Estrat�gia & An�lise
ISSN 0033-1983
Principal

Artigos

Clássicos da Política Latino-Americana

Coluna Além das Quatro Linhas

Coluna de Rádio

Contenido en Castellano

Contos de ringues e punhos

Democracy Now! em Português

Democratização da Comunicação

Fale Conosco

LARI de Análise de Conjuntura Internacional

NIEG

Original Content in English

Pensamento Libertário

Publicações

Publicações em outros idiomas

Quem Somos

Sobre História

Sugestão de Sites

Teoria



Apoiar este Portal

Apoyar este Portal

Support this Website



Site Anterior




Creative Commons License



Busca



RSS

RSS in English

RSS en Castellano

FeedBurner

Receber as atualiza��es do Estrat�gia & An�lise na sua caixa de correio

Adicionar aos Favoritos

P�gina Inicial












































Artigos
Para jornais, revistas e outras mídias

Soja, a rainha do Sul - 1


Campos de soja sem fim, o Rio Grande semeia a transgenia, escoa a safra pelo porto do Rio Grande, utilizando o asfalto das BRs e reconstituindo a via férrea sob controle da ALL. Exportamos dez graneleiros de soja para uma traineira de microeletrônica.

4ª, 16 de janeiro de 2008, Vila Setembrina dos Farrapos, Continente de São Sepé

O Brasil vive uma etapa inversa da construção do Estado Nacional Desenvolvimentista. Após a crise de 1929, os países da América Latina começaram a industrializar-se na política de substituição de exportações. Hoje, ancoramos a balança comercial brasileira em cima do agronegócio. Neste cenário, o cultivo de grãos (cereais, leguminosas e oleaginosas) está em destaque e a soja é a rainha. Guardadas as devidas proporções, o avanço da sojicultura é um fenômeno regional, atingindo Bolívia, Paraguai, Uruguai, Argentina e as cinco regiões de nosso país. A oleaginosa, cujo maior comprador mundial é a China, redesenha o mapa da agricultura, da economia e da política do Cone Sul. Faço a abordagem a partir de dados empíricos da soja no Brasil em geral e no Rio Grande do Sul. Semana que vem, analiso alguns efeitos desta cultura no Cone Sul.

enviar
imprimir

A estimativa de fechamento da safra brasileira de grãos de 2007 é de 133 milhões de toneladas. Na última safra recorde, a de 2003, o Brasil produziu 123,6 milhões de toneladas. Os números de 2007 são 13,7% superiores aos de 2006, quando o país alcançou a marca de 117 milhões de toneladas. O pedaço do território brasileiro ocupado pela mancha de grãos totaliza a 45,4 milhões de hectares. Quase a metade, 20,6 milhões de hectares, foi soja cultivada. Outros 9,2 milhões foram semeados com milho

Apenas como ilustração comparativa, o Brasil plantou em grãos uma área equivalente a mais do dois estados do Paraná juntos. Apenas o cultivo da soja supera em dimensão o estado natal do poeta Paulo Leminski. A oleaginosa equivale a 42,8% do total do cultivo de grãos, atingindo a marca de 58, 2 milhões a tonelada. O preço médio da tonelada de soja em grão, novembro de 2007, ficou em US$ 342,90, sendo que a exportação da oleaginosa em grão rendeu US$ 290,4 milhões. No acumulado do ano, na modalidade em grãos, a média ultrapassa os US$ 3 bi e 500 milhões.

Produzindo para o mercado externo, cotando o preço da alimentação com os mesmos valores do comércio exterior, o Brasil vive um paradoxo. Batemos recordes de produtividade e o preço do alimento sobe nas gôndolas de supermercado. Um dos exemplos mais sentidos é o do feijão. Trata-se de uma cultura com destino no mercado interno e ainda assim os preços sobem. Para o ministro da Agricultura do Brasil, Reinhold Stephanes (JC/RS, edição de 09/01/2008, pág. 9) é o patamar mundial que empurra os preços para cima. Insisto no tema e no conceito. A tal inexorabilidade da economia nada mais é do que desgoverno. Funcionassem os estoques reguladores e não haveria alta descontrolada. Mas aqui o Estado funciona como socorrista e não como eixo de planejamento estratégico. Quando planeja, atende a interesses privados. Por isso somos sempre “surpreendidos”.

Vale observar que o comando da pasta da Agricultura reflete a extensão da base aliada. Stephanes, economista nascido na divisa de Porto União (SC) com União da Vitória (PR), foi presidente do antigo INPS durante o governo Geisel, ex-ministro da Previdência de Itamar, e acompanhou a marcha rumo ao “centro” da política, passando pela Arena, PDS, PFL e por fim PMDB. Quando assumiu o ministério do setor primário, estava em seu sexto mandato como deputado federal pelo Paraná. Segue o padrão do ministério no período anterior, quando era comandada a pasta pelo professor Roberto Rodrigues, este sim, homem de confiança do agronegócio.

Ainda segundo o ministro responsável pela agricultura, pecuária e abastecimento do país, os alimentos são commodities valorizadas e em alta. Alguns fatores incidem sobre esta perspectiva, tais como: o cultivo de grãos e cana como matéria prima para geração de energia; o crescimento da expectativa de vida e os problemas decorrentes do aquecimento global e desastres climáticos.

Neste contexto, conforme já foi dito, EUA e China inclinam a balança mundial. A ainda maior potência do mundo retirou, nos últimos três anos, a 80 milhões de toneladas de milho para produzir etanol. Ou seja, o milho e derivados deixam a mesa do estadunidense para preencher seus tanques de combustível. Já a futura maior potência mundial tem um problema inflacionário no preço dos alimentos. Aumentou o consumo de carnes, grãos e lácteos, forçando os preços chineses para cima. A contra medida do governo confucionista foi baixar as tarifas de importação, tentando aumentar a oferta e estabilizar os preços internos.

Os efeitos já se fazem sentir com a busca desesperada pelo aumento da produtividade. Um exemplo é o cultivo da soja no Rio Grande do Sul, onde dos 3,8 milhões de hectares plantados, 95% foram semeados com variedades transgênicas. Não por acaso, houve um aumento de 20% do herbicida glifosato e até 50% em fertilizantes. Ainda assim, os custos com insumos por hectare eram de US$ 66,00 e com a soja transgênica é de US$ 22,00. Apenas para como exemplo da gravidade do tema, o glifosato é o mesmo herbicida utilizado na Colômbia para erradicação de coca. Vale lembrar também que no uso de sementes transgênicas, o pacote costuma ser completo. O mesmo complexo industrial que vende a semente comercializa também os fertilizantes.

Quero fazer uma reflexão. Batemos recordes de produtividade e seguimos cada vez mais dependentes dos “humores” de tecnocratas chineses. Há meio século, quando o Brasil começou a se industrializar, éramos um país agrícola que queria entrar na modernidade. Hoje somos um país ainda industrial, entrando na pós-modernidade como exportador de grãos e não de tecnologia. Enquanto a balança comercial estoura com o agronegócio, a commodity chamada feijão pesa cada vez mais no bolso do brasileiro. A responsabilidade de garantir oferta de alimento barato e de qualidade, com domínio nacional da cadeia produtiva, é tarefa de governo e de Estado.

Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat






voltar