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Coluna Além das Quatro Linhas


Coluna Além das Quatro Linhas – semana de 06 de setembro de 2014

diariodenoticias

É urgente levantar a bandeira do anti-racismo nos estádios de futebol. O país só encontrará a si mesmo quando compreender que todo brasileiro é afrocentrado.

PARA DIZER NÃO AO RACISMO NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL, COMBATER A HIPOCRISIA DA CARTOLAGEM E REPUDIAR O SHOW-JORNALISMO DAS TELEVISÕES.

Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha

 

Esta coluna e seus autores entendem que o caso das ofensas racistas ocorridas na Arena do Grêmio (ou da OAS?) em 28/08/14 está servindo para dar exemplo e abrir um precedente no Brasil. As reflexões abaixo não festejam o STJD – temos memória e sabemos como opera a “justiça” da cartolagem – e toda forma de tapetão. Está na hora de gritar um basta para esta cultura da demência nas canchas de futebol onde, por uma mágica reacionária, parece que tudo de horroroso é permitido quando se pisa num estádio. Nada é mais incoerente do que o racismo no futebol brasileiro. Jogamos como brasileiros porque somos uma sociedade afro-descendente. Não há Brasil sem África e não há brasilidade sem africanidade. Em todos os campos, com maior ou menor incidência. Na bola, o futebol brasileiro 100% africanidade. 

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Por tudo isso, rogamos aos torcedores que parem de entoar cânticos tradicionais com fundo racista, mesmo quando tais estereótipos são reivindicados pelas torcidas ofendidas.

 

Do racismo à hipocrisia – avaliando o caso na Arena pelo ponto de vista da agremiação futebolística

 

Estamos diante do mais triste capítulo da historia dos 111 anos Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Os atos de injúria racial sofridas pelo goleiro Aranha, do Santos, no dia 28 de agosto de 2014, em partida válida pela Copa do Brasil, decretaram a eliminação do clube da competição. Por cinco votos a zero, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva baseou-se no artigo 243-G do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva): “praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”.

 

A decisão, do ponto de vista da justiça desportiva, é sim muito questionável. Não há como discutir com as imagens, isso seria pouco inteligente. O problema está na comissão julgadora. O STJD nunca passou credibilidade para julgar tema algum, quanto mais um caso grave como o ocorrido na cancha gremista. Apenas para citar um caso absurdo, o Internacional penou diante de decisões controversas do mesmo foro quando do caso da compra de resultados, quando Gibão roubou o campeonato de 2005 e Zveiter melou tudo.

 

Voltando ao caso de racismo na Arena, vale observar que o critério utilizado para excluir o clube da competição parece não ter ficado nítido. Se o clube identificou os “agressores”, entregou os nomes para as autoridades, qual a parcela de culpa da agremiação? Neste caso o trabalho de monitoramento acabou sendo em vão. Além da exclusão da competição o tricolor gaúcho terá que pagar multa de 50 mil reais, valor irrisório para um clube do tamanho do Grêmio. Os torcedores identificados estão impedidos de frequentar qualquer estádio no Brasil por 720 dias. Aí está o grande problema, o mais prejudicado é a instituição Grêmio.

 

Como o MP vai fiscalizar os culpados? Torcedores que teriam que se apresentar em delegacias nos dias de jogos, como pena após envolverem-se em confusões nas praças esportivas não fazem. E permanecem impunes. Alguém acha que isso servirá de exemplo para outros torcedores ou clubes? Temos quase a certeza que não. Como disse o presidente do próprio Grêmio, Fábio Koff, se a decisão acabar com o racismo, o Grêmio sai feliz.

 

Casos semelhantes rondam o futebol e o próprio Grêmio.  Em março, o volante Arouca, do Santos, também foi alvo de ofensas racistas em um jogo contra o Mogi Mirim, pelo Campeonato Paulista. Em julgamento, no Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo, o Mogi Mirim foi punido a pagar R$ 50 mil de multa por causa do episódio de racismo.

 

O ex –árbitro, agora comentarista, Márcio Chagas da Silva sofreu com insultos racistas da torcida do Esportivo de Bento Gonçalves. Durante o jogo contra o Veranópolis,em março deste ano, alguns torcedores o insultaram e ainda atacaram seu carro, deixando bananas em cima do mesmo. O Esportivo (RS), inicialmente perdeu nove pontos na tabela do Campeonato Gaúcho, mas depois conseguiu reduzir a pena para a perda de apenas três pontos. No âmbito judicial, o inquérito policial aberto para investigar o caso acabou sem indiciamentos.

 

No Gre-nal válido pelo mesmo campeonato, o zagueiro do Internacional, Paulão sofreu injuria racial, também acabou com o Grêmio apenas multado em R$ 80 mil pelo Tribunal de Justiça Desportiva pelo insulto de seu torcedor.

 

O termo macaco faz parte de uma historia centenária do clássico Gre-nal, há várias versões que tentam explicar a origem, mas nenhum oficial. Está na hora de mudar essa cultura, não há necessidade de continuar usando termos que podem ser interpretativos.

 

Músicas com conteúdo homofóbico que incitam a violência ou ofende alguma classe também serão investigadas pelo Tribunal de Justiça Desportiva, ou prevalecerá a hipocrisia? Afinal isso também se enquadra no Art.243-G do Código de Justiça Desportiva. 

 

O Circo midiático 

 

A mídia tupiniquim parece não ter limites mesmo. A exposição midiática dada a “torcedora” que ofendeu o goleiro santista é assustadora. Defender ou acusar não é papel da mídia. O canal ESPN -  muito elogiado por esta coluna pela equipe de jornalistas que ali atuam - repetiu a imagem com a face da menina inúmeras vezes. Tudo pela audiência. Minutos após o acontecido, as redes sociais da “torcedora” estavam contaminadas de comentários ofensivos tão graves quanto o que a mesma cometeu dentro da Arena. O linchamento popular foi elevado às alturas pelos canais de televisão. A rede de televisão que possuía a imagem deveria ter pego a mesma e entregue as autoridades.

 

O sensacionalismo irresponsável em troca da audiência foi revoltante. Os fãs dos jornalismo Rachel Sherazade agradecem. A torcedora denunciada teve a casa apedrejada (por um vizinho), e foi afastada do emprego. Se algo mais grave acontecesse contra a vida da ré quem seria o responsável? O show midiático não serve de nada na luta contra preconceitos. Os veículos de comunicação deveriam dar muito mais espaço para campanha contra as discriminações de que este tipo de cobertura. Muito menos vender camisas de grife com mensagens contra o preconceito como fez o apresentador marqueteiro Luciano Huck, no episódio Daniel Alves. O espetáculo proporcionado pelos veículos de comunicação em frente à delegacia onde a ré foi prestar esclarecimentos foi digno de Hollywood, o valor-notícia do episódio ficou em segundo plano. 

 

Combatendo as injustiças simbólicas e a covardia estrutural

 

Os torcedores gremistas que usam termos racistas para ofender jogadores adversários sabem quem foi Antunes, Alcino, Paulo Isidoro, Dener entre outros? Sabem o significado da estrela de ouro na bandeira do Grêmio? Não neguem essa história e respeitem a memória de Everaldo.

 

É um absurdo associar a paixão tricolor rio-grandense com racismo. Tamanha irresponsabilidade foi propalada pela mídia brasileira, a mesma que contemporiza com a gestão de José Maria Marin, a mesma que amaciava com Ricardo Teixeira e que considera João Havelange um “grande brasileiro”.

 

No jogo contra o Santos, nada disso teria acontecido se o próprio elenco gremista, comandado por Zé Roberto, fosse para o meio de campo e abandonasse a partida por W.O. Tinham de pegar o microfone e através do sistema de som do estádio, explicar porque se recusavam a seguir na partida.

 

Esperamos que a decisão do STJD de eliminar o Grêmio da Copa do Brasil  abra um precedente para ser o início  do  fim dos cânticos racistas nos estádios brasileiros. Como o racismo não se combate apenas com decisões judiciais, esperamos que a massa de negros jogadores de futebol comece a reagir com mais veemência, mesmo quando a imbecilidade parta de sua própria torcida.

 

SER RACISTA E BRASILEIRO É ODIAR A SI MESMO.

 






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