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Coluna Além das Quatro Linhas


Coluna Além das Quatro linhas – Semana de 17 de janeiro de 2011

sempre eterno blogspot

Roberto Assis, Ronaldinho Carioca e Adriano Galliani poderiam dar aulas de interpretação para célebres canastrões da teledramaturgia brasileira. Ganharam o posto de muito global decadente ou ex-globais contratados pela Record. Que papelão!

Dijair Brilhantes & Bruno Lima Rocha


2011 começou, mas nada mudou por aqui

Esta coluna demorou a manifestar-se, mas não poderia deixar de falar do fato mais bizarro do futebol nacional das últimas décadas. A volta do “ex- craque de futebol”, atual rei do marketing Ronaldinho “Gaúcho” (ao menos no nome) durante aproximadamente um mês foi o assunto mais falado em todos os veículos de comunicação. O empresário e irmão do ex- melhor do mundo, Roberto Assis, deu aula de saliência a muitos dirigentes do futebol tupiniquim. Assis conseguiu derrubar do pedestal a cartolas ditos experientes no “ramo”, entre eles Paulo Odone (Grêmio) e Salvador Palaia (Palmeiras). Ambos confiaram na “palavra” de Assis. Quem conhece o passado dos irmãos Moreira não poderia de forma alguma se fiar apenas no que disse Assis. Em 2001 Ronaldinho se beneficiou da Lei Pelé e saiu pela porta dos fundos do estádio Olímpico para o PSG da França. Algo semelhante ocorreu com o próprio Assis no inicio da década de 90, quando ainda era jogador e forçou sua saída do Grêmio para o inexpressivo futebol suíço. Com pouco mais de 20 anos de idade Assis já dava mostras de tipo de negociação que ia levar quando passasse a representar o irmão mais novo.

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A famiglia não era só italiana

Em uma cena de causar inveja a Al Pacino e Marlon Brando, os irmãos Moreira convocaram uma coletiva que atraiu a imprensa do Brasil todo para anunciar, na presença de Adriano Galliani (dirigente do Milan e braço direito de Silvio Berlusconi) que o Gaúcho estava de saída do clube Italiano. Fato que já era dado como certo por mais de 20 dias. Enquanto isso em Porto Alegre era encarado como fato consumado pela mídia empresarial gaúcha, principalmente pela RBS - que supostamente seria um dos investidores gremistas na repatriação do R10 - a volta de Ronaldinho ao Grêmio. A presidente do C.R. Flamengo Patrícia Amorim reuniu-se com Galliani e Assis e o leilão pela marca Ronaldinho estava estabelecido! Com o apoio da empresa Traffic, de propriedade do palmeirense J Hawilla, o rubro-negro carioca acabou vencendo a disputa, e o R10 vestiu a camisa do Flamengo na última terça-feira. Detalhe, se os termos contratuais são sigilosos, é sinal para todos nos prepararmos para as surpresas do futuro.

Vale observar que um negócio envolvendo Patrícia Amorim, Paulo Odone, Salvador Palaia, J Hawila, Roberto Assis e Adriano Galliani seria sucesso nas bilheterias dos cinemas, superando clássicos como Wall Street (e Wall Street 2) e Trama Internacional – versão ficcional da história do BCCI. Quem sabe José Padilha não se interessa pelo tema?!


A mídia também fez seu “papelão”

Nesta negociação envolvendo tantas partes concorrentes, a mídia desportiva (promotora de info-entretenimento desportivo) fez um papel ridículo. O mito fundador da imprensa no capitalismo é ver o jornalista como relator e analista de fatos e tramas de interesse público. O que ocorreu foi totalmente ao contrário. Plantaram mais notas e fontismo do que soja transgênica na Bacia do Rio Uruguai. Havia jornalista torcendo para que Ronaldinho jogasse no clube A ou B, produzindo matérias sem cabimento e gerando idolatria em excesso. A afiliada RBS - que só depois do acerto de Ronaldinho com o Flamengo denunciou as irregularidades do instituto Ronaldinho em Porto Alegre - entrou em colisão com a madrinha Globo. A primeira queria o gaúcho no Grêmio, a segunda o queria no Flamengo.

Para quem supõe que exageramos, convidamos a usar a internet e recorrer às manchetes dos dias anteriores do anúncio da contratação no Rio. É difícil para os defensores da notícia como forma-mercadoria e do esporte apenas como entretenimento afirmar a sua “seriedade” na cobertura jornalística, quando jornalismo foi o que não houve na cobertura. Sabe-se que o tal do interesse público acima das metas empresariais é papo para boi dormir. Mas dessa vez, as chefias do esporte deixaram a discrição de lado e foram para as cabeças em defesa dos interesses de seus patrões.

Como se não bastasse todo o circo armado em torno da volta de Ronaldinho ao país, o dia do anúncio oficial foi mais um absurdo. A “entrevista” coletiva do Gaúcho foi realizada com perguntas previamente enviadas ao assessor de imprensa do Flamengo. O mais impressionante foi os jornalistas aceitarem tal absurdo. Nem tentativa de boicote houve.

O “craque” respondeu somente perguntas do tipo “o que sentiu ao ver a recepção da torcida?” Depois esses caras enchem a boca para gritar contra a “censura”. Por favor, nos preservem desta chanchada, o povo merece mais que isso.


Começou o que importa

A bola voltou a rolar Brasil a fora. Além do Gauchão, começaram os campeonatos Paulista, Catarinense, Baiano e Cearense. Com mesmo (baixo) nível técnico de sempre, mas se mantém uma cultura do futebol local. Ressaltamos apenas que as fórmulas precisam ser revistas. Os estaduais não podem ser uma espécie de estorvo, e sim vistos como um teste para as competições mais fortes.

Dijair Brilhantes é estudante de jornalismo e Bruno Lima Rocha é editor de Estratégia & Análise






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