Bruno Lima Rocha, 02 de agosto de 2014
Neste breve texto, aponto três aberrações, duas sistêmicas e uma na forma de pessoa física, todas estas características da ex-esquerda outrora reformista. Hoje a legenda de Luiz Inácio, José Dirceu e José Genoino amarga uma eleição apertada e com reais chances de sair derrotada para uma dissidência personalista de si mesma.
A Reforma Política que nunca houve
Em junho de 2013 o país entrou em polvorosa saindo de uma longa hibernação de dez anos do lulismo. Na época a presidente Dilma Rousseff colocou o bode na sala, tirando da manga a carta da Constituinte Exclusiva para a Reforma Política. O hoje candidato a reeleição no Senado pelo Rio Grande do Sul, o decano da política profissional Pedro Simon (PMDB-RS) chegou a afirmar que a rebelião popular era inédita, pois se indignava contra o Parlamento. Meses antes, o Poder Legislativo, onde o governo tem maioria (o Executivo no Brasil quase sempre monta maiorias fisiológicas) não deixou nem passar pela Comissão o bom relatório do deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), cujo texto previa a possibilidade da população colher assinaturas eletrônicas e praticar experimentalismos democráticos, chegando até a chance de proposição de Emendas Constitucionais. Hoje estas só são possíveis por maiorias absolutas – e quase sempre vem a partir de “golpes” legislativos, tal como na famigerada emenda da reeleição – e sempre atentam contra direitos adquiridos e não regulamentados no texto constitucional de 1988. Em setembro de 2014, um mês antes do 1º turno das eleições gerais, convoca-se um plebiscito popular propondo a Reforma Política. Agora é tarde.
Governar com as oligarquias de PMDB e PP é abandonar a formação de coligações ideológicas
Mesmo sem reforma política, o Planalto de Lula e agora Dilma, poderia (deveria) haver se esforçado para criar uma regra de verticalização das alianças. Assim, seria mais factível a formação de coligações ideológicas, acabando com os palanques heterodoxos. De cima para baixo, as oligarquias estaduais perderiam espaço e – por tabela – reforçariam as oligarquias nacionais, os caciques e coronéis que controlam as convenções dos partidos. Mas, como toda estrutura termina sendo estruturante, o PT passa a ser regido por medianos caciques locais e chefes políticos nacionais, começando pelo próprio Lula, que deve ungir os candidatos para com eles se comprometer (mesmo que parcialmente) em dispendiosas campanhas eleitorais. O lulismo fecha com PMDB e PP nacionais e, por tabela, sai desesperadamente à caça dos mais de 40 milhões de potenciais eleitores atendidos em seus direitos sociais básicos pelos programas de governo. Para completar o quadro de horror, mais fácil contar com aliados neopentecostais, como os líderes da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), do que com as bases sociais impossíveis de serem identificadas.
Marina Silva é o “lulismo em si”
Marina Silva é a aberração da caricatura em que o partido reformista, ao migrar para o centro do espectro eleitoral, tornou-se. Os problemas se sucederam nesta década de poder compartilhado com o pior das oligarquias brasileiras. A tal da governabilidade e o poder de veto ao ter (ou não ter) Lula como padrinho, ampliou os horizontes político-eleitorais de quem abandonou qualquer ideologia de câmbio profundo. Marina é a consequência de tudo isso. E, para piorar, sua tentativa de criar a Rede de Sustentabilidade (Rede) foi barrada pelo TSE, ao contrário do PROS (legenda de Ciro Gomes) e do Solidariedade (sigla do inconfundível Paulinho da Força). Quem diria que isto, mais o desastre aéreo, dariam as condições para uma comoção nacional e uma onda de factóides que podem chegar a elegê-la - talvez - ainda em 1o turno (e os de sempre estão plantando como nunca!). Ai, pobre de um país que tem uma (ex) esquerda como esta.