A coluna deste mês traz um interessante dilema para qualquer analista político. O envolvimento direto com o tema e a causa. Isto porque, nos dias 16, 17 e 18 deste frio mês de julho, ocorreram as eleições da Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais (Fenaj). Acerquei-me deste processo por dois motivos. Embora tenha o oficio da docência universitária como cientista político, também sou jornalista profissional, com diploma, processo na cabeça e devidamente sindicalizado. Nos últimos anos, retornei ao movimento pela democratização da comunicação social no Brasil de onde havia me afastado em 1992. Meu posto de luta é junto da radiodifusão comunitária. Das antenas do povo saem recordes de criatividade, inovação de linguagens e repressão do Estado. Por tudo isso, manifestei publicamente o apoio à oposição do grupo dirigente de nosso sindicato nacional.
Faço esta longa introdução para adentrar no debate conceitual de “objetividade científica”. Esta é uma falácia, assim como outra “objetividade”, a jornalística. Comparto do conceito e prática da “análise incidente”, usando o arsenal teórico-epistemológico para agir na sociedade. Afirmo, portanto ao direito do analista ter posição. O que não se pode é falsificar fatos ou inverter conceitos ao bel prazer. Por isso, ainda que no apoio da Chapa 2, me reservo ao direito da crítica.
Foram números modestos, compatíveis com a apatia e a autocensura que se abate sobre a maioria dos “coleguinhas”. Dentre um total de 4.853 votos válidos, a Chapa 1, “Orgulho de ser Fenaj”, obteve 3.614 (74%), contra 1.239 (26%) para a Chapa 2, “Luta Fenaj”. A situação vencera em todos os estados, menos em Sergipe, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. Na província, a chapa 1 ganhou de lavada, garantindo a hegemonia nas maiores redações e assessorias.
Um fato jornalístico pré-eleitoral chamou a atenção. Na sexta-feira 13 de julho, o boletim eletrônico do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, em seu segundo parágrafo, continha a seguinte Nota:
“Duas chapas disputam as eleições, a Orgulho de ser Fenaj encabeçada pelo atual presidente da entidade, Sérgio Murillo, e a e Luta Fenaj! que tem à frente Dorgil Marinho, diretor do Sindicato dos Jornalistas no Distrito Federal. Na nominata da Chapa 1 participam os gaúchos Celso Schröder, vice-presidente, e José Carlos Torves, Departamento de Mobilização, Negociação Salarial e Direito Autoral, ambos ex-presidentes e atual diretores do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS”.
Percebam o texto cita a nominata da situação. O foco nos dois é por serem gaúchos e não atuais diretores do sindicato do RS. Da chapa 2, o boletim não fala de ninguém. A oposição tinha uma gaúcha na lista. Kátia Marko, assessora de imprensa de movimentos populares e de sindicatos, foi solenemente apagada. Não por acaso, a “Luta Fenaj” acusou ao grupo que permanece de haver usado da máquina sindical a favor de seus candidatos. A situação afirma que tudo não passa de especulação e leviandade. A evidência mostra ao contrário.
Já antevejo as reações a esta coluna. A diretoria reeleita vai afirmar que não devemos levar a público as polêmicas internas da categoria. Do ponto de vista sindical, todos os espaços são válidos para combater o corporativismo. Qualquer debate é melhor do que o discurso lavado e chapa branca.
Artigo originalmente publicado em minha coluna mensal na Revista Voto, Ano 3, No. 35, pág. 62, Agosto de 2007