Marcelo Guimarães Filho foi deputado federal pelo PMDB da Bahia de 2007 a 2010 e é filho do ex-presidente Marcelo Guimarães, cuja proeza foi dirigir o time nos rebaixamentos para a Série B, em 2004, e para a Série C, em 2006. “Marcelinho”, em meio a uma crise política, assumiu o comando do clube sob desconfiança, conseguindo recolocá-lo no cenário nacional.
Uma das medidas mais controversas da sua gestão foi empregar Paulo Carneiro, ex-presidente do rival Vitória de 1988 a 2005, enquanto diretor de futebol do Bahia, algo que durou de dezembro de 2008 a setembro de 2009.
Reeleito em dezembro de 2011 para mais três anos de mandato após reerguer o clube no cenário nacional, Marcelo Guimarães Filho e toda a diretoria foram destituídos do cargo, pela segunda vez, por ordem judicial no dia 13 deste mês justamente pela falta da lista de sócios. O advogado Carlos Rátis foi nomeado interventor do clube, com um salário de R$ 60 mil mensais ou proporcional a isso, caso não completasse um mês.
Rátis só encontrou uma funcionária e um monitor, sem o gabinete com a CPU, na sede do clube, o que o impossibilitaria de entrar em contato com os sócios e conselheiros do Bahia. Os computadores que continham a lista dos 323 conselheiros que participaram da eleição sumiram. A alternativa foi convocar via imprensa uma audiência extraordinária.
Dirigente fez piada
Enquanto isso, Marcelo Guimarães Filho culpava a decisão judicial por qualquer resultado negativo no clássico. Inclusive, um jogador contratado pela diretoria, o lateral boliviano Luis Gutiérrez, só estava esperando que a situação no clube se resolvesse para poder atuar.
Na sexta-feira, 16 de março, o desembargador Gesivaldo Brito concedeu um efeito suspensivo à diretoria afastada. Guimarães Filho encontrou disposição para fazer piada no Twitter: “ôoooo o tricolor voltou..., a CPU voltou...”, em referência a CPU que não havia sido encontrada pela justiça. Logo depois escreveu “a justiça foi feita” e que o “sumiço” da CPU deveria gerar uma CPI, mas não ocorreria – como ex-deputado, ele sabe como as coisas (não) funcionam.
Com a liminar obtida pela diretoria do Bahia através da Justiça, foi suspensa a audiência pública onde os sócios decidiriam o futuro do clube – e que provavelmente recolocaria o presidente no cargo. A liminar deu validade à eleição realizada no final de 2011, com um Bahia nada democrático, em que os torcedores clamam por eleições diretas e querem entender como um dos clubes com maior público em jogos oficiais no Brasil não faz uma campanha para adquirir mais sócios. Eis a soma absurda de burrice com prepotência.
Após uma série de jogos sem perder, sob o comando do ex-colorado – e ainda angustiado com os dirigentes do Internacional – Falcão, o Bahia foi derrotado pelo Vitória comandado por Toninho Cerezo por 3 a 2 no Barradão, com todos os gols saindo num movimentado primeiro tempo. A diferença na liderança caiu para 4 pontos.
Falta o passo à frente
Pois bem, para quem imagina que a saída de Ricardo Teixeira poderia ser a deixa para os clubes conseguirem uma independência em relação à CBF, o caso do Bahia neste momento é emblemático.
Clubes nada democráticos, esta é a situação do futebol tupiniquim. As agremiações são – em escala menor – uma espécie de espelho da CBF e das federações estaduais. Bastava contar com o voto universal dos sócios, assim como o voto direto dos clubes com pesos distintos diante da posição nas séries do Brasileiro, e o volume de recursos e torcida. Mas, até agora, nem sinal disso, apenas o enterro anunciado do Clube dos 13!
Mesmo com diversos progressos conquistados ao longo dos anos dentro do país, os clubes ficam presos a poderes de famílias que comandam o futebol há décadas. O poder passa de pai para filho, de um irmão para outro, às vezes para amigos do mesmo grupo social e político, deixando o torcedor refém e de mãos atadas.
O fim da novela? Não, de um capítulo
Não poderíamos deixar de falar na coluna desta semana do possível final da novela entre Internacional e Andrade Gutiérrez. Depois de mais de 260 dias, finalmente o contrato para a reforma do Estádio Beira-Rio foi assinado na segunda-feira. A assinatura teve direito a festa de título, telão, abraços e promessas. Até o governador Tarso Genro, que havia discutido asperamente ao vivo com representantes da AG, compareceu sorridente à cerimônia.
Antes disso, a mesma imprensa que caiu no golpe do jogador criado pela torcida, resolveu se antecipar e “furar” o acordo. A rádio do oligopólio gaúcho “líder” de audiência interrompeu seu correspondente de notícias para anunciar na quinta-feira, dia 15, que o contrato havia sido assinado. Horas depois teve que desmentir a informação.
Uma imensa quantidade de críticas surgiu para a construtora especialmente nos últimos dias, com direito à definição do prefeito da capital para que isso ocorresse até o final de março. Parece que deu certo.
Após a assinatura do contrato, os elogios voltaram pelas mesmas pessoas e veículos que haviam feito críticas na semana anterior. O que havia mudado? A AG. Passou a ser uma das melhores construtoras do mundo no fim de semana, como foi dito na rádio já citada. A mídia local parece desconhecer a palavra coerência.
Pelo menos, agora se espera que os torcedores e dirigentes da capital esqueçam o confronto para saber “quem tem mais obreiros trabalhando” e passem a se concentrar dentro de campo, com os difíceis desafios da Copa Libertadores de América (a mesma que o banco espanhol insiste em batizar) e da Copa do Brasil. Basta de Gre-Nal de cartolas e de oba oba da mídia de ocasião. Por que não continuar olhar para fora do campo, mas nos setores dirigentes do futebol brasileiro?
(Para quem quiser sugerir um nome que pudesse ser uma real alternativa para comandar o futebol no Brasil, ou achar que escrevemos muita besteira, entre em contato através dos e-mails andderson.santos@gmail.com e dijairalemdasquatrolinhas@gmail.com)