Estrat�gia & An�lise
ISSN 0033-1983
Principal

Artigos

Clássicos da Política Latino-Americana

Coluna Além das Quatro Linhas

Coluna de Rádio

Contenido en Castellano

Contos de ringues e punhos

Democracy Now! em Português

Democratização da Comunicação

Fale Conosco

LARI de Análise de Conjuntura Internacional

NIEG

Original Content in English

Pensamento Libertário

Publicações

Publicações em outros idiomas

Quem Somos

Sobre História

Sugestão de Sites

Teoria



Apoiar este Portal

Apoyar este Portal

Support this Website



Site Anterior




Creative Commons License



Busca



RSS

RSS in English

RSS en Castellano

FeedBurner

Receber as atualiza��es do Estrat�gia & An�lise na sua caixa de correio

Adicionar aos Favoritos

P�gina Inicial












































Artigos
Para jornais, revistas e outras mídias

Lula como franco atirador, austericídio no Planalto e o comportamento esquizofrênico da Câmara


Para Luiz Inácio, ao que parece, é mais relevante preservar seu próprio capital político do que ver-se associado ao naufrágio do modelo por ele próprio inaugurado.

"No Brasil o lobby formal é proibido, mas os setores empresariais com mais poder de pressão conseguem isentar-se das medidas mais duras. Observamos uma cadeia alimentar, onde o setor financeiro-especulativo comanda; seguido dos setores com poder empresarial para fechar grandes contratos de governo ou arcar com a infra-estrutura do país e após setores específicos - alguns voltados para exportação - com condições de influência sobre bancadas estaduais e federais. O aumento do custo da geração de emprego direto para o empregador faz parte da fórmula da ortodoxia neo-neo monetarista e o resultado societário é horrível", constata Bruno Lima Rocha, professor de ciência política e de relações internacionais.

enviar
imprimir

Eis o artigo.

Os sete dias entre 17 e 24 de junho, varando madrugada adentro, marcam mais uma etapa de embate parlamentar e a relação esquizofrênica entre os deputados federais com cultura política paroquiana (conhecidos no meio como “baixo clero”), e a pouca incidência de líderes (chamados também de “cardeais”), marcando um reforço da posição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e agora secundado por seu correligionário Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Nas linhas que seguem, observamos a tensão entre o Parlamento e o Executivo em crise e também a tentativa de descolamento de Lula para com seu partido e sua sucessora política. Luiz Inácio nada fez a não ser colocar panos quentes e mais do mesmo no congresso nacional do PT. Uma semana depois, o ex-líder sindical que tem livre trânsito nas cúpulas empresariais brasileiras, critica por esquerda sua legenda embora tenha governado por direita e comportado desta mesma forma. Vamos ao debate.

Idas e vindas na Câmara Federal - uma mão afaga o austericídio e outra joga confete para o eleitorado - 1

A causa é justa, mas entra na sinuca de bico do austericídio. Levy e cia. prometeram ao "mercado" que o segundo mandato de Dilma seria marcado pelo 3o turno, ou seja, por uma inflexão de enxugar os gastos públicos e manter em alto e bom som a opção preferencial pelos bancos, estando em segundo lugar os agentes econômicos líderes do país. Acontece que, entre a pressão política do eleitorado e a caneta dos Chicago Boys, por vezes prevalece a primeira. Na madrugada de 4a (24 de junho) para 5a (25 de junho), por 206 votos a 179, o plenário de deputados federais aprova a política de valorização do salário mínimo ampliando-a a pensionistas que recebem mais de um salário mínimo.

A fala repetitiva da "responsabilidade" não foi vitoriosa, rachando a frágil base do governo e mantendo a correção da inflação pelo INPC e mais o crescimento do PIB com variação dos últimos dois anos. Achatar o baixo poder de compra dos aposentados é uma maneira bem cruel de extorquir a força de trabalho, repassando este enorme volume de liquidez para outros fins. Dos 15 maiores fundos de investimento do mundo, 11 são compostos por fundos previdenciários de servidores públicos. O mesmo ocorre no Brasil, com os gigantes Petros, Previ e Funcef sendo utilizados como complemento de composição dos consórcios e planos de investimento do Poder Executivo (como na obra de Belo Monte).

Entendo que a emenda aglutinada esta que favorece os aposentados deve ser vetada - por veto parcial no Planalto - após ser ratificada no Senado. Mais desgaste político para Dilma e mais incoerência para ser explicada no que resta de base sindical e de movimento popular.

Idas e vindas na Câmara Federal - uma mão afaga o austericídio e outra joga confete para o eleitorado - 2

Na mesma noite e madrugada em que o plenário indexou a correção dos aposentados com a inflação e a variação do PIB, os parlamentares aprovaram por 253 votos a 144 o projeto que aumenta a contribuição sobre a folha de pagamento. Ao mesmo tempo, a pressão de alguns setores - dentre eles o calçadista - faz com que a "economia" do Executivo (na verdade, a fúria de arrecadação) não atinja os R$ 12, 5 bilhões, reduz esta margem para R$ 10 bi. 56 setores sofrerão este aumento de encargos sobre a folha de pagamento, incluindo a construção civil, o que indica um recuo considerável na fórmula de crescimento aplicada nos primeiros doze anos do lulismo.

É interessante observar um fato singular. No Brasil o lobby formal é proibido, mas os setores empresariais com mais poder de pressão conseguem isentar-se das medidas mais duras. Observamos uma cadeia alimentar, onde o setor financeiro-especulativo comanda; seguido dos setores com poder empresarial para fechar grandes contratos de governo ou arcar com a infra-estrutura do país e após setores específicos - alguns voltados para exportação - com condições de influência sobre bancadas estaduais e federais. O aumento do custo da geração de emprego direto para o empregador faz parte da fórmula da ortodoxia neo-neo monetarista e o resultado societário é horrível.

Estamos na contramão do desenvolvimento, sendo que o primeiro passo seria proteger o emprego, a capacidade de investimento do governo central, os preços solidários e controlados da energia de modo a garantir as condições de produção. Isto dentro de um paradigma desenvolvimentista dentro do parâmetro capitalista. Mas, para que tais medidas ocorram, a única saída é o aumento de poder de mobilização classista. Enquanto o andar de cima negociar tranquila o custo da conta da crise de fim de modelo, dificilmente alguma medida concreta será tomada a favor das maiorias.

Na semana anterior, duas derrotas singulares no Planalto Central

Dilma vetou a solução 85/95 para a Previdência e segue fazendo a vaca tossir

Novamente a vaca tossiu em Brasília. Na fatídica 4a. feira 17 de junho a presidenta reeleita Dilma Rousseff vetou a proposta que veio do Congresso do projeto 85/95 que na prática acabava com o famigerado fator previdenciário. a Medida Provisória da fórmula progressiva é uma saída para tentar abrandar os ânimos, e já passa a valer. Como vivemos sob fraude permanente, quando a Previdênia que fecha no azul é sangrada todo ano através da DRU e aí passa a ficar no prejuízo, a mídia corporativa passa a ideia (equivocada) de que o INSS vai seguir operando no vermelho.

A lógica de que uma vez que se amplie a média de vida temos de nos aposentar mais tarde é afirmar que temos de VIVER PARA TRABALHAR e não TRABALHAR PARA VIVER. É a margem astronômica do cassino financeiro que faz com que o orçamento da União nunca seja o suficiente e não outro motivo. O que Dilma fez ontem foi - em linguagem política - um sinal direto de que vai atender os desígnios do "mercado", subordinando assim alianças e compromissos políticos assumidos publicamente em campanha. Novamente é mais do mesmo, com o perdão da redundância. Tivéssemos uma base sindical realmente classista e veículos de mídia sob orientação deste classismo (inexistente em sua maior parte) e nada disso seria tão fácil. Dá tempo de reagir ainda, mas cada instante é precioso.

A redução da maioridade penal e a Comissão Especial da Câmara

Na 4a feira 17 de junho o Brasil deu um amplo passo rumo ao retrocesso o qual estamos vivendo a partir da crise de modelo de crescimento e do 3o turno. A maior parte dos membros da Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou a redução da maioridade para crimes hediondos, baixando de 18 para 16 anos a idade para reclusão penal. A votação veio junto a uma fantasia administrativa, afirmando que os menores serão presos, mas não misturados com os maiores penalizados. Vão colocar onde? Quanto mais aumentar a população carcerária, maior será o poder das facções das redes de quadrilha, organizações encarregadas de controlar a massa e o varejo do crime (o crime de alta costuma aparecer nas operações da PF).

Precisamos urgente fazer um debate a respeito e explicar para a maioria conservadora da sociedade brasileira (a pobreza conservadora que acertadamente se revolta contra os crimes hediondos) que esta redução - ainda não aprovada em plenário - vai é fortalecer as redes de quadrilha ao invés de inibir o varejo da criminalidade, as ações hediondas que atingem a maior parte dos brasileiros e brasileiras desassistidos. É preciso um debate ampliado e a denúncia sem trégua da bancada BBB - Bíblia, Bola e Bala. Essa gente cai na malha fina da Receita, é arrolada do inquérito da FIFA e entra em constrangimento o tempo todo em função da pregação hipócrita dos neopentecostais. É hora da parte lúcida e humanista da sociedade se mobilizar, antes que seja tarde demais.

Lula e o PT em crise mútua

Ainda na crítica do intento de Lula de descolar de Dilma e do PT

Lula deu o aval para Dilma ser sua sucessora; o líder histórico dos novos sindicalistas do ABC nos anos `70 tem um poder de veto absurdo para quem atua ainda com um pé por dentro do maior partido social-democrata da América Latina. Não é nenhuma novidade se observarmos os partidos em quem na prática o PT se espelha, como o PSOE espanhol, o PASOK grego, o PS francês, o PS de Portugal dentre outros. O que pode marcar a exceção aos exemplos acima é a tradição trabalhista da legenda fundada pelos chamados sindicalistas autênticos a fundar o projeto político baseado - em parte - no movimento social fomentado pela Igreja na década de `70 brasileira. Ter um operador com tamanho poder de veto é a prova cabal de que a tendência ao personalismo em democracias eleitorais opera como tumba da própria democracia em potencial que pode existir.

Para Luiz Inácio, ao que parece, é mais relevante preservar seu próprio capital político do que ver-se associado ao naufrágio do modelo por ele próprio inaugurado. Infelizmente, estamos assistindo ao canto do cisne de uma hegemonia da ex-esquerda (o que é bom), mas ainda sem condições de colocar nenhum setor - ou um conjunto de setores - no seu lugar. No vazio político e ausência de condições reais de organização de base, tudo pode acontecer.

Vale notar que as manifestações públicas do ex-presidente se deram após o momento do congresso do partido o qual ele mesmo é um dos fundadores. A instância máxima do partido de governo acabou na pasmaceira do continuísmo, do mal menor, do possibilismo e do abandono das posições à esquerda. Até aí mais do mesmo. Eis que uma semana depois, Luiz Inácio vem à tona lançando um desafio analítico para o partido e seus seguidores.

Reforço a crítica. Espaço para resolver a política interna de uma agremiação é na sua instância máxima, e não em redes paralelas. O protagonismo social defendido pelo ex-presidente é incoerente com o pacto de classe por ele próprio operado e que faz água. Entendo, sem nenhum tipo de avaliação sectária, de que tal protagonismo só pode ser alcançado à esquerda do governo, e de preferência, através de uma forma soberana de fazer política, que não passe pelo reboquismo dos governos de turno. O desafio do Syriza hoje na Grécia evidencia minha crítica.






voltar