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Egito: entre o demônio e o satã

Al Jazeera

O Egito caminha a passos largos rumo a uma guerra civil a exemplo do conflito argelino da segunda metade dos anos '90.

2ª quinzena de julho de 2013, Bruno Lima Rocha

 

Após o golpe de Estado do Egito de 3 de julho deste ano, operado a partir de uma grande insatisfação popular – ou ao menos de parte da população – o mundo árabe e islâmico está diante de uma situação limite. É possível a convivência e a disputa dentro das regras da democracia participativa por parte de organizações integristas? A pergunta é simples, as conseqüências não. Se a resposta for sim, então a derrubada do governo eleito, tendo Mohamed Morsi à frente da Irmandade Muçulmana pode ser compreendida como fruto da ira dos setores laicos - e dos cristãos coptas diante de medidas totalizantes e apressadas do Poder Executivo. Já a resposta negativa, implica em admitir a impossibilidade de democracia de tipo indireto convivendo com legendas religiosas muçulmanas. Assim, o destino seria a permanente guerra civil em sociedades onde um partido de tipo integrista (também chamado de fundamentalista ou jihadista) – de qualquer versão do Islã – seja forte concorrente para ganhar nas urnas.

 

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Nos EUA, a gíria da análise política chama esta situação de “o vencedor leva tudo”. No caso, os estadunidenses assim classificam uma vitória eleitoral.  No Mundo Árabe, o “levar tudo” pode implicar fundir o grupo étnico-cultural-religioso com o desenho de Estado e a institucionalização possível. Era este o trajeto de Morsi como presidente do Egito, e foi esta a causa da revolta popular na Turquia contra Tayyip Erdogan e o governo do AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento). Ao imiscuir-se em temas da vida privada e da ordem pública mesclada com moralismo, massas de população urbana, com bom nível de estudo e valores parcialmente ocidentais se puseram em discórdia com os governos. O integrismo turco moderou-se para exercer o poder apesar do exército inspirado na elite kamalista e detentor de vastos recursos advindos dos EUA. Já os militares egípcios, cujo comandante em chefe, Abdel Fattah al-Sisi até  tinha certa simpatia pela Irmandade Muçulmana, são dirigidos por veteranos generais dos Acordos de Camp David (portanto, ex-aliados de Anwar Sadat e Hosni Mubarak); e, não são e nem nunca foram para nada confiáveis diante de nenhum governo civil. A tendência da Irmandade Muçulmana era começar a legislar agressivamente contando com a maioria no Parlamento e uma relação orgânica com membros do Judiciário. Na medida em que a sharia (interpretação dos códigos de leis e costumes através do Al Corão) fosse implantada, o partido de Morsi iria fundindo-se com o novo modelo de Estado. Caso esta situação viesse a se consolidar, as forças armadas egípcias perderiam todo o apoio advindo dos EUA, e por tabela, os generais ficariam sem suas fontes de recursos totalizando USd 1,3 bilhão de dólares por ano. 

 

As forças civis que ocuparam a Praça Tahrir, lideradas pela Tamaroud, puseram milhões nas ruas estiveram numa encruzilhada. Fizeram um pacto com o demônio para deter o satã. O Exército atual em nada se parece com a força terrestre nasserista de outrora.

 

Esse artigo foi originalmente publicado no Jornalismo B, edição de 2ª quinzena de julho de 2013






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