As investigações da PF em Rondônia resultaram em espanto da memória recente. No ano de 2005 a revista eletrônica da TV Globo, O Fantástico, havia dado uma série de largas reportagens a respeito da corrupção na Assembléia Legislativa daquele estado. Até então, a relação orgânica era a pressão e chantagem dos deputados estaduais para com o governador Ivo Narciso Cassol, do PSDB. Um ano depois, o pastel inflou e não foi só de vento.
Estouradas as escutas telefônicas e vemos tráfico de influência de forma aberta e direta. Rondônia já viu assassinato de senador e de ex-governador, involucrados até a medula no narcotráfico. Também vira um dos piores massacres no campo brasileiro, durante nossa democracia midiática, na fatídica localidade de Corumbiara. Estado de fronteira agrícola, reproduz o pioneirismo do povo brasileiro e as mazelas de nossas instituições. Na implantação dos poderes estaduais, a fronteira viva manteve a longevidade para dentro do aparelho de Estado, pouco a pouco sendo transferido do governo Central para os núcleos locais.
Não podemos imaginar necessariamente a contaminação vinda da famigerada “classe política”, mas sim de uma série de relações orgânicas das elites locais e seu acesso irrestrito aos fundos do Estado. A classe é posicional e ideológica, não somente determinada na origem e no papel na produção. Bem, tamanha inconsistência teórica não é vista nem nos mais ferrenhos deterministas. No caso de Rondônia, a interdependência das elites locais e sua posição no aparelho do Estado rondoniense potencializa a capacidade de gerar controle informal nas instituições. Isto, praticado de forma sistemática e sem nada para coibir, leva a uma outra institucionalidade.
O que era um sintoma virou uma endemia, e sistêmica.