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Obama e a hipocrisia da Guerra ao Terror

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O presidente da superpotência não entra no tema de fundo do emprego de financiamento terrorista sunita por parte dos países produtores de petróleo

08 de abril de 2015, Bruno Lima Rocha

No dia 18 de fevereiro deste ano, em plena quarta-feira de cinzas, o presidente da superpotência, Barack Hussein Obama pronunciou um discurso ímpar. O mandatário dos EUA abria com sua boa oratória o Encontro da Casa Branca para debater soluções contra o extremismo violento. No foco de seu discurso, uma abordagem compreensiva e bastante razoável do fenômeno do terrorismo sunita de inspiração religiosa. Diretamente Obama se referia às redes Al-Qaeda e Estado Islâmico (Daesh).

 

 

Se um leigo ou alguma pessoa desinformada escutasse a fala do presidente dos Estados Unidos, acreditaria na intenção correta do mesmo. O ex-senador por Illinois é um grande orador e trouxe de improviso a melhor das tradições democráticas estadunidenses. Estas combinam uma legítima absorção do caldeirão cultural de imigrantes (melting pot) e, ao mesmo tempo, a subordinação do discurso liberal e de respeito aos direitos humanos para com a lógica da geopolítica e do mais cínico realismo nas relações internacionais. 

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Nenhum tema relevante ficou de fora do discurso do homem mais poderoso do planeta. Direitos humanos; democracia; libertação da mulher; diferenciação de sentimento religioso para com fanatismo e o respeito às culturas diferentes do planeta. A fala foi tão bem elaborada que em algumas ocasiões foi dito em alto e bom som: “combater ao Daesh e a Al-Qaeda não se trata de uma versão de choque de civilizações”. Seguiu afirmando ser “o Islã uma religião de mais de um bilhão de fiéis sendo sua ala terrorista uma ínfima minoria desesperada por legitimidade”. Seguiu afirmando “não ser a pobreza causa direta do jihadismo, mas um dos fatores que retroalimentam as mentiras dos sheikhs”.

 

 

O ponto alto do discurso houve quando Obama reconheceu que havia alguma aceitação por parte de imames não jihadistas em função da relação “não produtiva” do Ocidente para com estas sociedades tradicionais. Depois, apontou para a juventude islamizada como a maior potencial aliada da Casa Branca na “luta contra o integrismo”. A parte hipócrita do discurso encontra-se na ausência de elementos estratégicos.

 

 

A mentira e desinformação estrutural não abrem margem para o debate franco. Os Estados Unidos sequer citam que as cidades sagradas de Meca e Medina estão sob a guarda de um Estado absolutista e wahabbita, a Arábia Saudita, sua aliada estratégica. Ao não citar a monarquia saudita, isenta por tabela os demais aliados extratores de petróleo, como EAU, Bahrein, Qatar, Omã e Kuwait.  Todos estes Estados são absolutistas e têm entre os membros de sua reduzida elite dominante, reconhecidos simpatizantes tanto da Al-Qaeda como do Daesh. Vale observar que o Estado saudita hoje avança a passos largos para o confronto através de aliados indiretos promovendo a guerra intra-islâmica contra os aliados xiitas do Irã. Grupos satélites de ambos os países combatem nos territórios dos Estados falidos da Síria e do Iraque e agora diretamente no também Estado falido do Yêmen.

 

 

O avanço nas negociações do acordo nuclear do Irã aponta para um novo equilíbrio de distribuição de poder e alianças na região. O xiismo conservador gera mais estabilidade do que o sunismo conservador, e, o Estado persa tem mais pré-disposição para a defesa interna do que os sauditas. Ao aproximar-se do governo Rouhani, Obama pondera em sua hipocrisia e opta por desagradar em parte seu aliado estratégico que chega ao ponto de impor sua agenda (Israel) sobre o Departamento de Estado de Obama em sua última fase de governo.

 

 

Por fim, Barack Hussein só não falou o óbvio. Enquanto não houver ao menos uma solução para a ocupação israelense de Gaza e Cisjordânia, um significativo avanço nas negociações com o Irã (já ocorrido) e, o mais importante na questão integrista, enquanto a Turquia não interromper suas linhas de apoio ao Daesh, toda fala estadunidense será um conjunto de palavras hipócritas de efeito quase nulo nas sociedades concretas do Oriente Médio.

 

 

Artigo originalmente publicado na edição impressa do Jornalismo B.






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