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Coluna Além das Quatro Linhas


“Para a felicidade geral da nação, eu fui!”

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Nada de "rei" deposto. Teixeira sai com seus milhões e coloca sucessor no lugar

13 de março de 2012 – Anderson Santos (editor), Dijair Brilhantes & Bruno Lima Rocha

Aconteceu o que quase todos desejávamos, Ricardo Terra Teixeira renunciou ao cargo de presidente da CBF após longos 23 anos, período que podemos chamar de a maior ditadura da história brasileira – já que a militar durou 21 anos (1964-1985). Vale reforçar, estes autores esperariam que o rei RT fosse deposto, o que não foi o caso.

A licença médica de 60 dias tirada por Ele nos dava a impressão que a renúncia seria questão de tempo. Estrategicamente, “Mr. Teixeira” articulava-se nos bastidores para deixar o cargo, dividindo com outras pessoas o seu poder na entidade. Após a ameaça da renúncia nas vésperas do carnaval, o que acabou não se confirmando naquele momento, parecia que a poeira havia baixado, mas só parecia.

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Na quinta-feira (08), o “anúncio” da licença veio através de seu porta-voz oficial entre os presidentes das federações, Marco Polo del Nero (São Paulo). O cartola da terra da garoa deixou dúvidas sobre até quando seria a licença médica, algo que o e-mail mandado aos presidentes não dizia. Não dizia por que o futebol seria agraciado com seu derradeiro afastamento.

Óbvio que o acúmulo de denúncias e o fato dele ter subestimado a chiadeira da “imprensa que dá traço” (e dos independentes da web, como esta coluna se insere); perder a relação umbilical com Joseph Blatter – identificando-o como adversário do cartola-mor da FIFA - foi derrubando as barreiras construídas em frente ao castelo de Teixeira, mas não foi isso que o derrubou. Ele saiu!

Fritou muito desde aquela matéria da jornalista Daniela Pinheiro, em julho de 2011 na revista Piauí; somando-se ao anúncio de Blatter, após a confirmação de Andrew Jennings na BBC, de que abriria os nomes do escândalo de propinas da empresa de marketing ISL; e à denúncia, com direito à matéria no Jornal Nacional, do caso Alianto (Brasil X Portugal, em Brasília, em 2008).

Mas ele não saiu por ter sido julgado, e sim por vontade própria, com o acúmulo das denúncias somadas aos problemas de saúde e familiares.

Atenção, atenção: Zorro é preso pelo Sargento Garcia!

Quando surgiram os boatos no mês passado sobre a renúncia de Ricardo Teixeira, o super sincero ex-presidente corintiano Andrés Sánchez declarou que o seu, agora, ex-chefe, só sairia do comando da CBF no dia em que o Sargento Garcia prendesse o Zorro.

Ou Andrés equivocou-se ou estes articulistas não foram informados da mudança na tradicional história, com a prisão do personagem. O fato é que ao menos deste senhor o futebol brasileiro está livre. E Sánchez mais do que nunca sente-se ameaçado do cargo de diretor de seleções que ganhou do amigo Teixeira, já que está num lugar em que o palmeirense Del Nero e o são-paulino Marin passam a ter maior poder de decisão. Isso sem contar que, por relações cruzadas, Sánchez – o mais sincero – não tem raízes no malufismo e sim na ala direita do PT de São Paulo.

Vitória do governo

Esta coluna nunca teve o mínimo interesse em defender governo, seja ele estadual ou federal, muito pelo contrário. Mas é evidente que a presidenta Dilma Rousseff tem um papel fundamental na saída do comandante da CBF.

Desde que assumiu a presidência do Brasil, Dilma deixava claro que não concordava com as maneiras que Teixeira administrava o futebol. Por diversas vezes fez críticas ao agora ex-presidente da CBF. Na cerimônia de sorteio dos grupos das eliminatórias para a Copa, realizada no Rio de Janeiro, a presidenta negou-se a ficar no mesmo espaço de Teixeira, preferindo a companhia do “Rei” Pelé – eterno amigo-inimigo de RT –, o qual ela mesma nomeou embaixador da Copa.

Caiu de pé

Com lágrimas correndo nos olhos destes autores, vai um trecho da emocionante carta lida por José Maria Marin enquanto Ricardo Teixeira já se encontrava, com todos os seus milhões em contas estadunidenses – quiçá em outros paraísos –, em Boca Ratón com a família:

"Presidir paixões não é uma tarefa fácil. Futebol em nosso país é associado a duas imagens: talento e desorganização. Quando ganhamos, exaltam o talento. Quando perdemos, a desorganização. Fiz nesses anos o que estava ao meu alcance, sacrificando a saúde. Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas vitórias. Deixo definitivamente a presidência da CBF com a sensação de dever cumprido".

Um dito popular diria que Ricardo Teixeira caiu “feito gato”, pois caiu de pé. Não acreditamos que o ex-presidente da CBF saiu por baixo. Um homem que conseguiu dobrar seu patrimônio mesmo abandonando aos 41 anos o mundo do capital financeiro para assumir uma entidade de futebol tão pobre quanto era a CBF em 1989 não pode ser perdedor...

Isso porque ainda não contamos com os milhões supostamente recebidos – alguns deles devolvidos – no caso da propina com a ISL, empresa que movia bilhões em direitos de transmissão de tudo que se referia à imagem da FIFA e congêneres.

Ele já se encontra numa mansão num paraíso litorâneo da Florida (EUA) após ter vendido tudo o que tinha no Brasil e se mudado de mala, cuia, família e pertences para terras ianques. Dificilmente responderá pelos seus atos. Se formos falar de preservação de sua imagem pública, bom, esse não é exatamente um assunto que preocupa Teixeira, sua biografia mostra isso.

A carreira

Justiça seja feita, verdade seja dita. Apontado pelo genro João Havelange, que viu seu indicado perder a eleição anterior para Octávio Pinto Guimarães e Nabid Abi Chedid, Teixeira assumiu a Seleção numa péssima situação organizacional e financeira, em que os cartolas oligarcas faziam e desfaziam. Como cão de guarda, trouxe o professor luso-brasileiro do avô do Ali Babá: o então vice-presidente do Vasco, Eurico Miranda.

Após o desastre com Lazaroni em 1990, veio o paraíso de dois títulos mundiais depois de um longo jejum, em 1994 e 2002. No entreato, conseguira um vice-campeonato, em 1998, cuja final controversa muito prejudicaria sua imagem.

Sejamos francos, foi a derrota acachapante para a França que provocou dois CPIs, uma na Câmara e outra no Senado. Aberta a janela de oportunidade, alguns parlamentares caíram babando sobre a imagem de Mr. Teixeira. Só não contavam com a força da bancada da bola.

A CPI CBF-Nike, da Câmara, sob a presidência do atual ministro do Esporte Aldo Rebelo (PCdoB/SP) conseguiu chegar ao fim, indicando mais de dez processos contra Teixeira, que acabaram prescrevendo conforme o tempo graças às relações políticas que ele tinha – de deputados a juízes. No final, não puniram por manobra dos cartolas parlamentares; ainda foi editado um livro pela Casa Amarela, livro esse proibido de circular e com edição apreendida.

Ainda assim, o desastre do período Leão somado ao auge da “Família Scolari” colocou mais fôlego ao mandatário da CBF. Deitado em berço esplêndido, aproveitou para espetacularizar a Seleção em 2006, com direito à preparação aberta na Suíça. Em 2010, fez o inverso, dando corda para que Dunga trancafiasse os jogadores – e, até mesmo, brigasse com a Globo. A maré virou, colecionando desastres.

Se nas vitórias, ele acompanhou a delegação em visita aos presidentes da República, ao final das derrotas, a culpa sempre era dos jogadores, como afirmou Ronaldo após 2006. O mesmo garoto-propaganda do Corinthians que foi aproximado para o Comitê Organizador Local da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014 no ano passado.

Ainda assim, entre variados títulos nestes 23 anos, entre categorias de base, Copas Américas e das Confederações e da Copa do Mundo FIFA, com direito à ampliação de 2 para 10 patrocinadores e saneamento de contas da CBF, a nossa avaliação é que o mal foi maior.

Os fracassos dele foram, na verdade, fracassos da sociedade brasileira, em que, mais uma vez, viu-se alguém ser acusado de várias crimes sem sequer ter investigação conclusiva sobre ele. É a imagem do futebol brasileiro que está em jogo, pois ao invés de ser lembrado por Pelés, Garrinchas, Zicos, Romários e Ronaldos, também é lembrado com a ligação a supostos crimes.

O Sucessor

A sucessão ao cargo de presidente da CBF ainda vai dar muito “pano pra manga”, todos querem ocupar o cargo. Provisoriamente assumiu José Maria Marin (o “ganhador” da medalha da Copa São Paulo sub-18 no início deste ano) por ser o vice-presidente mais antigo.

Pouco deve mudar, além da saída de RT e todos os seus aliados nos mais diversos ramos, que refletiam em torno dele um poderio inimaginável. A ordem é “seguir” o que estava sendo feito. Então, tenhamos pena dos clubes menores e do futebol feminino, que cada vez menos conseguem se sustentar e são incentivados a isso...

Mas, não há consenso na cartolagem, algumas federações, dentre elas a gaúcha, articulam-se para convocar uma assembléia, visando tentar uma nova eleição. Inclusive, os presidentes das federações gaúcha, mineira, carioca e baiana não foram convidados para uma reunião antes da entrevista coletiva de Marin.

Enquanto isso o futebol brasileiro segue indefinido, nas aparências ao menos. Até que alguém diga o contrário, o mandato do arenista encerra em 2015. Se não for derrubado, este senhor (o Zé da Medalha) – cujo pedigree implica haver assumido o governo de São Paulo na década de 1980 no lugar de Paulo Salim Maluf (!) e ser amigo do banqueiro especulador Naji Nahas -, estará no principal posto de futebol no país.

Isto mesmo, enquanto no “país do futebol” o principal posto for o de presidente da CBF, entidade eleita por federações e clubes totalmente dependentes, o futuro não será tão belo quanto um golaço de Neymar ou de Messi. Continuamos na torcida e incentivando os torcedores, estes sim deveriam ser os astros eternos deste esporte.

Afinal, saem jogadores, técnicos, dirigentes e até o Ricardo Teixeira, mas é o torcedor que sofre diariamente com os desmandos de quem comanda a paixão nacional, reflexo da sociedade brasileira!

(Para quem quiser sugerir um nome que pudesse ser uma real alternativa para comandar o futebol no Brasil, ou achar que escrevemos muita besteira, entre em contato através dos e-mails andderson.santos@gmail.com e dijairalemdasquatrolinhas@gmail.com)






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