No primeiro jogo da semifinal da Copa Santander Libertadores, entre Santos e Corinthians, na Vila Belmiro, a polícia proibiu qualquer tipo de provocação. De fato, as últimas mudanças no Estatuto do Torcedor acabaram por se preocupar muito mais sobre a ação dos próprios torcedores, especialmente os organizados, proibindo-os de incitar ódio aos adversários.
Entretanto, todos pensavam que se referia a ofensas morais que, diga-se de passagem, é muito comum no futebol, mesmo que não concordemos com isso. As autoridades foram além e vetaram as entrada dos mosaicos com os dizeres Santos tricampeão, relativo aos três títulos conquistados pelo time da Vila Belmiro – e que nada tem de “ofensa” direta – e quaisquer símbolos que relembrassem o “Corinthians 7x1”, na partida pelo Brasileirão de 2005.
A alegação é que isso seria uma provocação. Mas qual o problema? Alguém um dia imaginou um futebol sem provocação? Os clubes só se tornam grandes vendo os rivais vencerem. A obsessão corintiana por conquistar a Libertadores é pela “corneta” dos rivais. O time com a segunda maior torcida do Brasil há anos escuta que “não tem passaporte”, que o Mundial de Clubes (2000) foi um “torneio de verão” e que não consegue conquistar nada internacional.
Será que o mosaico da torcida alvinegra praiana, onde cita o tricampeonato do peixe no mesmo campeonato, não seria um incentivo para os corintianos, para além de uma modesta “zoação”?
Não foram os torcedores...
Ainda assim, a partida foi marcada por confrontos, mas não entre torcedores de Santos e Corinthians. A polícia, mais uma vez, resolveu chamar a atenção para si.
Quem acompanhou a partida, ou chegou a ver tal imagem nos dias seguintes, deve ter percebido que o goleiro Cássio, do Corinthians, entregou algo para o árbitro da partida. Era um capacete policial, que caiu das arquibancadas porque havia confronto entre torcedores e parte da torcida atrás do gol defendido pelo arqueiro corintiano.
A informação que temos é que um torcedor se recusou a entregar um sinalizador que havia levado “escondido” ao estádio e causou toda uma confusão, em que os policiais optaram por partir para a agressão com quem tivesse por perto.
(Será que depois de proibirem de se entrar com garrafas de água, bandeiras, instrumentos musicais, etc., haverá preocupação por algum procurador do Ministério Público em proibir que os policiais entrem com capacete, para evitar que sejam atirados no gramado?)
Um pedido de calma em La Bombonera?
Curiosamente, principalmente para o “nível” da Confederação Sul-americana de Futebol (Conmebol), a direção do Boca Juniors solicitou que os torcedores não recepcionassem o time com foguetório, no primeiro jogo da final da Libertadores, contra o Corinthians.
A ameaça da Conmebol veio por conta da utilização de sinalizadores na semifinal, contra a Universidade (Chile). As sanções vão de uma interdição do estádio a até perda de pontos da partida.
O curioso do início deste tópico fica por conta da conhecida “letargia” da entidade sul-americana para proibir atitudes assim. São vários os exemplos ao longo da história de jogadores brasileiros tendo que sair de estádios no subcontinente sob a proteção policial. Sem falar da quantidade de coisas que caem no campo.
A mesma Conmebol que quer punir os torcedores do Boca Juniors por criar a pressão enorme típica de La Bombonera é a que prefere aumentar os seus ganhos a punir jogadores com seguidos cartões amarelos no torneio.
Durante a partida, que terminou empatada em 1 a 1, ficou muito estranho perceber que se os xeneizes não puderam entrar com sinalizadores e demais fogos de artifício, os visitantes puderam usar e abusar dos mesmos - por mais que a fumaça saísse do estádio. Enfim, mais uma da série "Coisas da Conmebol".
Que poder é esse?
Uma das questões que sempre vem às nossas cabeças quando fatos como esses ocorrem é saber de onde saem essas ordens. Não estamos falando quem “assina”, mas quem tem a ideia.
No ano passado, na rodada de clássicos do Campeonato Brasileiro que fecharam o primeiro turno, foram proibidos muitos cartazes e faixas com protestos contra o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira. No mesmo campeonato, a torcida do Grêmio foi impedida de levar cartazes contra Ronaldinho Gaúcho. A justificativa, em ambos os casos, foi que o material era inflamável...
Seria esse mais um passo para a elitização do futebol, fazendo com que os torcedores não pudessem, de forma alguma, expressar qualquer tipo de pensamento?
O extremo?
Sabemos que a evolução do futebol está ocorrendo. Isso se pode creditar à evolução do país e ao rumo cada vez maior à mercantilização e à espetacularização deste esporte – embora não cheguemos nem perto de uma sociedade igualitária. Mas proibir protestos e provocações entre torcedores é negar que as pessoas possam expressar suas opiniões, ainda mais em um país que diz ser democrático – mas pelo conceito de “democracia” que se tem em países como Estados Unidos e Paraguai, com franca defesa da “imprensa” tupiniquim, duvida-se ainda mais disso...
Não somos a favor do "anti-esporte", muitas vezes praticado nos países vizinhos, onde ao longo de mais de meio século de Copa Santander Libertadores, tentaram vencer de qualquer forma, com muita provocação e manobras claras para prejudicar o adversário – como colocar o vestiário do visitante embaixo da torcida que mais faz barulho no estádio, como na Bombonera.
Neste espaço defendemos que os protestos devem seguir, assim como as provocações e a pressão extra-campo, desde que os mesmos não atinjam a integridade física e moral de ninguém. Afinal, é mais que possível que torcedores, na efetividade da palavra, sejam adversários quando seus times se enfrentam dentro de campo, mas amigos fora dele.
Se nem isso for permitido, onde poderemos gritar, reclamar, protestar e cantar?