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ISSN 0033-1983
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Coluna Além das Quatro Linhas
O mundo em preto e branco
| Estadão
The Favela is Here! Perfeito, síntese do curintia para além das marcas e relações promíscuas com o governo de turno e a nave mãe televisiva
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23 de dezembro de 2012, por Dijair Brilhantes, Anderson Santos (editor) e Bruno Lima Rocha
Vivemos na era da TV digital, do surgimento de diversas plataformas midiáticas, mas de repente o mundo ficou preto e branco. Ao menos o mundo do futebol. O dia 16 de dezembro ficará marcado na história do violento esporte bretão, principalmente na memória do torcedor corintiano. O Sport Club Corinthians Paulista conquistou o Campeonato Mundial de Clubes da FIFA.
O time do Parque São Jorge viajou ao Japão decidido a voltar com o caneco. A disciplina tática dos comandados do técnico Tite deixava claro o quanto o grupo corintiano havia se preparado para a competição, e seis anos depois (o último havia sido o Internacional em 2006) o título volta ao Brasil.
Em campo com mais um gol do “artilheiro” Paolo Guerrero, que já havia feito o da vitória na semifinal, derrotou o poderoso milionário Chelsea, a lavanderia inglesa de Roman Abramovich da Inglaterra. enviar imprimir Desejo inexplicável
Talvez grande parte de nossos leitores irá discordar de nossa opinião. Mas não nos parece compreensível este desejo inexplicável de brasileiros “secando” o Corinthians. Um palmeirense, que é o caso de um dos autores desta coluna, torcer contra o rival, sim, é uma obviedade; mas o resto do Brasil? Por quê? Seria mais óbvio torcer pelo futebol tupiniquim.
Os motivos apresentados pelos secadores são de que o Corinthians é favorecido pela CBF, que é aliado da Globo (verdade), que seus dirigentes não são dos mais honestos – e como o Flamengo há décadas não decide nada internacional, não dá para fazer comparação se ocorreria o mesmo.
Esperar honestidade no futebol é quase como sonhar com um mundo ideal (ou aquela piada infame de encontrar a virgindade na zona; mas lá a virtude se encontra, já entre a cartolagem ô coisa rara...). Concordamos com as críticas feitas aos cartolas corintianos, mas temos certeza que estes não são os únicos (seu comportamento representa o padrão). Quase todos os “dirigentes” do futebol brasileiro (remunerados ou não) têm relações com pessoas “mal” vistas no meio dos negócios. Poderíamos nomear diversos dirigentes supostamente envolvidos com algum esquema ilegal (tipo aquele investidor preso pela PF no Sul, nome este não divulgado pela muito bem comportada mídia do pago).
Achar que o Corinthians e seus cartolas são o único problema do futebol brasileiro, e por isso torcer para que tudo dê errado pelas bandas do Parque São Jorge nos parece um grande equívoco.
No Rio Grande do Sul, o ódio que a parte vermelha do estado tem do Corinthians se dá pelo Campeonato Brasileiro de 2005. Para quem não se lembra, foram anulados onze jogos do campeonato, devido a uma manipulação de resultados comandada pelo ex-árbitro Edilson Pereira de Carvalho – e que não levou, até hoje, ninguém para a cadeia. Era o reino de Gibão, coroado por Luiz Zveiter e o laranjal de Boris Berezovsky!
O presidente colorado na época, Fernando Carvalho chegou a supor que a parceira corintiana MSI teria comprado o campeonato. O torcedor acabou “comprando” a “briga” de Carvalho. O mesmo Fernando Carvalho, conforme um jornalista gaúcho encontrou-se com Kia Joorabichian (representante da MSI) em Londres no ano passado, durante a final da Liga dos Campeões. Talvez o cartola colorado não sinta o mesmo rancor que os torcedores. Um homem de bombachas poderia tê-lo nocauteado, ou dado de relho no meio da fuça. O pilantra merecia, ah se merecia!
Em compensação, o presidente do Corinthians da época, o não saudoso Alberto Dualib, pouco tempo depois teria dito que aquele título deveria ter sido do Inter. Águas passadas? Não, além de Oscar no Chelsea, esse passado recente foi levado em conta pelos colorados.
Do fracasso ao topo do mundo
O titulo conquistado na terra do sol nascente coroou a meteórica recuperação do alvinegro paulista. No final de 2007, o Corinthians foi rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro (resta esperança palestrina para 2013 por tanto!). Ainda durante aquele torneio, Alberto Dualib foi afastado do clube após muitos anos como presidente. No lugar, assumiu um ex-parceiro (fundamental para a parceria com a MSI), Andrés Navarro Sanchez (...mais do mesmo, com a exceção do fator R9 e sua controladora, a WPP, transnacional de relações públicas e publicidade).
O clube aproveitou-se dos pontos corridos – ao contrário de Palmeiras, Botafogo e Grêmio, que tiveram que passar a experiência na Série B com três fases – e acabou retornando à Série A no ano seguinte, conquistando o título com folgas.
Já em dezembro de 2008 chegaria a grande transformação no clube. Ronaldo, após passar meses em tratamento no Flamengo (sem salário e compromisso de boca), assinou contrato de parceria com o Corinthians, ficando responsável por conseguir patrocinadores ao clube, que pagariam parte do seu salário, o que ainda é um caso de sucesso exclusivo.
Em 2009, venceu a Copa do Brasil e o Paulistão com grandes atuações do R9, sendo (mais uma vez) eliminado no Pacaembu na Libertadores do ano seguinte, contra o Flamengo. Eliminação que veio ainda também em 2011, após ser derrotado na Pré-Libertadores pelo Tolima, quando se instalou uma crise entre torcida, time e comissão técnica, Ronaldo, o “fenômeno”, anunciou a aposentadoria e Roberto Carlos rumou para a Rússia. Na época, o hit da paródia “elimination” dominou as rodas de conversa e trolagem na internet futeboleira nacional.
Por mais incrível que possa parecer, houve acerto dos dirigentes na decisão tomada. Andrés Sanchez manteve o técnico Tite no cargo e o mesmo levou o time ao título brasileiro no mesmo ano.
2012 será inesquecível para todos os corintianos. A obsessão pelo título da Copa “Santander” Libertadores (este banco está praticamente quebrado na Espanha e tem sua maior rentabilidade advinda do Brasil e depois do restante da América Latina!) finalmente foi saciada. De forma invicta, vencendo o todo poderoso Boca Juniors na final. Sem quaisquer discussões ou piadas dos rivais.
O título mundial foi uma conseqüência do trabalho bem feito. O Corinthians foi ao Japão tentar o título, mas sem o peso da obrigação de vencer como na Libertadores. Encarou um time que, se tinha nomes mais conhecidos mundialmente, não era dotado da disciplina tática tão bem implantada por Tite nos últimos anos.
Na final mais equilibrada da história recente dos Mundiais, agora FIFA (mas com a marca da Toyota adjunta, o Chelsea parou na boa marcação corintiana, com grande destaque para o goleiro Cássio (ex-Grêmio). O nó tático do serrano Tite também foi observado num time que soube manter a posse de bola, pressionou e atacou quando achou espaços. O principal veio no bate-rebate em jogada criada por Paulinho e que sobrou para Paolo Guerrero. No domingo 16 de dezembro o mundo perdeu as cores e ficou preto e branco.
Para além das piadas e crítica muito ácidas desta coluna e portal, fica nosso reconhecimento para a Fiel Torcida, na certeza de que muito das melhores tradições populares e democráticas corintianas sobrevivem e resistem à ofensiva da exploração de marcas e marquetização agressiva da WPP através de seu porta-voz Ronaldo Nazário.
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