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Os EUA e a vigilância eletrônica global

The Guardian

Edward Snowden abandonou uma vida confortável no Havaí para, em nome de suas convicções, tornar-se dissidente da maior potência que o planeta já teve.

2ª quinzena de agosto 2013, para o Jornalismo B, Bruno Lima Rocha

 

Edward Snowden, hoje asilado temporário na Rússia governada por Vladimir Putin e demais herdeiros da KGB, é um ex-consultor da National Security Agency (NSA), agência dos EUA especializada em vigilância e guerra eletrônica e responsável pelo monitoramento de dados eletrônicos e comunicação interpessoal. Em declarações públicas, se disse arrependido de seus atos, vindo a desertar. O argumento faz sentido. Espionar cidadãos comuns é muito distante de exercer o alerta sobre possíveis conexões do terror integrista sunita. Na prática diária, é quase impossível distinguir entre a atenção para a segurança do Estado, e a intromissão na vida privada. A novidade é a deserção e não a espionagem sobre populações inteiras.

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A vigilância individual só vem aumentando, uma vez que o potencial inimigo se organiza em sistema de rede. Cabe recordar que o modelo organizacional foi aprendido pelos jihadistas quando o membro da família real saudita e sócio dos Bush, Osama Bin Laden, era operador de enlace no recrutamento de voluntários “afeganis” para lutar contra os hereges soviéticos ocupando o Afeganistão.  Esta guerra não declarada foi a maior escalada bélica (de custos) do período da bipolaridade. Ao comprometer a Arábia Saudita como co-financiadora da resistência afegã, as redes de inteligência se mesclaram, para depois ficarem disseminadas pelas populações de credo islâmico de ramo sunita espalhadas pelo mundo. O resultado é vigiar quase tudo e quase todos, justificada na onipresença sobre o inimigo sem rosto.

 

Como se sabe nada disso é novidade. A partir da escalada bélica da 2ª Guerra Mundial, os Estados Unidos são co-governados pelo complexo industrial-militar, incluindo os setores de telecomunicações. O alvo da vigilância é indiscriminado, conseqüência da indexação de palavras-chave, cujos registros, uma vez capturados, são posicionados em super-processadores, cruzando os termos com as relações interpessoais de quem participa das conversas. O problema internacional é a vigilância das comunicações eletrônicas em Estados soberanos, espionando sistematicamente cidadãos de países aliados - como os da União Européia – e parceiros comerciais, a exemplo do Brasil.

 

O fluxo de comunicações eletrônicas passa necessariamente pelos EUA, pois lá se localiza a maioria dos supercomputadores servindo como intermediários das conversações de internet e o hub da rede física instalada nas duas costas do Oceano Atlântico. Some-se a isso a lealdade de fato – não jurídica – das empresas fornecedoras de serviços de internet e indexação de dados, como Google, Facebook, Microsoft (no serviço do skype) e Yahoo. Se antes os críticos suspeitavam da venda de dados particulares para fins de mercado, individualizando o consumo e a oferta de produtos customizados, agora o fato é ainda mais grave. Ao contrário do senso comum do liberalismo, a privacidade e a liberdade individual não está assegurada para os cidadãos, sendo prerrogativa do uso da força e hegemonia do Império em escala mundial. 

 






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