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Coluna Além das Quatro Linhas


Jovens, futebol e adolescência perdida


Quanto vale ou é por quilo; quanto custa investir em uma centena de meninos e retirar um ou dois para investimento futuro. A deformação da infância brasileira começa nos sonhos de jogar para transnacionais e ser uma commodity andante, móvel de valor para lavar o dinheiro digital.

1º de abril de 2009, tarde do jogo do time de Ricardo Teixeira contra a seleção peruana

Bruno Lima Rocha e Felipe Fonseca

Este singelo texto está sendo fechado na tarde em que a seleção de Ricardo Teixeira joga no Beira Rio. Mais do que um artigo, isso é uma reflexão, pensando em voz alta, e tocando no nicho sagrado da cultura de massas no Brasil. Sim, falamos das quatro linhas e da overdose sofrida pelos receptores do esporte bretão por aqui. Desde o início do profissionalismo, o futebol tem sido levado como saída para a situação de miséria de muitos garotos, tanto em nosso país como em boa parte do mundo que joga bola com os pés. O sonho se transforma em saída para a estagnação pessoal. Cada vez mais cedo os meninos são estimulados a dar o máximo de si. A prática esportiva torna-se carreira profissional, desde o início.

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Há pressões para todos os gostos. Primeiramente a expectativa dos pais, depois do clube, de empresários e procuradores, da mídia especializada, da torcida, de si próprios, e assim sucessivamente. Tudo isso quando tem apenas 15, 16 anos. Estão em pleno processo de formação psicológica e até mesmo física. A relação que envolve um horizonte de poucas perspectivas, ou o meio termo entre a glória e o limbo, ataca a formação de personalidades de gente que deveria se preocupar somente em passar de ano. Pura ilusão, não dá mais tempo para ser jovem e boleiro. Talvez nunca tenha dado.

Trazendo esse fato para a realidade do nosso país de 3º mundo, o horizonte do subdesenvolvimento se configura a partir dos garotos aspirantes a craques, em torno de um sistema de pura exploração da força de trabalho e talentos. Se a psique dos boleiros atuais, aqueles dos times da série A do brasileirão e da seleção do genro de João Havelange, é abalada, agradeça-se às formas como se implanta a ambição e a possível frustração daqueles que podem não entrar na profissão.

A verdade é dura. Em troca das canelas roxas, esse sistema cria monstros infantis, que muitas vezes não se desenvolvem nem como jogadores, nem como seres humanos. Sem infância, não há adolescência, sem o tempo para o lúdico infantil, os adultos que florescem nas quatro linhas se portam como cidadãos idiotizados. Três celular, quatro computadores portáteis, MP4s e outras quinquilharias eletrônicas, sendo portados por quase marginais becados e com pouca ou nenhuma capacidade de formar opinião sobre nenhum tema relevante. Quem podou a árvore? Fácil culpar a sociedade desigual. Além das “forças de mercado”, há que se buscar o acionar dos operadores dos mercados da bola, como “empresários”, “investidores”, “olheiros” e , por mais cruel que seja admitir isso, o papel dos pais e “responsáveis” pelas jovens promessas.

Mesmo que seja estipulada a idade mínima de 16 anos para firmar contratos profissionais, os garotos já são tratados como mercadoria antes dessa idade. São commodities que andam, comem, saem de balada e falam muita besteira. Basta observar o exemplo do argentino Lionel Messi, que com 13 anos já treinava em Barcelona, no clube homônimo da cidade. Porém este é um exemplo desportivamente “positivo”, pois Messi parece não se deixar levar pela fama, pelo dinheiro e pela pressão de atuar sempre em alto nível. No caso brasileiro, o atleta exemplar de Kaká não o isenta da cumplicidade alienada com a Igreja “Cristã” Apostólica Renascer. Lembremos do exemplo do craque ao lado e em defesa da Bispa Sônia Hernandes e do Apóstolo Estevam Hernandes, os grandes operadores da mutreta do dinheiro sumido e com a passagem da prisão em Miami. Isto sem falar no teto do templo de prosperidade do Cambuci que desabou na cabeça de uma multidão, matando 9 pessoas e ferindo outras 100 vítimas de extorsão mediante captura da fé alheia que caíra em São Paulo.

Ao contrário de Messi e Kaká, bom atletas e cidadãos incapazes de opinar sobre nada relevante, quantos exemplos negativos temos de jovens jogadores que, sendo tão ou mais idiotizados fora de campo, eram tratados como futuros Maradonas, Garrinchas, Pelés, Ronaldinhos, Kempes, Di Stefano e não vingaram nas quatro linhas? Quantas pré-estrelas do futebol mundial se perderam no caminho para a glória mundana?

Essa pergunta se faz pertinente no momento em que o mundo volta suas atenções para o garoto Neymar, do Santos, apenas apenas um exemplo. Até quando garotos como este, de apenas 17 anos, ainda em idade de terminar o Ensino Médio, serão objeto e agentes de jogatina com sua própria vida, dando mal ou péssimo exemplo para os receptores dos pacotes futebolísticos? Não seria esta a forma sofisticada de ter adolescentes obrigados a sustentar a casa vendendo bala e chiclete nas ruas? A diferença é qualitativa, no valor agregado que a sociedade dá para um piá vendendo titica industrializada no sinal e o valor absurdo que esta mesma sociedade aposta expectativas e esperanças em guris que chutam uma bola e beijam escudos de clubes, trocando de camisa a cada 6 ou 9 meses. Tivéssemos o direito a adolescência assegurado em lei e nada disso ocorreria. No Brasil, a lei, quando existe, chega atrasada ao próprio enterro.

Tanto a FIFA, quanto a CBF não fazem nada para defender os jovens jogadores. Ao contrário, as grandes entidades do futebol operam como agenciadoras de navios negreiros, profissão esta que na costa atlântica da áfrica era conhecida no século XIX como sendo “brasileiro”. Ah quando for aberta a caixa preta do clã Havelange, jogador de pólo aquático, e de Ricardo Teixeira, apostador falido da extinta Bolsa de Valores do Rio, será o mesmo efeito dos arquivos de Stálin e da revisão de Nikita Krushev a partir de 1953. Enquanto isso, até existe uma proposta de alguns clubes europeus, independente de qualquer organização, de não mais contratar jogadores estrangeiros antes dos 18 anos. Mas, se a FIFA não apertar - o que não fará - o tráfico de adolescentes para as concentrações de clubes-empresas patrocinados por transnacionais fraudulentas – como a AIG falida e seu patrocínio no Manchester United, propriedade do amigo de George Bush Pai, o empresário estadunidense Malcolm Irving Glazer.

Bruno Lima Rocha é cientista político e jornalista, professor de comunicação da Unisinos
Felipe Fonseca é acadêmico de jornalismo da Unisinos






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