Tudo começou no dia 18, antes da partida em que o Grêmio venceu o Sport, de virada, por 3 a 1. Na sede da Geral do Grêmio, maior torcida não organizada do clube, oficializou o apoio da mesma ao ganhar uma camisa e um cachecol, destacando que eles fazem a diferença. Os dirigentes da torcida teriam dito que o candidato ama a cidade do mesmo jeito que eles amam o tricolor gaúcho (argh!).
Como se “só” isso não bastasse, o texto no site do candidato já dava a dica do que viria no dia 22, antes da vitória do Internacional por 4 a 1 contra o Atlético-GO, estreia de Fernandão como técnico colorado – isso mesmo, de diretor executivo a técnico, que não fritem outro ídolo!
No documento “Fortunati é 12”, a Camisa 12 do Internacional oficializou o apoio da torcida organizada colorada, que tem cerca de 600 membros, ao candidato que é conselheiro do Grêmio. Contradição? Para quem acompanha a política brasileira e suas idas e vindas, com Lula aparecendo ao lado de Paulo Maluf, nada é de se estranhar...
No Impasse da Copa
Causava-nos certa estranheza o posicionamento passivo do então prefeito durante o impasse envolvendo Internacional e Andrade Gutierrez nas obras do Estádio Beira-Rio. Visivelmente, Fortunatti preferia o discurso ameno, parecia mesmo não querer se “queimar” com metade do Rio Grande do Sul, mesmo que isso pudesse ocasionar a perda da sede do mundial, semelhante o que ocorreu com a Copa das Confederações.
Para o “bem da cidade”, e vemos agora que também da sua candidatura, tudo acabou se resolvendo sem precisar de sua intervenção, quer dizer, imagina-se que não.
Mas é fato que esse apoio para a manutenção do Beira-Rio até onde se pôde como sede da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014 deve ter ajudado a “modificar” a cabeça dos torcedores colorados que acabaram por assinar o apoio ao candidato conselheiro do Grêmio.
Não que seja impossível um torcedor gremista votar num colorado e vice-versa, até mesmo porque política é bem maior que isso, ou deveria ser, mas imaginar que duas torcidas organizadas famosas apoiem o mesmo candidato, explicitamente torcedor de um dos clubes, é muito estranho para uma terra que preza a disputa Gre-Nal, do jornalismo esportivo às “flautas” do cotidiano.
O futebol não merece isso
Esse é mais um exemplo que o futebol, por ser evento que atrai massas, acaba sendo usado para fins pessoais. Usar as torcidas dos clubes para campanha política não é algo inovador, basta vermos que alguns presidentes de clubes brasileiros exercem também cargos públicos.
O que mais nos preocupa é saber exatamente o que o prefeito licenciado prometeu para estas agremiações em troca destes apoios? Caso eleito, o futuro prefeito ficará devendo favores para estas torcidas?
Não estamos aqui dizendo que estas organizações estão sendo vítimas, que são inocentes, mas que é uma mistura para lá de estranha, isso é. Afinal, como estas torcidas definiram que ele seria o candidato que apoiariam?
O temor destes articulistas com o apoio de ambas as torcidas é a influência que isso pode ocasionar. Na hora do eleitor escolher em quem votar, quantos deles poderão fazer a escolha por José Fortunati (não estamos aqui questionando se ele deve ou não ser o prefeito) unicamente por este receber o apoio das maiores agremiações dos dois clubes de maior torcida do Estado e não por suas propostas?
Estas torcidas que carregam no seu símbolo o nome do clube ao qual pertencem também estão se aproveitando da situação para se promover. Quantos dos integrantes destas torcidas foram consultados para promoverem o apoio? Este foi sugerido por quem?
Algumas perguntas que ficam no ar, e sabe-se lá quando teremos alguma resposta.
Candidato do clube
Em Alagoas, o Centro Sportivo Alagoano (CSA), maior campeão estadual, resolveu definir os seus próprios candidatos nas próximas eleições municipais.
Segundo o Conselho Deliberativo, os candidatos “próximos” ao clube seriam chamados para um debate e após isso ficaria definido quem poderia ter sua imagem política ligada ao time com a maior, e talvez mais apaixonada, torcida alagoana.
Para quem já teve Fernando Collor de Mello, seu filho e seu primo como presidentes do clube, dentre outros políticos, parece-nos mais uma “oficialização” do que já ocorre desde os primórdios azulinos.
Enquanto isso, os torcedores cada vez mais têm que se acostumar a ter times bons apenas em anos eleitorais e a população alagoana aos piores índices sociais do país...
Não diremos aqui que futebol e política não devem andar juntos, mas que isso ocorra de forma realmente “transparente” e que gere benefícios reais à população. Com paixão não se brinca.