modelo organizacional anarquista: três experiências importantes

 

A Aliança Internacional da Democracia Social: Como mencionei na primeira parte do ensaio, o modelo de organização federalista não é novo. Em 1868, dentro da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) a chamada 'ala federalista' incluiu uma força política organizada chamada Aliança Internacional da Democracia Social (conhecida também como um tipo de 'aliança bakuninista'), cuja melhor referência conhecida pelo público era o russo Mikhail Bakunin (1814/1876). A Aliança trabalhou como uma organização de quadros, de tipo "carbonária" e com a maioria de seus militantes agindo de forma sigilosa. Algumas referências públicas foram feitas aos líderes que foram bem conhecidos dentro da AIT e essa associação não agiu apenas em um país ou território específico. Era comum enviar delegados e operadores (agentes com compromisso militante) para países distantes ou divisões regionais com o fim de promover a organização social, seja para formar uma célula da Aliança ou para apoiar episódios ocasionais de revoltas. Podemos observar o papel dos militantes experientes dentro da Aliança, na qualidade de lutadores sociais, organizadores políticos e propagandistas ideológicos. Também, às vezes, aqueles que estariam na primeira linha através de um nível mais elevado de luta social - como o que ocorreu durante a revolta parisiense de 48 e da Comuna - militantes da Aliança eram parte das primeiras forças políticas de organização de autogestão dos trabalhadores nos tempos modernos (de março a maio de 1871).

 

O Partido Anarquista Socialista Revolucionário: Outra experiência mencionável para este modelo de partido foi fundada em 1891, o Partido Anarquista Socialista Revolucionário (SRAP, PASR em línguas latinas, conhecidos como Partido Malatestiano) e sua referência mais famosa foi o anarquista napolitano Errico Malatesta (1853/1932 ). Embora o PASR tivesse uma ala clandestina, cuja estrutura era mais semelhante ao tipo comum de organização. Seus militantes eram referências para o nível de massas (social) e para o nível intermediário (político-social), bem como os facilitadores e agitadores de propaganda política. Os membros eram mais do tipo de 'função múltipla' (quadros multifuncionais), incluindo tipos de ação direta realizadas na Itália na época (desde a fundação do partido até o golpe fascista de 1922).

 

O Exército Insurrecionalista Camponês Ucraniano: A partir da Revolução Russa, especificamente na Ucrânia, sobreveio a experiência revolucionária em termos de organização política de massas durante a guerra civil (1918-1921). O Exército Negro (também conhecido como Makhnovitchina ou Makhnovista) tinha sua referência no militante Nestor Makhno Ivanovich (1888/1934), e sua hegemonia política, militar e administrativa de grandes regiões da Ucrânia ajudou a desenvolver um modus operandi baseado na produção coletivizada e nas seções militares, tendo um exército baseado na cavalaria móvel e cujos postos de comando eram todos eles eleitos. Em seguida, houve a fusão político-milícia da organização, que promoveu ao mesmo tempo um nível maior de conflito contra o Exército Branco (de direita e czarista) e também contra o Exército Vermelho (a força armada do Partido Bolchevique). A ala militar era a instituição de autodefesa que garantiria um modelo federalista político de autogestão socioeconômica. Com a derrota para o Exército Vermelho em 1921, alguns sobreviventes do Estado-Maior Geral do Exército Negro se reuniram em Paris, e escreveram um manifesto político, no formato de uma parte de teoria política anarquista chamado de 'Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários'. Este documento, que foi difundido na década de 1920 e 1930, continha quatro diretrizes teóricas básicas para o modelo que ainda é válido hoje: Unidade Tática, Unidade Teórica, Responsabilidade Coletiva e Federalismo.

 

Aspectos comuns entre as três experiências e semelhanças com a estratégia real do PKK:

 

A exposição das experiências históricas e da acumulação entre essas organizações podem resultar em uma tese completa apenas no sentido de discutir os conceitos do partido anarquista. No entanto, eu gostaria de enfatizar nesta série os aspectos comuns entre esses modelos organizacionais: a seleção de filiação (partido de quadros); a não-participação nas eleições estaduais (anti-eleitoral); a minoria ativa como tipo de ação (contra a concepção de classe de vanguarda); estrutura federativa interna considerada como uma forma de organização social (federalismo político); o uso sistemático da força em conflitos coletivos e de massas (ação direta como uma prioridade e meio de gerar eventos políticos); projeção de estruturas sociais organizadas como prioridade (construção de um povo forte), eliminação de intermediação profissional (democracia direta popular); e existência de possíveis críticas e promoção interna, aumentando as responsabilidades políticas de acordo com o grau de compromisso militante (democracia interna e renovação).

 

As semelhanças entre o modelo de organização anarquista e do papel do instrumento político do movimento de libertação do Curdistão são tão impressionantes e claras que são facilmente comprovadas pelas simples leituras deste parágrafo escrito pelo companheiro Mustafa Karasu, publicado no site em inglês do PKK:

 

'O PKK reestruturou-se a partir do resultado de uma extensa autocrítica e de uma crítica profunda do socialismo clássico e de suas formas praticadas. Ele vê a teoria socialista clássica como insuficiente. O PKK acredita que o socialismo clássico não é anticapitalista suficiente e é muito envolvido com o Estado, considerando que este é uma ferramenta de repressão. Para derrubar um Estado, a fim de criar um novo, não seria uma prática revolucionária; ao invés de superar, derrubar ou minimizar o sistema hegemônico e substituí-lo por um sistema socialista, implicando no socialismo no mesmo momento. Este é a metodologia adotada pelo PKK. Para derrubar um Estado não é o mesmo que derrubar um sistema. Comparar essas duas coisas juntas é um sinal de desvio do socialismo'.

 

Quando estudamos os movimentos de história da classe trabalhadora socialista em várias sociedades, ocidentais ou não, podemos observar que este tipo de crítica contra o Estado era orientada pelos chamados 'partidos socialistas' e estas eram exatamente as mesmas críticas feitas por milhares de militantes anarquistas, totalmente comprometidos desde, pelo menos, 1864! Depois de ler uma frase que começa dizendo que "O PKK se estruturou através da autocrítica" podemos facilmente observar quase o mesmo método exato daquela organização política anarquista, numa luta interior constante para evitar reproduzir internamente a esfera política e de pensamentos ideológicos que pertencem a tradições autoritárias e capitalistas (liberais ou não). Como eu afirmei na primeira parte deste ensaio, a práxis real do PKK pode alimentar anarquistas em todo o mundo e vice-versa. O primeiro passo é reconhecer a aproximação comum entre ambas tradições. Contribuir para este esforço é a razão desta série.

 

Artigo originalmente publicado no portal Kurdish Question

 






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