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Cenário pós-eleitoral – as marchas de 15 de novembro e o epicentro da política brasileira em São Paulo

Blog do Parrini

Sob o guarda-chuva de Movimento Brasil Consciente, neoliberais e extrema-direita organizam os protestos contra o resultado eleitoral, o mecanismo de governabilidade do lulismo tendo como pano de fundo a corrupção endêmica. Diante da CPI da Petrobrás, a direita pode realmente capitalizar sobre o governo que nada em seu próprio lamaçal.

Bruno Lima Rocha, 19 de novembro de 2014 

 

O debate a respeito do cenário pós-eleitoral, ao contrário do que muitos esperavam, não se atenuou. Aumenta a intensidade dos protestos por direita, e, ao mesmo tempo, abre-se todo um leque de possibilidades para colocar o governo reeleito contra a parede, diminuindo ainda mais sua estreita margem de manobra. Podemos identificar quatro possibilidades dentro do cenário complexo onde se realizam arenas simultâneas de embate.

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São estes:

 

- a disputa direta de Aécio Neves e a direção nacional do PSDB diante da desconstrução do governo reeleito, sua meta é ir acumulando força eleitoral para 2018; estes se aliam com a direita mais à direita que, apelando para posições semelhantes às da oposição venezuelana, contesta a lisura do pleito e, por tabela, seu resultado

 

- no plano jurídico-político, a CPI da Petrobrás atingindo no meio ao presidencialismo de coalizão, sendo alvos PT, PP e PMDB além das maiores empreiteiras do país; neste cenário, ainda que corte na carne, a federação de oligarquias estaduais e regionais que atende pela sigla do PMDB é a que mais pode tirar proveito. Para isso operam a reorganização do Blocão e a projeção de seu líder legítimo, o peemedebista fluminense, Eduardo Cunha

 

- dentro do Planalto não há calmaria alguma, há tanto possibilidade de fogo amigo na CPI da Petrobrás como um avanço ainda mais perigoso, com a chance de não aprovação das contas de campanha de Dilma

 

- o cenário por esquerda tampouco é convidativo para a presidenta; a lógica se repete com uma série de promessas não cumpridas e a fragilidade de um governo que sequer gera coesão no partido de governo. Desde a plataforma dos movimentos sociais – onde a esquerda social de perfil governista, com maior proximidade (caso da CUT) ou mais afastada (como o MTST), até as agrupações bem mais à esquerda (como as que organizaram os protestos de 2013), o lulismo tem contas a pagar com a militância e pelo visto estas só serão acertadas se a pressão vier debaixo para cima, condicionando apoio tático (caso da base social do governo) ou tácito (caso da direção nacional do PSOL que se não se cuidar pode operar como linha auxiliar do governo) para com alguma medida concreta de reformas de base.

 

Expostas as quatro frentes de onde o governo pode ficar tanto abalado como até impedido (caso dos andamentos descontrolados da CPI da Petrobrás derivados do inquérito da Polícia Federal na Operação Lava Jato), analisaremos nos textos que seguem a distintos na política brasileira no tempo presente. Neste, comecemos pela direita.

 

O fim de semana (sábado 15 de novembro) coincidiu com o feriado da proclamação da república através de um golpe de Estado sem planejamento foi palco de nova tentativa de articulação da oposição de direita em escala nacional. Armados de um senso comum udenista, os protestos demonstraram o quanto os conservadores estão divididos. Ressalto o óbvio: o fato da direita estar dividida não significa que seja menos perigosa.

 

Se os democratas liberais vêem com temor os brados por “intervenção militar”, também é possível observar um aproveitamento tácito pelo alto tucanato dos protestos. Estes atos de repúdio a vitória das urnas da democracia indireta foram convocados a partir de uma postura neoliberal, alinhada com a nova direita brasileira (como a do Instituto Millenium e seus aliados). Os protestos atingem também a vontade de mobilização das viúvas revividas do Golpe, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC paulista) e seus correligionários no conservadorismo neopentecostal. Estes, representados pela legenda do PSC (o mesmo partido de Marco Feliciano) e encabeçados pelo "pastor" Everaldo, tem uma linha política assemelhada a um hibridismo entre o Tea Party e os NeoCon dos EUA. Esta gente clama sem pudor algum a defesa da ordem interna, atributo constitucional do Exército, como força de última instância para a manutenção do status quo.

 

O embate nesta interna não tardou, já que a oposição ao segundo governo Dilma tem presença difusa em redes sociais e opera através de figuras midiatizadas. Lobão, por exemplo, arrisca o que sobrou de sua reputação (se é que algo restara....) mesclando-se com gente como Olavo de Carvalho (no papel de intelectual orgânico das direitas, tentando ser figura ecumênica entre os conservadores) e compartindo a rua com o deputado estadual Coronel Telhada (PSDB-SP). Mesmo abandonando o ato (rachado) de São Paulo e declarando-se – através de sua conta pessoal no twitter – como “traído pela manipulação da extrema-direita”o ex-cantor de protesto termina por retro-alimentar aquelas e aqueles a participar da nova versão da Marcha com Deus pela democracia! Pelo visto não tardou em chiar, como dizia o refrão dos anos sessenta.

 

A "sorte" do governismo é o limite da direita em sua verve moralista. Isto porque, na Operação Lava Jato estão sob a lupa da PF as maiores empreiteiras do Brasil e a direita neoliberal tem como limite na crítica ao Bismarckismo Tropical do PT os ataques aos agentes econômicos. A presidente Dilma em plena reunião do G-20 já antecipou este problema, tentando defender as empreiteiras (por tabela, pedindo o cuidado com a generalização) e a Petrobrás. Atacar a estatal (de capital misto) do petróleo brasileiro nunca foi problema para o próprio Lacerda assim como para seus descendentes; já o ataque ao alto empresariado nacional, sempre foi algo contido. 

 

O epicentro da política nacional está em São Paulo

 

O cenário pós-eleitoral ainda está em aberto e tem em São Paulo seu epicentro em dois embates simultâneos: um, de ordem tática e visando a acumulação eleitoral, contrapõe a prefeitura de Fernando Haddad - prefeito do PT e ex-ministro de Lula - diante do Palácio dos Bandeirantes, do tucano reeleito Geraldo Alckmin. Já a arena citada no início desta análise, marca a luta pela esquerda social e com alguma participação da esquerda política (cenário onde o PT orgânico pouco ou nada se mete) diante da ameaça de impeachment vinda da extrema-direita e dos neoliberais que, somados e identificados na campanha de 2o turno, podem ter em Aécio Neves o Henrique Capriles brasileiro. 

 

Evidenciado o epicentro, concluo esta análise questionando: - Será que a unidade por esquerda começa com os setores mais próximos do apoio crítico ao lulismo? Será que não seria o momento apropriado para amarrar uma carta de reformas de base, um programa de medidas populares, a exemplo do programa marcado pela CAB em sua declaração de "voto" nas últimas eleições?

 

Escrevendo como analista que toma posição e explicita as próprias referências político-ideológicas (pois estas palavras têm vínculo com a linha libertária, me equilibrando entre minhas vontades e o rigor analítico) aponto o seguinte. Qualquer ato, marcha ou reivindicação que possa se desmarcar do governo e ao mesmo tempo dar o embate necessário para direita grotesca que se articula reforçando a versão do Capriles brasileiro; qualquer ação neste sentido, é bem vinda. As forças político-sociais à esquerda deveriam (entendo assim, torço para que ocorra) correr para impor seu programa (como reforma agrária, democracia dos meios de comunicação social, reforma urbana, reforma política com democracia direta) e não deixar sombra de dúvida de não estarem operando como linha auxiliar do lulismo. Se esta desconfiança prosperar, adeus iniciativa política pela base. Já se a força da reivindicação concreta ganhar as ruas, o jogo pode virar. Na rua, as forças do povo são sempre imbatíveis. 

 






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