Começamos pelo Palmeiras
Após o empate contra a o Flamengo, em Volta Redonda, o que já era previsto a algumas rodadas aconteceu, o Palmeiras foi rebaixado pela segunda vez à Série B do Brasileirão. Vários motivos foram colocados e expostos, mas poucos esperavam por isso neste ano.
2012 poderia ser marcado para o Verdão com o fim do tabu de campeonatos nacionais, que já durava 12 anos. O título da Copa do Brasil, que daria tranquilidade ao quase sempre problemático ambiente alviverde, acabou deixando todos tranquilos demais. Além disso, as já tradicionais brigas internas, política conturbada, ira da torcida (ué? não acabou a Mancha Verde?!), em conjunto com a demissão de um dos técnicos mais vitoriosos da história do clube. O fim de 2012 não poderia ser diferente.
Por ironia do destino, um jogador que foi o destaque palmeirense na campanha da Série B, Vagner Love, foi o autor do gol do empate do Flamengo, que praticamente rebaixou o Palmeiras. Após o resultado, somente uma derrota de outro paulista, a Portuguesa, diante do Grêmio, manteria o Palmeiras com chances de manter-se vivo por mais uma rodada. Mas houve empate no Canindé em 2x2.
No ônibus, em meio a Via Dutra, na viagem de volta para casa, os palmeirenses souberam da notícia. O Palmeiras começa 2013 sonhando com o bicampeonato da América e o bi, ou ao menos a vaga de volta, na Série B. Uma vantagem já é clara quanto aos seus possíveis adversários, o valor recebido dos direitos de transmissão da televisão não muda (cerca de R$ 70 milhões de reais).
Mas só isso não basta – considerando a “saudável” presença de dirigentes mais preocupados em reclamar das dívidas que contratar bons jogadores. Com eleições em janeiro de 2013, a Sociedade Esportiva Palmeiras precisa se reinventar (de novo, pela segunda vez após a era Parmalat) para ficar no lugar que merece, entre os grandes clubes brasileiros.
Longe dos holofotes
Em uma realidade muito diferente, bem distante dos holofotes, e qualquer tipo de mídia de massas, o Clube Esportivo Aimoré, de São Leopoldo (RS), sagrou-se Campeão da Segundona gaúcha (terceira divisão do Gauchão). Com a vitória de 2 a 0 sobre o Gaúcho de Passo Fundo, no acanhado, mas histórico, Estádio Cristo Rei, o time leopoldense confirmou o título e a vaga na divisão de acesso do Campeonato Gaúcho, com uma campanha irrepreensível (16 jogos, 12 vitórias, 2 empates e duas derrotas).
Nos dois jogos finais, o Índio Capilé fez 5 gols e não sofreu nenhum, e o fim de ano foi de alegria para sua torcida, que foi vista vestindo a camisa do Aimoré nas ruas de São Leopoldo e colocando cerca de 5 mil pessoas entre arquibancadas e barranco nas partidas finais do torneio. Após 76 anos de história, foi o primeiro título do time da região do Vale do Rio dos Sinos.
Na capital dos gaúchos
Já na capital do Rio Grande do Sul, os dois clubes “grandes” viveram momentos um pouco conturbados, embora diferentes na semana.
Do lado gremista, muita especulação quanto à renovação ou não do contrato do técnico Vanderlei Luxemburgo. A demora no anúncio e a falta de comunicação da nova diretoria com o treinador deixavam a torcida apreensiva.
Para piorar, os boatos da mídia gaúcha (essa gente é saudosa do período que se dizia “em se plantando tudo dá”) davam conta que caso não ocorresse a renovação, Luxemburgo não iria embora de Porto Alegre, apenas mudaria de endereço. A Avenida Padre Cacique seria seu destino. O técnico que mesmo sem ter ganhado sequer um título no Grêmio, caiu nas graças da torcida tricolor. No jogo contra o São Paulo no Estádio Olímpico, mais de quarenta mil pessoas pediram sua permanência. Perder o “novo técnico-ídolo” para o maior rival seria trágico.
Na quinta-feira, 22 de novembro, veio o anúncio oficial: Luxemburgo renovou contrato por mais duas temporadas. O técnico disse que a demora deu-se por conta de que agora passaria a morar oficialmente em Porto Alegre, compraria um apartamento – esperamos que mais camisetas também –, e que traria a família para o Estado. Segundo ele, as cifras (fixas) não eram o mais importante. O “Madureira” vai levar mensalmente cerca de R$ 600 mil reais, e é possível que morda uma parte razoável do prêmio dado ao vitorioso da Libertadores (4 milhões de reais caso seja campeão da América) e mais 5 milhões de premiação se vencer o Mundial de clubes. Ambos títulos que ele não tem.
No Beira- Rio, a situação é muito mais conturbada. Impressionante como um dos clubes mais vitoriosos da década passada vive um momento tão complicado. As pessoas não falam mais a mesma língua nas margens do Rio Guaíba (o estuário que a especulação imobiliária e sua associada midiática teimam em chamar de Lago). E não estamos aqui falando do sotaque portunhol dos “gringos” que jogam no lado vermelho de Porto Alegre (e olha que não são poucos).
Os grupos políticos que antes eram unidos, “racharam”. A eleição presidencial que continha três chapas foi vencida pela situação no primeiro turno, devido à cláusula de barreira de 25%, que foi atingida somente por uma das chapas, o que causou a ira de parte dos 70 mil sócios que “teriam” direito a voto no segundo turno. Resultado: Giovanni Luiggi segue no comando do clube por mais uma gestão. Porque a eleição não é direta e pronto? Sem essa de primeiro turno no colégio eleitoral? A bola não é o reflexo do país, é o Brasil piorado.
No vestiário, as coisas vão tão mal quanto na política. Mais um ídolo do passado em campo foi execrando como técnico – e quase todos imaginavam a ocorrência do desastre.
Depois de Paulo Roberto Falcão, foi a vez de Fernandão despedir-se do clube com mágoas. Com uma campanha pífia no Brasileirão, (26 jogos, 9 vitórias, 8 empates, e 9 derrotas) para os investimentos do colorado gaúcho, o ídolo e agora ex-técnico do Inter externou o que muitos especulavam: assim como na política do clube, há um “racha” entre o grupo de jogadores. As lideranças do vestiário passaram a ganhar independência ao ponto de decidir se aceitam ou não ficar no banco de reservas, jogador se negando a jogar fora de posição e, o pior, ameaçando boicotar o clube no Grenal histórico que marcará a última partida do Olímpico!
Na entrevista coletiva de despedida, após ser demitido no início da semana, em meio às lágrimas, Fernandão disse ter aprendido algumas duras lições. Que no futebol não se pode dizer a verdade, é necessário omitir fatos e jamais misturar amizade com profissionalismo. Ai, ai, mundo cão dentro e fora do vestiário. É a máxima do capital, dividir para reinar, no caso, operando no limitado universo cultural dos boleiros profissionais.
A maior surpresa da semana
Se ficássemos só nos fatos relatados acima já seria de perder o fôlego, mas a semana teve uma surpresa em seu final. No início da tarde da sexta-feira, os sites de notícia davam conta que José Maria “das Medalhas” Marín, Marco Polo Del Nero e Andrés Sánchez se reuniriam na sede da Federação Paulista de Futebol (nova sede de fato da CBF) para decidir o futuro de Mano Menezes como técnico da Seleção.
Horas depois veio a notícia que ninguém esperava nesse momento. A demissão do técnico Mano Menezes do comando da seleção brasileira caiu como uma “bomba”. Afinal, se era para cair, por que não após a campanha pífia na Copa América do ano passado ou na derrota para o México na final dos Jogos Olímpicos?
Com Mano, o time não conseguia vencer clubes top do futebol mundial. Afinal, não valem as vitórias sobre uma Argentina com jogadores que atuam apenas nos clubes hermanos e no Brasil. Os dois títulos do Superclássico das Américas eram normais neste contexto. O que não foi normal é o presidente da CBF sair de La Bombonera antes do jogo terminar. Ah, outro mistério. Porque um cartola malufista e arenista de carteirinha precisa de seguranças estrangeiros, ex-operadores de tipo SAS inglês. Porque será? Vale especular, estes guarda-costas são seus ou da FIFA? Voltando para a pindaíba boleira...
...curiosamente, a demissão vem justamente no momento em que os especialistas viam um estilo de jogo na Seleção, com um time titular praticamente feito, com dúvidas apenas no gol e na posição de centroavante. Estilo ruim por sinal, tão capenga e medíocre como o do capitão Dunga na vergonha sul-africana.
Mano veio para renovar tudo, e foi isso que fez. No início, após o fracasso na África do Sul, em 2010, Neymar, Ganso, André, Thiago Silva e David Luiz eram alguns dos nomes da nova seleção. Após a estreia com vitória, ainda em 2010, contra os EUA tudo parecia resolvido, o futebol brasileiro finalmente havia reencontrado sua "cara".
Veio 2011, a seleção começou a tropeçar contra times de melhor qualidade, (França, Argentina, Alemanha), além de uma vexatória derrota nas quartas de final da Copa América. Junto vieram as críticas da imprensa.
Mano perdeu (ou não tinha) a convicção, deixou de lado a renovação e apelou para os veteranos. Lúcio, Ronaldinho Gaúcho e Júlio Cesar foram alguns testados para comandar a garotada. Porém, a seleção continuou sem funcionar.
Em 2012, o principal teste seria a busca pelo inédito ouro olímpico, com um time promissor. Apesar de ver outros favoritos como Uruguai e Espanha ficarem na primeira fase, o time ficou refém dos gols de Leandro Damião e foi surpreendido na final contra o México. Se serviu para algo, foi para ver que o jovem Oscar poderia ser o 10, posição imaginada como sendo natural para um Ganso bem irregular.
Nos últimos amistosos em 2012, o time parecia ter encontrado o seu jogo, com vitórias sobre as fracas seleções chinesa e iraquiana, uma boa vitória sobre os japoneses – que vinham de vitória sobre a França –, e empate com o bom time colombiano, graças ao pênalti nas alturas cobrado por Neymar. Os testes não foram bons e tampouco de nível.
O melhor da demissão foi o pronunciamento do diretor de seleções, o super sincero Andrés Sánchez. Fiel escudeiro de Mano Menezes, ele disse para José Maria Marin que seu amigo estava ousando e que ele não concordava com a decisão, mas respeitava as hierarquias. Na boa, não bastasse sequer ser ouvido, ainda o cara foi lá responder as perguntas dos jornalistas sobre o assunto. “Patadas” eram mais que imaginadas – diversão garantida.
Se tudo indicava que o cargo do ex-presidente corintiano estava mais a perigo do que nunca, afinal, toda a comissão técnica foi demitida porque há o entendimento que é necessário um “novo modelo”, Sanchez já confirmou que cai fora do barco. Com toda a sua "super sinceridade", foi além, afirmando que Felipão já estaria apalavrado para assumir a Seleção.
Apesar disso, a CBF comunicou que só anunciará o novo técnico em janeiro de 2013. Dos nomes nacionais, os de sempre. Além de Felipão, Muricy Ramalho, o “novo nome de sucesso”, o técnico corintiano Tite, e a surpresa da indicação do “revolucionário estrategista” Pep Guardiola, que aparece como preferência da torcida brasileira em diversas pesquisas de opinião na internet, devido ao grande Barcelona, por ele treinado até o meio do ano, e multicampeão.
Quem quer que venha a assumir o barco, ele terá pouco tempo para mudar dentro de campo antes da Copa do Mundo FIFA 2014, e parece que seria pouco razoável crer nisso. O problema do futebol brasileiro mesmo é que ele se localiza no comando, mas não o da comissão técnica, mas o da confederação. Entretanto, para este caso, não há ninguém acima na hierarquia...
Epílogo: enquanto isso, a PF desata a Operação Durkheim e atinge, por tabela, ao vice-presidente da CBF, Marco Pólo Del Nero... Ah se a moda pega! Ah se a moda chega em outros escritórios de cartolas...