Os atores e partidos políticos gaúchos já influíram de forma decisiva nos destinos do país. Hoje andam em compasso de espera, apenas afirmando suas diferenças para o restante do país. É fato que as seções dos partidos no Rio Grande são mais orgânicas, politizadas e tem melhor estrutura que seus pares nacionais. Também é verdade que aqui as lealdades partidárias são um pouco maiores. Basta perceber que PSDB e PFL, desde que foram fundados, nunca suplantaram ao PMDB e PP e jamais foram governo no estado. Mas, ao menos por agora, os vínculos com as raízes históricas da política gaúcha param por aí. Está bem longe o tempo que, atado o lenço ao pescoço, se fazia política de a caballo. No momento, as projeções nacionais e a disputa pelo governo do estado, estão vinculadas e dependentes dos acontecimentos de Brasília.
A corrida para chegar ao Palácio Piratini passa antes pelas pretensões do governador Germano Rigotto. Se Rigotto optar pela reeleição, suas chances são grandes. Mas, se tentar algo mais ousado, antes terá de passar pela interna do PMDB, e se afirmar como candidato do partido para o Planalto. Antes porém, tem de afastar Garotinho, já disparando em franca e aberta campanha para ser o candidato do PMDB a presidente. Na sexta-feira dia 12 de agosto, o ex-governador fluminense veio ao Rio Grande do Sul, articulando com o 1º vice-presidente do PMDB-RS, o vereador de Porto Alegre Sebastião Melo. Fez campanha nas ruas e demarcou seu terreno, participando de show gospel no centro da capital. A presença de Garotinho sinaliza que o PMDB gaúcho vive disputa interna. Está se criando uma segunda voz, a de Melo e seu grupo, tentando rivalizar com os chefes da máquina partidária, Simon e Padilha.
Caso Rigotto saia candidato a presidente ou vice, está aberta a porteira para o senador Zambiasi se lançar ao governo do Rio Grande. Até o momento o PTB-RS está imaculado, e se sobreviver à crise, o radialista da RBS tem chances reais de vitória. Embora tenha nome, sua legenda não tem presença no interior. Para concorrer com segurança, conforme é seu estilo, Zambiasi deve buscar uma aliança com PPS e PDT. Esta, embora possível, já foi mais provável. Os dois partidos estão de namoro, apontando para uma aliança nacional verticalizada. O fato de terem proximidade com o partido de Zambiasi e governarem juntos Porto Alegre não basta. Nacionalmente uma aliança com o PTB é uma bomba, e nenhuma legenda vai desejar esta perto quando ela explodir. Além do que, o PPS de Fogaça, Proença Odone e Busatto já superou a rejeição do eleitorado ao ex-governador Antônio Brito. No cenário fragmentado que se aproxima, tem alguma chance de ganhar o Piratini. É uma possibilidade real, sempre e quando o PDT coloque sua estrutura partidária à disposição, e feche com o vice na chapa.
O PP, que quase sempre corre sozinho no 1º turno, agora tem de escapar da crise. A executiva estadual já rompeu, e faz muito, com a direção nacional do partido. Dizem não querer ver uma legenda histórica ser associada com mensalão e Paulo Maluf. Em parte, já tem imagem manchada, a partir das acusações sobre o deputado federal Augusto Nardes. Caso escapem, vão fazer seu coeficiente de votos e enquadrarem-se na aliança de 2º turno adversária da Frente Popular (PT-PSB e PC do B). Repetirão assim a tática aplicada para o governo do estado e da capital. Esta lhes rendeu como maior fruto, duas problemáticas secretarias de segurança pública.
A interna do PT gaúcho e suas relações nacionais é assunto complexo. A chave para compreender suas possibilidades é o papel que cumpre a volta de Olívio para o estado. Certeza mesmo, só da recomposição da Frente Popular, ainda que em 2º turno. A análise aprofundada virá na semana, em artigo que é continuidade deste.
O subsistema político gaúcho sente falta de alguma presença marcante. Alguém que por sua relevância tenha a força gravitante de posicionar os demais atores e partidos. Um chefe político de porte, capaz de projetar esta fração de classe para o cenário nacional. Segundo velhas raposas gaúchas, este homem seria o "Turco". Mas, o filho de árabes, senador Pedro Simon, anda longe do ímpeto. Distintos motivos o levam a isso. Mestre na arte da política, sabe que em 2006 terá de concorrer à reeleição no senado e não vai arriscar o pescoço agora. Como homem sábio, segue os conselhos de Martín Fierro, protagonista da magistral obra de José Hernandez e verdadeira bíblia da pampa:
"El diablo no es diablo por diablo, sino por viejo"
Originalmente publicado no Blog de Ricardo Noblat.