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ISSN 0033-1983
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Coluna Além das Quatro Linhas
A metáfora da cartolagem brasileira (?)
| Arivaldo Maia
José María Marín estava cotado para substituir Ricardo Teixeira, abrindo uma cunha entre este e Andrés Sánchez, possibilitando que a velha guarda da cartolagem se veja representada diante de um trator empresarial e produtor de polêmicas como Andrés. Será que depois do episódio da medalha no bolso o velho arenista segue sendo uma alternativa para o reinado Teixeira?
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02 de fevereiro de 2012 – Anderson Santos (editor), Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha
Até pouco tempo, a cartolagem brasileira era marcada pela malandragem que nossos jogadores apresentam dentro de campo: drible de corpo e gingas suficientes para se manterem no poder e, “ninguém” sabe como, para conseguir sair com mais dinheiro do que entrou, mesmo se tratando de trabalho “para o bem dos clubes” e do futebol. Cara de pau, cinismo, vínculos nada justificáveis, mas um tom meio cafona e cantinflesco, o cartola era a alma gêmea do banqueiro do bicho e do coronel da política, isto quando a pessoa física não se mesclava entre estes três personagens, criando a síntese do “atraso”, fazendo com que os poucos críticos de nosso futebol afirmassem ser necessário um choque de capitalismo! Idos tempos...
Será que era só malandragem? No dia 25, final da Copa São Paulo sub-18 e todas as câmeras flagram o vice-presidente da CBF para a Região Sudeste colocando uma medalha no bolso. Começou “bem” o ano para o futebol brasileiro. Como se fala na gíria dos boleiros: jogador não deve atuar fora de suas características... enviar imprimir Todo começo do ano é do mesmo jeito. Enquanto os grandes clubes retornam das férias, as “promessas de craque” entram em campo no maior torneio de base do país: a Copa São Paulo. Cada vez mais inchado, o torneio foi transformado em “celeiro para empresários”, com 96 clubes de quase todo o Brasil – menos Roraima que mal consegue fazer torneios profissionais, imagina amadores. Vale registrar que a Copinha já foi algo de encher os olhos, sem equipes montadas às pressas por intermediários querendo vender guris mal saídos da adolescência para qualquer time que eles tenham de tirar passaporte.
No último dia 25 (de janeiro), data do aniversário da cidade de São Paulo de Piratininga, os maiores campeões da Copinha entraram em campo para a decisão. Corinthians e Fluminense protagonizaram um bom jogo, vencido pelos paulistas com dois gols de cabeça do zagueiro/capitão Antônio Carlos, de virada, por 2x1.
O “Timãozinho” fez uma campanha perfeita, vencendo os 8 jogos disputados, apesar de o próprio (agora) ex-presidente corintiano, Andrés Sánchez, ter dito que não investiu tanto na base. Em setembro, a revista Placar – que dá lampejos dos seus áureos tempos – fez matéria destrinchando a falta de investimento no setor, especialmente após as obras para o estádio do clube, no local em que a base treinava.
O goleiro corintiano Matheus deu provas da raça do clube ao ficar vários minutos machucado em campo, após choque com jogador adversário. Na hora da comemoração, ele seria o último a receber a medalha, carregado por alguém da comissão técnica, mas não havia mais medalha...
Como a medalha desapareceu?
Minutos depois, a ex-Miss Brasil e jornalista Renata Fan (ai, ai,ai....os efeitos que Fan e cia. Fazem nas salas de aula das faculdades de comunicação são inenarráveis; pululando a cabeça das promessas de coleguinhas mais atraentes, é o efeito Fátima-Patrícia na bola), e seus comentaristas do programa da tarde na Band, mostravam onde ela sumiu. Como o futebol brasileiro não pode ficar somente dentro das quatro linhas, eis que ressurge um “personagem vilão”: José Maria Marín resolveu premiar-se e colocou uma das medalhas no bolso.
Já tínhamos visto colocar o jogo no bolso, malas pretas e brancas circulando, ameaças de roubo, mas nunca, nunca mesmo, de forma literal e real. Uma imagem captada pela TV Bandeirantes mostra quando o presidente em exercício da CBF faz isso.
A Federação Paulista de Futebol reparou o “erro” e enviou outra medalha ao goleiro corintiano Matheus. Em nota, a FPF nega o roubo e diz que houve um erro na contagem das medalhas, mas não explica o porquê Marín ficar com uma delas. Será que ele sofre de cleptomania?
Depois, ele explicou que a FPF teria dado uma das medalhas de campeão e ele teria pego naquela hora para não causa estranheza (?!). Já vimos medalhas para árbitros em finais de torneios importantes, mas para dirigentes? Por que o presidente da Federação não pegou a sua então? Se a competição dos cartolas for outra, como por exemplo, índices de escândalos com projeção internacional, o Brasil seria sempre campeão do mundo!
Quem é José María Marín?
José María Marín é formado em direito (e pela USP!), foi deputado estadual e vereador, além de governador do estado de São Paulo por dez meses na década 80, substituindo Paulo Salim Maluf. Ambos eram (e são arenistas de carteirinha, típicos representantes de São Paulo, reproduzindo a mentalidade do vale tudo político-empresarial) que saíra do Palácio dos Bandeirantes para concorrer ao nobre cargo de deputado federal pelo PDS (nome dado para a Arena após a reorganização partidária promovida por Golbery na Casa Civil de Figueiredo). Por ironia da história – e tristeza do povo brasileiro – Maluf segue deputado e Marín ocupa cargo relevante na cartolagem brasileira.
Antes, José Maria fora jogador de futebol do São Paulo, na década de 1950, clube que viria presidir décadas depois. Após o fim da ditadura militar, sua carreira política foi perdendo espaço, candidatou-se ao senado pelo PFL em 1986, mas conseguiu apenas o quarto lugar. Atualmente é filiado ao PTB (partido base do governo, assim como um terço da Arena histórica, hoje PP, e outro terço em cima do muro, o PSD).
Como a carreira política não ia bem, Marín resolveu investir na política esportiva. Presidiu a Federação Paulista nos anos 80 e foi chefe da delegação que disputou a Copa do Mundo de 1986, no México – a mesma que Octávio Pinto Magalhães admitiu ter pago dirigentes e até suas esposas para assistirem. Naquela Copa, o país do gigante adormecido apresenta ao universo um personagem “amigo” de Marin, Nabi Abi Chedid (este último teve a proeza de ser deputado estadual pela legenda de Plínio Salgado – PRP -, passando após para a Arena, sempre a Arena). Marín tem estirpe, e é essa que estamos narrando...
Ele ressuscita, reorienta-se, aproximando-se do clã Havelange-Teixeira. O cartola de 79 anos substituiu recentemente Ricardo Teixeira na presidência da CBF, quando este resolveu tirar uma licença do cargo por 45 dias, após um ano de 2011 bem movimentado, com várias ameaças e boatos até de sua retirada em definitivo do cargo.
Como se pode perceber pelo seu recente substituto, parece que precisamos ainda mais para mudar o futebol brasileiro, não bastando que Teixeira saia do cargo que ocupa – afinal, alguém acredita que o tirarão? - há mais de 22 anos.
(Entre em contato com a coluna e ajude-nos a desvendar os bastidores e as estruturas de poder do futebol profissional e dos manda-chuvas do Brasil Olímpico que não tem esporte de base. Escreva, colabore, critique, sugira, participe através dos e-mails andderson.santos@gmail.com e dijairalemdasquatrolinhas@gmail.com)
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