A aviação comercial brasileira, muitas vezes, se assemelha a uma investigação de George Smiley. Para quem não se lembra, este é o agente e controlador de espiões e sua majestade a rainha da Inglaterra, operando no MI-6 do pós-guerra. Como o setor aéreo é primo da força aérea e a transparência das informações é algo complicado, a caixa preta conceitual ainda está por ser aberta. Pensando nisso, e exercitando um pouco o instinto de apuração, terminei por lançar palavras ao vento em pseudo-entrevistas que jamais se realizaram. Trago aqui para nossa aguerrida página, o roteiro de uma hipotética conversa informativa e formadora de opinião contundente.
A possível fonte seria um piloto com experiência no ramo, voando por mais de duas décadas na extinta Varig (não a remodelada pela família Constantino). O nome fantasia do piloto é Genival, ou melhor, Comandante Genival. Aí vão as perguntas que mesmo que as delete, não querem silenciar....a minha gana de autocensura é tão forte quanto a possibilidade de permanecer no cargo do ainda ministro da Defesa e ex-governador da Bahia, Waldir Pires. Bem, basta de nariz de cera, vamos aos questionamentos sem fim....
- Genival, antes de iniciar, perguntaria teu nome completo, tua idade, trajetória e carreira na aviação comercial e sua atual ocupação no ramo?
- Sei que tu tens mais de 20 anos de aviação, é comandante da Varig e atualizado perante as regras do setor. Tu dirias, por tua experiência, que o acidente da TAM seria evitável?
- Em se tratando da pista do Aeroporto de Congonhas, sabe-se que as ranhuras não haviam sido feitas, mas ainda assim a pista foi liberada? Quais são as condições que liberam ou não a pista de um aeroporto deste porte?
- É possível afirmar que a pista foi liberada sem as condições plenas pela pressão das companhias e a cobertura da mídia, escalando setoristas de aeroportos e pautando diariamente o caos aéreo?
- Tu já passaste por situação semelhante? Quais são as opções que o comandante da aeronave pode tomar naqueles poucos minutos? A Torre não deveria ter negado a autorização de pouso?
- Entrando no tema dos relatórios de segurança e a possibilidade de pacto de silêncio entre pilotos e empresas. Tu concordas com a afirmação do presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos Camacho. Ele afirmou que os relatórios de risco não saem das empresas e pouca informação chega aos órgãos de classe. Isto procede?
- De quem é a decisão final de tentar o pouso? É do comandante? Da Torre? Se o piloto se recusasse a pousar, correria o risco de ser demitido? E, se demitido for, passa a constar em uma lista de indesejáveis, perdendo a condição de trabalho no Brasil?
- Tu te lembras de um acidente ocorrido na Argentina, com a Líneas Aéreas Privadas de Argentina (LAPA), em 1999. O filme "Whisky, Romeo, Zulú", de Enrique Piñeyro, aponta como esta empresa em particular pressionava os pilotos a voarem sem as condições mínimas de segurança. Tu já passaste ou conhece situação semelhante com algum colega de profissão?
- Qual o impacto da ausência da Varig para a aviação comercial brasileira? As demais empresas têm de operar com um volume de passageiros maior do que o de uma década atrás. É possível cobrir essa lacuna de oferta de vôos?
- Após o acidente, acredita que a TAM recupera a sua imagem e credibilidade? Ela pode ir à falência pelo pagamento das indenizações?
- Quais seriam as medidas imediatas que tu tomarias se tivesse a capacidade executiva para tanto? Dentro desse tema, considera possível uma administração totalmente civil da aviação comercial brasileira?
As respostas, pelo voar das asas brasileiras, ficarão entre corredores e relatórios sem fim.