Bruno Lima Rocha, 12 de outubro de 2014
O centro da política está sendo controlado pela direita neoliberal contra o acórdão político do lulismo, onde a direita oligárquica forma maioria junto da ex-esquerda. Com a defecção de PSB – já apoiando os tucanos em segundo turno – e agora com Marina Silva forçando uma carta-compromisso de Aécio para com medidas alegadamente sociais e ambientais, diminui o espaço do lulismo original e sua descendência recomendada. O PT terá de se esforçar o triplo para garantir esta apertada vitória na urna, se é que esta virá. Já para a política feita na base da pirâmide social, os tempos que se avizinham serão duros, independente de qual coligação vencer.
Quanto menor o espaço político, mais cara é a aliança com os oligarcas de sempre. Tal fato é comprovado com a presença da senadora pelo Tocantins, Kátia Abreu (PSD) representante orgânica do latifúndio e negociadora do agro-negócio junto ao governo Dilma. Já Aécio não deixa por menos, escancarando Armínio Fraga como futuro ministro da Fazenda. Quem assistiu o debate deste experiente operador do mercado financeiro internacional com Guido Mantega (5ª, dia 09 de outubro de 2014, na Globo News), ancorado o debate pela impagável Miriam Leitão, já sabe o que está por vir. Em ambas as situações, a corda vai arrebentar do lado debaixo da sociedade brasileira.
Vejamos a seguir alguns pontos mais importantes, para uma crítica por esquerda, neste início de corrida de segundo turno presidencial.
Pragmatismo político e cegueira ideológica na centro-esquerda oficialista
O discurso do voto útil e a desconstrução ideológica dos protestos de maio, junho e julho de 2013 é uma retórica recorrente ao oficialismo que agora, apavorado, não tolera ler ou ver uma crítica por esquerda. A legislatura eleita dia 05 de outubro para o Congresso seria mais conservadora e "evangélica". Não é, é mais conservador e neopentecostal, sendo boa parte destes pregadores da prosperidade aliados do governo de coalizão oligárquica.
Saímos de junho sem uma nova articulação de forças sociais, onde talvez a única ferramenta permanente seja o Bloco de Luta pelo Transporte Público de Porto Alegre. É difícil assistir um tiroteio eleitoral sem um bom parapeito de base protegendo as balas perdidas.
O que mais me preocupa é a capacidade de reação do povo brasileiro caso a outra direita ganhe e resolva - porque certo que irá fazê-lo - tocar nas políticas sociais, ou realinhá-las ou tirar seu poder de realização. Como o povo vai reagir? Nas eleições de 1989 o debate da resistência ao emparedamento do andar de cima se fez presente quando Mário Amato, ex-presidente da FIESP, previu que caso Lula ganhasse na ocasião, cerca de 800 mil empresários deixariam o país. A caravana Amato não saiu porque Collor (hoje aliado do lulismo) ganhou na urna e na manipulação midiática.
E, caso Luiz Inácio tivesse vencido, a promessa de base social mobilizada estava nos "mais de 5 milhões de trabalhadores sindicalizados na CUT". Hoje, falar disso é uma perigosa piada de mau gosto. Hoje Aécio é carregado nos braços dos asseclas de Paulinho da Força que quando ainda estava no PDT ganhou para seu grupo político o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Depois o país que sai de junho está à direita ou os governos do PT puseram o Brasil mais à direita?
Eleições de 2014 e a segunda Carta ao Povo Brasileiro
O 2º turno entre Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) traz nova configuração de alianças, com dois movimentos simultâneos. O primeiro é o menor espaço para a coalizão governista, representada pelo lulismo convivendo com maioria assegurada nas convenções nacionais de partidos de tipo tradicional-oligárquico (como PP, PMDB, PSD, PDT). O segundo movimento é a fratura do aliado histórico do PT, o PSB, perfilando-se com Aécio nesta reta final.
Junto à direção desta legenda está Marina Silva, ex-petista histórica, condicionando seu apoio ao compromisso dos tucanos com demandas sociais e ambientais. PSDB, DEM e sua base política conservadora fariam uma inflexão social assim como Lula aproximou-se dos mercados em 2002. Isto consolidaria, segundo Marina, a transformação de políticas de governo em políticas de Estado. É aguardar para ver. E, desde já este analista antecipa que duvida tanto da realização destas políticas como das intenções do ex-governador de Minas em cumpri-las.
O comportamento do partido de governo à frente da coalizão oligárquica pouco se difere da coalizão neoliberal.
A corrupção envolvida nos governos do PT pode ter um viés de justificativa (injustificável), onde os operadores políticos viam nesta oportunidade uma forma de extrair recursos financeiros e materiais para "boas causas", como financiar o partido ou campanhas deles e de aliados. Nas suas práticas, compararam-se com os oligarcas que sempre são governo (como PMDB, PP e agora o PSD que deve emplacar a ministra da Agricultura do 2o governo Dilma, caso esta vença) e com a elite neoliberal que, deslumbrada com as maravilhas do consumo suntuoso, tem padrão de vida equivalente aos milionários do eixo Wall Street - City londrina.
Quando um partido que fora de esquerda se equipara aos adversários políticos que sempre foram sua baliza oposta - ou seja, ser do PT nos anos '80 era ser diferente dos aliados do PT de 2014 - entendemos que houve no mínimo dois fenômenos. Um, que este analista já repetiu milhares de vezes, é o leninismo lavado. O pragmatismo da real politik somado com a derrota ideológica e a lógica de "menos pior" leva a situações como estas. Se a nomenklatura tinha dachas no Mar Negro, a direção petista torna-se vizinha de campo dos outrora inimigos de classe. José Dirceu e Palocci materializam estas deformações de ex-esquerda.
Outro fenômeno é compreender que o Estado brasileiro tem uma natureza patrimonialista e como tal é imutável. Assim, lendo Raymundo Faoro e não tomando como elemento de crítica e sim naturalizando as relações sociais, o PT do lulismo à frente do aparelho de Estado lembra a caracterização do ex-aliado Roberto Jefferson: "o PT dá a cabeça, mas quer o corpo!". Ao invés de democratizar as relações de trabalho dentro do aparelho de Estado, o lulismo reforçou-se com o pior do Brasil, igualando-se no jogo de trocas de cargos e salários e batizando contratos com os grandes agentes econômicos.
O pior do Brasil encontra-se tanto na base "aliada" de Dilma no 2o turno como no eixo de apoio do tucanato nesta reta final. Para nossa desgraça, a candidata à reeleição é uma ex-guerrilheira assim como o senador paulista que corre como vice do neto de Tancredo Neves. Diante deste horror de vazio com guinada à direita da política, a pergunta que fica é; como aglutinar forças e reagir?!