Futebol feminino reflete situação de esportes olímpicos
Daqui a pouco mais de quatro anos o Brasil terá uma das suas cidades como sede dos Jogos Olímpicos de Verão e pouco se vê, em termos gerais, ações para que o país desenvolva a prática e o desenvolvimento dos esportes olímpicos.
O futebol feminino, tratado como amador no país, acaba sendo o exemplo mais radical. Como imaginar que a versão feminina do esporte mais acompanhado tenha tantos retrocessos em termos estruturais, mesmo vivenciando a “Era Marta”? Lembram do basquete feminino? Pois bem, caminha-se pelo mesmo calvário, como sempre, mais uma vez.
Nos últimos dias de 2011, o presidente do Santos, Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro confirmou o fim do time de futsal por falta de patrocínio – o que fez Falcão ir para o Ortolândia e reacender o desejo de outras equipes grandes de (re)montar times na quadra – e também do futebol feminino, em meio ao fim do contrato estabelecido até então.
Entre idas e vindas passageiras de Marta, na folga da temporada estadunidense, as “Sereias da Vila” tinham a base da Seleção, que podiam contar com uma estrutura digna para treinamento. Sem o time, as meninas não só terão que buscar novos clubes para atuarem – como Érica, que partiu para a Coreia do Sul – como também sofrerão com “ajudas de custo” e falta de estrutura para treinos regulares.
Vale lembrar que em 2012 será realizado o segundo torneio mais importante da categoria, as Olimpíadas, em que o time feminino bateu na trave nas duas últimas edições.
A notícia vem no momento em que o Governo federal criou, através do ministro do Esporte Aldo Rebelo, uma coordenação específica para tratar da modalidade, sob liderança da ex-jogadora Michael Jackson.
Algumas empresas já entraram em contato com a diretoria santista para a manutenção da equipe, mas até agora ninguém confirmou nada sobre o assunto. O Santos afirma que teve que fazer uma grande engenharia financeira para manter o craque Neymar e pretende cortar custos de setores que não cobrirem seus gastos.
Daqui a pouco, Neymar quebra o contrato, aparece algum mecenas para pagar a multa rescisória e o Santos fica sem o dublê de quase-craque e backing vocal de cantor “sertanojo” e sem o futsal e as meninas.
Nike entra firme no mercado brasileiro
Uma das fornecedoras de material esportivo mais conhecida na atualidade, aqui no Brasil principalmente após uma CPI que recebeu sua alcunha, a Nike tenta firmar a terceira etapa de entrada no mercado local de futebol.
Se na década de 1990 teve-se o início da parceria com a CBF, que nos seus primeiros anos contava até mesmo com o direito à escolha “aleatória” de amistosos; e na década passada, o intuito de patrocinar os dois times de maior torcida do país, Flamengo e Corinthians; é a hora de ir em direção a outros centros de futebol, tendo em vista a Copa do Mundo FIFA 2014.
A próxima leva de novos uniformes, geralmente para o início do Brasileirão, contará com alterações em quatro campeões brasileiros, sendo dois deles os mais recentes campeões da Taça Santander Libertadores. Bahia, Coritiba, Internacional e Santos passam a usar o visto do lado direito com o sonho de ampliar o reconhecimento em outras partes do mundo - no caso do Peixe, as vendas, já que Pelé, Coutinho, Pepe e cia. já o fizeram reconhecido na metade do século passado.
O caso dos gaúchos tem um interesse ainda maior, com o fortalecimento da Aliança Internacional, rede global de cooperação estabelecida em setembro de 2011, inicialmente com os mexicanos do América, os estadunidenses do Chicago Fire e os espanhóis do Atlético de Madri – todos já patrocinados pela Nike. Em dezembro, ganharam a companhia de: Al Ain Sports (Emirados Árabes Unidos), Muangthong United Football Club (Tailândia), Raja Club Athletic (Marrocos), Shanghai Shenhua (China) e Besiktas (Turquia).
Sobre a Nike, o intuito é expandir ainda mais a atuação no mercado brasileiro. Cogita-se que os próximos alvos serão Vasco e Atlético-MG.
Cobranças e mais cobranças
Nem as férias de Ricardo Teixeira da CBF ou o encontro com Romário na Suíça fez com que os representantes da FIFA diminuíssem a pressão sob o Brasil. Enquanto o secretário-geral Jérôme Valcke esteve no país na última semana para se reunir com Ronaldo, Ricardo Teixeira e o ministro do Esporte Aldo Rebelo, o presidente Joseph Blatter se rasgava em elogios à Rússia.
Valcke ficou surpreso com a popularidade de Ronaldo (!) entre os trabalhadores das obras dos estádios no Brasil. Houve até promessa do Fenômeno (também do marketing) em realizar amistosos com os operários dos estádios que ficarem prontos ainda em 2012 e, quem sabe, o repasse de ingressos para alguns deles.
Dentre as obras visitadas, Valcke ficou deslumbrado com os andamentos em Fortaleza e com preocupação maior em relação a Natal. Mas a grande coisa em seu comunicado à imprensa foi o reforço da aprovação da Lei Geral da Copa, marcando até data para a assinatura oficial da presidenta Dilma Rousseff com Blatter: março.
Para Valcke, o Brasil estaria exigindo demais “só” porque conquistou cinco títulos mundiais. Entre os assuntos mais polêmicos que envolvem a LGC, o secretário-geral da FIFA não arredou o pé da venda de cerveja nos estádios – alvo de acordo oficial da CBF com Ministério Público Federal e de lei em alguns Estados. Em tempos de problemas criminais graças ao consumo de bebida num reality show, ele disse que estaríamos nos esquecendo que “só é cerveja”.
Direto da Rússia, Blatter disse que o país estava muito mais avançado para 2018 que o Brasil para 2014, retratando-se posteriormente.
As relações entre FIFA e CBF estariam estremecidas também por conta da decisão de abrir o processo dos membros do Conselho da entidade internacional que devolveram dinheiro de suborno da ISL à Justiça Suíça. Rumores davam conta de que se esses documentos vierem à tona, Teixeira abandona o barco de vez – mesmo que para algum dos seus “amigos”. O outro envolvido no caso, João Havelange, será indicado pelo Brasil para o Prêmio Nobel da Paz...
"Eles fingem que pagam e a gente finge que joga"
A famosa frase do ex-jogador Vampeta, em sua passagem pelo Flamengo no início do século, parece estar de volta à Gávea. Ronaldinho Gaúcho está bastante insatisfeito com o atraso de cinco meses de 75% do seu salário por conta da falta do contrato da Traffic com o rubro-negro carioca.
Como se não pudesse piorar, ele teria ido para o “andar errado” na preparação do clube em Londrina e levou uma mulher para a concentração. O técnico Vanderlei Luxemburgo teria pedido o seu afastamento do elenco, mas o R10 só teve uma advertência por escrito. Luxa poderia ser demitido logo após os jogos da Pré-Libertadores.
O agente do jogador, seu irmão Assis, ainda teria conversado com dirigentes do Internacional para que o dentuço voltasse a Porto Alegre – como se os gremistas já não tivessem sofrido tanto com ele no ano passado... Esse boato parece piada e de péssimo gosto!
A novela desse contrato já se arrasta há meses e nunca parece que irá se resolver. Nesta quarta-feira (25 de janeiro), o Flamengo enfrenta o Real Potosí, na altitude boliviana. Ainda não se sabe se Ronaldinho entrará em campo.
Além dele, alguns jogadores do clube já reclamaram de atrasos, entre salários e luvas, que teriam sido pagas no dia 16. No mesmo dia, o zagueiro Alex Silva não se apresentou para viajar à Bolívia por conta do problema com os salários e deverá ser negociado.
Como se a turbulência não fosse pouca, após um longo vai-e-vem, o rubro-negro ainda perdeu o meio-campo Thiago Neves para o rival Fluminense, que venceu a disputa pela compra do jogador aos árabes do Al-Hilal.
A despedida de “São Marcos”
O ano também teve a despedida de um dos grandes ídolos do futebol surgidos nas últimas décadas. O ex-goleiro Marcos anunciou a sua aposentadoria após quase duas décadas de serviços prestados ao Palmeiras – inclusive negando o Arsenal da Inglaterra para jogar a Série B – e à Seleção, onde foi destaque no último título de Copa do Mundo FIFA, em 2002.
Com a humildade e a sinceridade que o marcaram como um ídolo dentre várias torcidas do país, Marcos destacou que sempre pensou em honrar o nome da família para não aborrecer os seus pais e que a maior homenagem que poderiam fazer para ele foi ter atuado no seu clube de coração por tanto tempo.
Relações assim entre clube, torcida e imprensa em tempos de assessores para isso e para aquilo farão de Marcos eterno quando o assunto for o futebol brasileiro. Ainda diremos: “Um dia ainda existiu quem falasse para os repórteres o que todo torcedor queria dizer...”.
Voltamos!
Esta foi só uma prévia do quanto de assuntos podemos e iremos tratar na Além das Quatro Linhas ao longo de 2012. Continuaremos monitorando o andar da carruagem que nos levará à Copa do Mundo FIFA 2014, independente de promessas, e os demais assuntos que interferem diretamente no jogo, mas que ainda são pouco discutidos por quem ama o futebol, o esporte do povo que cada vez mais se distancia dele.
(Entre em contato conosco e sugira assuntos, critique nossas opiniões, enfim, ajude-nos a construir a discussão do futebol “Além das Quatro Linhas”: andderson.santos@gmail.com e dijairalemdasquatrolinhas@gmail.com)