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Coluna Além das Quatro Linhas


Profissionalizar a classe dirigente do futebol é uma boa solução?

jornalvivabrasil.com.br

Mesmo movimentando muito dinheiro, ainda há cargos amadores no futebol

28 de abril – Anderson Santos (editor) & Dijair Brilhantes

Na semana passada em uma das palestras do Ciclo de Debates “Futebol é Comunicação”, realizado em Porto Alegre, o diretor executivo de marketing do Sport Club Internacional, Jorge Avancini, levantou uma questão que merece ser debatida.

O dirigente colorado entende ser prejudicado pela falta de profissionalização na gerência esportiva. Avancini teve que pedir sua exclusão do Conselho Deliberativo para exercer a função que ocupa nos últimos anos, pois o estatuto do clube não permite conselheiros que ocupem cargo remunerado no Internacional.

Os argumentos referidos pelo dirigente são que é impossível se dedicar ao clube 24 horas por dia sem ser remunerado, porém, sob estas condições, não se deveria excluir determinados profissionais da vida política dos times que acompanham.

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A falta de profissionalismo

O futebol movimenta muito dinheiro no mundo inteiro. Para termos uma vaga ideia, a FIFA alcança lucro na ordem de bilhões de dólares, enquanto que sua representação em terras brasileiras, a CBF, chega num faturamento que se aproximou dos R$ 300 milhões em 2011.

Porém, a realidade do futebol nacional é bem diferente. De jogadores como Neymar e Ronaldinho Gaúcho, que ganham milhões de reais por mês, a outros e outras que sofrem para conseguir um salário mínimo, tod@s deveriam ter registros trabalhistas. O que não ocorre, com toda certeza, com outros membros do jogo.

Os mais visíveis são os árbitros de futebol, que entram em campo, podem ser muito decisivos para o resultado de cada partida, mas são obrigados a ter profissões paralelas, assim como os adeptos deste esporte nas primeiras décadas do século passado.

Mas o assunto da coluna de hoje são os dirigentes do futebol, os responsáveis por administrar os clubes por determinado período de tempo. De times grandes a times de menor expressão, de vez em quando surge a ideia de formatar managers para cá ou pagar um gerente de futebol.

Afinal, a falta de profissionalismo dos dirigentes é um problema histórico e aparece frequentemente. A formação de toda a diretoria em período eleitoral é com pessoas que trazem consigo como referência o fato de serem torcedores desde crianças, de famílias com longa trajetória de paixão – e, no geral, controle do poder decisório nas instituições.

É comum vermos cartolas andando ao lado de jogadores de futebol famosos, preocupando-se muitas vezes em aparecer bem em detrimento da qualidade do clube, brigando com profissionais que eles mesmos foram os responsáveis pela escolha,...

Muitos optam pela vaidade do cargo, mesmo que tenham que “tirar dinheiro do próprio bolso”, relacionando-se com atletas de fama, o que os fazem ter status e vencer obstáculos até mesmo para seguir uma carreira político-partidária.

Profissionais da gerência

Geralmente, cargos como presidente, vice-presidentes (de futebol, amador,...), diretores dos mais variados assuntos (marketing, financeiro, jurídico,...) são determinados nas eleições. A formação de chapas exige toda a descrição dos cargos, não impedindo que isso mude após a posse. É claro, variando da estrutura burocrática de cada time.

Nos últimos anos, o que mais aparece como uma forma de tratar como profissional o responsável pelo futebol é a função de gerente. Este é responsável pelas contratações, demissões, punições, afastamentos e apagar incêndios. Pagos para isso, acabam por dar um fôlego para os ocupantes de cargos eleitos – desde que queiram largar a ligação direta com o futebol.

Por conta da experiência, geralmente são ex-jogadores do esporte, casos de Fernandão (Internacional), César Sampaio (Palmeiras) e Rodrigo Caetano, atualmente no Fluminense, e um dos profissionais mais disputados no mercado após ser um dos principais responsáveis por “subir” com Grêmio e Vasco no Brasileirão.

Por profissionais na comunicação e no Marketing

Já tratamos aqui dos valores que giram em torno do futebol e, para este caso, a comunicação é fundamental para expandir as marcas e criar novos produtos que possam atrair ainda mais os bolsos dos milhões de torcedores. Ainda há muito a se caminhar nessa área, como muito bem provou a evolução do Corinthians nos últimos anos e a queda do São Paulo, o clube de vanguarda no assunto.

O que o diretor executivo de marketing do Inter colocou é que um trabalho que nem esse exige uma programação a médio e longo prazos. Não se pode imaginar, num ambiente gerencial, que se tenha um projeto que possa durar, no máximo, apenas 4 anos – no caso do Inter.

Como é cargo comissionado, um bom projeto pode ser abandonado simplesmente porque o diretor anterior não fazia parte do grupo político do que assumirá. A proposta de profissionalização poderia afastar essas possibilidades.

Os riscos

Os articulistas desta coluna entendem que existe um grande risco numa profissionalização generalizada. Remunerar dirigentes significa que estes entrarão na folha de pagamento mensal dos clubes. E como se dará a troca destes profissionais em caso de insucesso? Acaba que a decisão retorna a quem foi eleito, mas sob um modelo político “oligarca”, geralmente a cargo de quem é mais apaixonado pelo clube.

Os mesmos que remuneram a comissão técnica e jogadores, e por vezes os demite, correrão os mesmos riscos em caso de insucesso do projeto. A resposta ao tempo não estará nos contratos ou determinado ali em termos de porcentagem e expectativa de resultados, mas na pressão de dirigentes e conselheiros.

O que parece ser mais complexo é a remuneração do presidente do clube. Este é eleito de alguma forma. Ou pelo voto do associado ou pelo conselho deliberativo, em alguns casos por ambos. Retirar isso seria acabar com o próprio modelo de clubes no Brasil, o que pode interferir no tratar de forma profissional, e não emocional, os times de futebol.

Profissionalizar ou não?

O futebol, na sua normalidade, não é um mundo maravilhoso, como sonham a maior parte dos meninos que lutam para entrar nas categorias de base dos grandes clubes. São raros os que se tornam milionários jogando o esporte. Reflexo da maioria dos clubes brasileiros, que mal conseguem manter em dia a folha de pagamento do clube.

Assim, como os times do interior dos estados, fariam para pagar o salário de um dirigente remunerado? Seria esta a forma de melhorar a cartolagem do futebol tupiniquim?

Punir dirigentes irresponsáveis, fazer com que cumpram com o que foi acordado nos contratos, ainda nos parece o mais sensato. Fazer com que os homens da cartola assumam cargos somente se possuírem capacidade e tempo disponível para os mesmos.

Alguns cargos poderiam ser remunerados desde que haja verba disponível para isso. É claro que um profissional do marketing, por exemplo sendo empregado do clube, terá bem mais tempo do que aquele que “faz um favor” no time do coração, mas que tem que cuidar de sua empresa ou profissão em paralelo.

Mas será que remunerar todos os dirigentes faria com que isso mudasse?






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