O caso ISL
A International Sport and Leisuere (ISL) ficou famosa no Brasil na época da transição dos times, e seu posterior fracasso, para os clubes-empresa, após assinar contratos de parceria com Grêmio e Flamengo. Com a sua falência, as dívidas sobraram para os dois times.
O trajeto da empresa de marketing esportivo ISL pode ser muito bem acompanhado no livro do jornalista Andrew Jennings, Jogo sujo: o mundo secreto da FIFA, além de Invasão de campo: Adidas, Puma e os bastidores do esporte moderno, escrito por Barbara Smit e que conta as divergências da família Dassler na Alemanha, da qual surgiu a Adidas e saiu a Puma.
A ISL foi criada por Horst Dassler, herdeiro da Adidas, como forma de entrar em outro tipo de negócio, principalmente com a entrada de uma concorrente do peso da Nike, sob uma nova forma de tratar o produto esportivo, muito mais ligado à imagem – após o fracasso na aposta quase que exclusiva no basquete, muito centrado, enquanto espetáculo, nos Estados Unidos.
Jennings conta que a ISL vai naufragar após a morte de Horst Dassler, seu criador, em meio a escolhas erradas (aquisições da C.A.R.T./Fórmula Mundial e dos eventos da ATP/tênis), muito gasto com propinas para membros de Comitês Executivos, seja no COI ou na FIFA, e apesar de muito apoio da FIFA.
Para se ter uma ideia, a Rede Globo aparece na história após pagar 60 milhões de dólares em 1998 pelos direitos de transmissão da Copas do Mundo seguinte e a parte da entidade, 22 milhões, nunca foi paga pela ISL, que só veio a ser cobrada quando estava prestes a falir, em 2001!
Jennings conta primorosamente o desespero do diretor Jean-Marie Webber em meio ao naufrágio de uma empresa que trabalhava com bilhões de dólares nas mãos e com eventos bastante lucrativos. Em meio à crise do fim da parceria com o COI, a renovação do contrato com a FIFA se dá de uma forma totalmente desproporcional, batendo uma até então fortíssima empresa estadunidense do setor de imagens, a IMG.
A falência foi algo constantemente avisado à FIFA, sob gestões Havelange/Blatter. O absurdo sobre as propinas, pelo que conta o jornalista britânico, também. Já que uma das propinas destinadas ao então presidente da entidade teria ido para a conta da mesma, e não para a pessoal dele...
Blatter dizer que a exposição do processo é a demonstração clara da “transparência” da “nova” gestão da entidade é piada de mau gosto. Além de ocupar cargos relevantes desde a década de 1980, ao lado de Havelange, a FIFA não aprovou a divulgação dos resultados de uma auditoria externa, mesmo que escolhida “a dedo” pelos membros do Conselho Executivo da entidade.
A divulgação disso agora – e até o pedido para que JH se afaste do cargo de presidente de honra da Federação Internacional – parece-nos mais vingança da traição eleitoral passada que qualquer outra forma de mudança, esta pregada em vários momentos desde a década de 1990.
Ah, além disso, segundo os documentos liberados pela justiça suíça, a FIFA não queria que os dois devolvessem parte do dinheiro recebido (R$ 12,65 milhões) como uma forma de negociar a propina recebida, alegando que esse tipo de coisa seria comum em locais como África e América do Sul... Só faltava essa!!! Nem o pessoal de Brasília diz isso!
Saída estratégica
Em março deste ano, Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF, cargo que imperou durante 23 anos, alegando cansaço e problemas de saúde. Porém, era evidente que se tratava de uma saída estratégica, afinal o cerco se fechava. Reportagens da Rede Record, da ESPN, até da Rede Globo e também da Revista Piauí – em nossa opinião, o “perfil” da Daniela Pinheiro foi ainda mais fundamental – deixaram o todo poderoso do futebol brasileiro em maus lençóis.
Além disso, e sempre lembramos, duas pessoas foram fundamentais para que as bases aos pés do ex-presidente, e “jogador” do mercado financeiro, desabasse. A presidenta Dilma Rousseff, ao contrário do seu antecessor Lula, não queria ter a imagem ligada ao comandante da CBF, criando, inclusive, o cargo de imperador da Copa de 2014 para Pelé, que ainda não se decidiu se é desafeto ou não de RT.
Outro nome, agora em nível mundial, é o de Joseph Blatter. Homem forte de Havelange, a quem substituiu após uma tentativa de “golpe” em 1994, o ex secretário-geral do sogro de Teixeira “descobriu” que não teria o seu apoio para a reeleição no ano passado. A filha do então presidente da CBF – a mesma cuja conta bancária teria sido usada para receber recursos da Alianto (Sandro Rosell – presidente do Barcelona/Amistoso Brasil X Portugal) – disse que ele apoiaria Bin Hamman – que no final nem pode se candidatar, acusado de compra de votos (e não é piada nossa hein).
Após a ameaça do carnaval, em que até a Rede Globo caiu, ele se afastou. RT foi se refugiar em sua casa em Miami. Após algum tempo longe dos holofotes, o ex imperador da CBF parecia ter alcançado seu objetivo, raramente ouvia-se o nome de Ricardo Terra Teixeira na mídia. Até mesmo os problemas do futebol brasileiro parecem ter desaparecido, já que o presidente em atividade, malufista de passado e de práticas presentes, poucas críticas recebe, mesmo sem ter feito melhoria alguma para o futebol – vá lá, após dezenas de clubes desistirem, ele garantiu apoio logístico para os times da Série D –, tendo quase todos os mesmos aliados do seu antecessor.
Hoje, para quem defendia mudanças na Confederação Brasileira de... de... de... Ah, Confederação Brasileira de Futebol, parece que as que ocorreram até aqui foram piores que o previsto. Marco Pólo Del Nero acumula cargos de presidente da Fed. Paulista, representante do Brasil na Conmebol e na FIFA e acaba de assumir a vice-presidência da Região Sudeste, com votação de todo mundo – mesmo do pessoal do Rio de Janeiro, que usou o grande Zagallo para nem sequer o oficializar como candidato.
A grande “maldade” de Teixeira foi anunciada por alguns especialistas logo depois: o império pode estar pior do que já era e sem quaisquer perspectivas, ou mobilização real, para mudança – com raras e pequenas exceções.
Renúncia remunerada
Não bastassem os milhares de dólares que Teixeira acumulou durante seu mandato de 23 anos em frente a CBF, mesmo após sua renúncia ele estaria recebendo cerca de 120 mil reais por mês de seu sucessor José Maria Marin – segundo os dados da contabilidade da própria CBF.
A “mesadinha” que sai dos cofres da Confederação Brasileira de Futebol seria uma espécie de “salário” pago pela nova função de RT, que de presidente passou a ser “conselheiro especial” de José Maria Marin, mesmo “cargo” que Del Nero também acumula – e para os clubes? Nada!
Viva a impunidade
Infelizmente, não nos impressiona que mesmo depois de terem sido literalmente “descobertas” todas estas fraudes, os responsáveis continuem impunes pela justiça brasileira – há de se ver como esses recursos de propina foram, ou não, declarados ao Imposto de Renda.
Entra ano, sai ano e dirigentes esportivos continuam enriquecendo de forma ilícita com o esporte, e seguem impunes. No caso de Ricardo Teixeira, chegamos a ouvir da boca do “fala tudo” Andrés Sanchez que todos pegavam pesado com ele, que havia muitas acusações, mas nada era provado. O amigo fiel de RT pediu e foi atendido, as provas vieram, já a punição... Seguimos pacientemente aguardando que isso um dia ocorra.