No dia do golpe de Estado que derrubara um Império caduco, o país celebra a proclamação de sua república tardia. Os movimentos republicanos, de fato e de direito, com a convocação dos setores excluídos da sociedade escravocrata, haviam ocorrido ao menos 50 anos antes. Nossa república não nasce de um apelo por nacionalidade, mas sim de um recâmbio na interna da classe dominante e do funcionalismo público e militar residente na sede do Império, o Rio de Janeiro dos tempos de Machado de Assis.
Após a crise de representatividade e legitimação dos poderes vividos em 2005, tudo terminara nas urnas como se esperava. O dia 15 de novembro, em 2006, termina por refletir a pasmaceira da república que surgira após a vitória do Império, do centralismo e da escravidão por sobre os alçamentos republicanos anteriores. Iniciados nas conjurações baiana e mineira, os povos do Brasil e então do Grão-Pará atravessara, situações limite em levantes como a Confederação do Equador, a Balaiada, a Sabinada, a Cabanagem, a Farroupilha e a Praieira; dentre outras.
A república nascera da espada e se confrontara com o povo, não nas praças, onde atônitos, os populares viram no Campo de Santanna ao marechal proclamar a liberdade das instituições do jugo imperial. Vira sim, o positivismo francês se defrontar com o sertão adentro, na guerra camponesa de Belo Monte e Bom Conselho. Em Contestado, outra vez mais nossa republica se viu desafiada por aqueles que estavam além das margens dos trilhos da ferrovia inglesa, financiada com recursos do tesouro do estado do Paraná.
Há que se reconhecer que a estrutura “republicana” tem muito pouco de coisa pública, de res publica, conforme aprendemos e reproduzimos PPGs afora. Como afirmara o cronista oficial da quartelada de 15 de novembro, o jornalista e futuro senador fluminense Quintino Ferreira de Sousa Bocaiúva:
“E o povo bestializado assistira a parada militar que proclamava a tal de república!”