A demora nos trabalhos já levou o governo a se comprometer a acelerar as obras nos 12 estádios onde a Copa será disputada. A promessa de mudar o ritmo da preparação aconteceu logo após o presidente da FIFA Joseph Blatter fazer críticas publicas ao atraso das obras.
Mas parece ter ficado só na promessa mesmo. Dos estádios que irão sediar o Mundial, onze deles estão com as obras em atraso, com grande preocupação para três. Em Natal e Curitiba as obras mal começaram e em São Paulo, após uma longa novela, elas tiveram início há uma semana.
É lamentável observar a situação em que se encontram as prometidas melhorias à sociedade, não só os estádios em si, como também as obras estruturais em cada Estado. Apesar do clamor e a preocupação para que as obras avancem os governantes parecem estar acomodados. Os governos municipais, estaduais e federal poderiam falar a “mesma língua” e entrar em sintonia para realizarmos um Mundial digno do futebol brasileiro.
E bota dinheiro público em algo gerenciado privadamente!
A promessa de não injetar dinheiro público na construção de estádios já foi por “água abaixo”. A Copa do Mundo da iniciativa privada parece estar ruindo da mesma forma que ocorreu para a realização dos Jogos Panamericanos, há quatro anos, no Rio de Janeiro, em que os gastos foram dez vezes mais do planejado com direito a algun locais sequer ficarem prontos durante o evento.
Esse detalhe é muito importante. Afinal, há pouco mais de dois anos o presidente do Comitê Organizador Local (COL), o senhor Ricardo Teixeira (o mesmo que ficará, pelo menos, 25 anos na presidência da CBF, mais que o tempo em que o país viveu sob ditadura militar) ter dito que a Copa seria toda feita com o dinheiro da iniciativa privada. Algo ratificado pelo ministro dos Esportes, Orlando Silva (PCdoB), que hoje desconversa sobre o assunto.
A três anos da realização do evento, vemos que a maior parte da verba virá de bancos governamentais (Caixa Econômica Federal e BNDES). Responsável por financiar a mobilidade urbana das 12 cidades sedes, a Caixa vai repassar cerca de R$ 6,6 bilhões aos governos estaduais e municipais. Já o BNDES investirá em torno de R$ 4,8 bilhões - R$1,2 bilhões em mobilidade urbana e R$3,6 bilhões na construção/reforma de arenas.
O prefeito de São Paulo Gilberto Kassab falou diversas vezes que a cidade não usará dinheiro público. Cumprirá a promessa o prefeito com um estádio a ainda ser construído e ampliado em relação ao que o detentor do mesmo, o SC Corinthians Paulista, planejara?
São Paulo e a ameaça de assistir o Mundial do lado de fora
Após alguns confrontos políticos, a cidade de São Paulo até agora tem uma trajetória decadente no caminho até a Copa de 2014. Após excluir o Morumbi como uma das possíveis sedes, o governo paulista juntamente com o COL escolheu o “Fielzão”, o futuro estádio do Corinthians, que será construído em Itaquera como sede do evento no Estado com maior PIB do Brasil.
Entretanto, até agora a obra pouco andou e como resultou, uma das maiores megalópoles do mundo ficará de fora da Copa das Confederações de 2013, o evento preparativo. A obra só teve início na semana passada e ainda sob a incerteza de quem bancará a ampliação para que o estádio sedie a abertura do evento.
No mês passado a poderosa FIFA chegou a dar um ultimato à cidade. O valor inicial estimado pela diretoria corintiana era de R$ 700 milhões. Entretanto o projeto foi reavaliado pela Odebrecht (construtora), para adaptá-lo a algumas exigências da FIFA, e passou a custar em torno de R$ 1,07 bilhão.
A princípio, os recursos disponíveis para construção do estádio são R$ 400 milhões financiados pelo BNDES e R$ 250 milhões garantidos pela prefeitura de São Paulo, por meio de Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento. Somando no total R$650 milhões. Contudo, para conseguir o financiamento junto ao BNDES, tanto Corinthians quanto a Odebrecht devem apresentar garantias. O que ainda não aconteceu.
Para São Paulo permanecer entre as sedes, o estádio corintiano precisa sair do papel, caso contrário a FIFA não vai hesitar em excluir a cidade da lista de sedes da Copa de 2014, que pode muito bem ser realizada em onze cidades, no lugar das doze propostas pelo joguete político que as definiu (Obs. Vale lembrar que locais com muito mais tradições no futebol foram deixados de fora. Belém, com seu Estádio OLÍMPICO, foi trocado pela Arena da Amazônia em Manaus. Além de Goiânia, com o Atlético na primeira divisão e Goiás e Vila Nova na Série B, foram escanteados por Mato Grosso, que só tem representação na Série C, com o Luverdense).
Reafirmamos uma pergunta que não cala: como uma das maiores cidades do mundo, com o maior PIB do país, com uma quantidade de clubes e divisões superior à maioria dos países do planeta, com o maior estádio particular do Brasil corre sério risco de ser coadjuvante do maior evento esportivo mundial no país em que se situa?
O sonho de Porto Alegre
Enquanto São Paulo derrapa, outros Estados estão na “corrida” para sediarem a abertura da Copa do Mundo de 2014. Após “candidaturas” de Brasília, Belo Horizonte e Salvador, foi a vez de Porto Alegre garantir o seu interesse.
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, afirmou na semana passada que vai tentar trazer a abertura da Copa de 2014 para a capítal. O problema é que o estádio Beira-Rio não terá a capacidade exigida pela FIFA para isso. A entidade exige uma arena com 70 mil lugares, mas, com a reformulação o estádio colorado, ele passará dos atuais 56 mil para 59 mil lugares, 11 mil a menos que o necessário.
Tarso também citou a nova arena do Grêmio como alternativa, a mesma está com pouco mais de 20% das obras concluídas e o fácil acesso é uma das vantagens. O estádio gremista que entrou no cronograma como campo de treinamento para o Mundial de 2014, começa a ganhar força. Como de costume em terras gaudérias, o assunto já gerou um Gre-nal nos bastidores. Mas lá também faltariam lugares para uma abertura, já que a nova casa gremista terá capacidade para 60 mil pessoas.
Mas vale lembrar que alguns problemas na obra do estádio colorado, como a exigência da FIFA na diminuição do nível do gramado, algo que inicialmente seria impossibilitado por lençois freáticos, deixaram de sobreaviso as autoridades e, especialmente, a diretoria tricolor.
A Copa sairá, mas...
E é em meio a tantas incertezas e cobranças da particular FIFA, com direito a gestão da maioria dos recursos por parte do Comitê Organizador Local, que tem Ricardo Teixeira como presidente e Joana Havelange, sua filha e neta de João Havelange, como diretora-executiva, fica a pergunta: valerá tanto a pena realizar uma Copa do Mundo, evento essencialmente privado, com tantos gastos públicos?