Todo ativista ou mesmo curioso da política sabe que a memória é uma arma poderosa. Através desta, se constrói e reconstrói discurso, referência e prática. Na posse do 2º mandato de Luiz Inácio, além da ausência de delegações estrangeiras e massa na Esplanada, notou-se uma forte presença. Do lado de fora, debaixo de chuva, pululavam bandeiras soltas do PT e outras tantas da versão pós-Quércia do MR8. Sabe-se que este MR8, não tem nenhuma vinculação orgânica com a organização de mesmo nome e que estava presente no seqüestro do embaixador Charles Elbrick.
Não estamos aqui defendendo ou atacando algum grupo, mas chamando a contradição que acomoda as posições diversas. Explico. A concepção do PT era de uma expressão política da classe trabalhadora coordenada por suas lideranças “autênticas”. Para tanto, leia-se também autóctone. Vinda das pastorais, entreverada com grupos trotsquistas minoritários, recheada de intelectuais ex-Partidão, a fusão de posicionamentos ia ao encontro de uma idéia de socialismo com democracia e multipartidarismo. Isso se refletia na interna da legenda então reformista-radical e nas suas bases mais importantes na época, as sindicais.
Em 1983 o acúmulo dos autênticos colocou Joaquinzão, o MR8, o PCB e o PC do B (onde militou Renan Calheiros) de um lado, e os fundadores da CUT de outro. A Central hoje governista e recheada da CSC (corrente sindical do PC do B), fora fundada na base das cadeiradas, durante a Conferência das Classes Trabalhadoras (Conclat). Corria o governo Montoro e o “8” e os dois rachas do ex-partido da linha de Moscou já se encostavam no Palácio dos Bandeirantes.
26 anos após, metade dos que apoiavam ao ex-inimigo sindical era composta pelas bandeiras dos encostados no governo do MDB paulista. A história seria irônica se não fosse trágica.