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Análise inicial das eleições nacionais no primeiro turno

fatos e personagens

Teremos mais um embate clássico entre o tímido keynesianismo tardio e o neoliberalismo que precisa esconder o que realmente quer fazer.

05 de outubro de 2014 Bruno Lima Rocha

 

Dilma Rousseff (PT) teve cerca de 41,60% dos votos, seguida por Aécio Neves (PSDB) com 33,56% dos votos e Marina Silva (PSB) com 21,32% dos votos. Este é o quadro aproximado após a quase totalidade das urnas apuradas. Podemos chegar a distintas conclusões do processo. Antes cabe um retrato imediato acompanhado por uma narrativa dos dias prévios do primeiro turno.

 

 

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A véspera da eleição e as pesquisas que quase nunca acertam

 

Acompanhando as pesquisas divulgadas na véspera da primeira rodada, já víamos a possibilidade real de Aécio Neves seguir para o 2o turno. Marina, mesmo que passe, (não passou) já chega com muito desgaste. Eu já escrevi que o lulismo só perde para si, ou sua dissidência. Fiz um constructo afirmando que a Marina era o "lulismo em si", e confundia-se com o mito ao afirmar "não é um discurso, é uma vida". O problema foi esse, pretender concorrer ao cargo executivo da 7a economia do mundo como se fosse um personagem beatificado, isento de críticas e apontando para o "novo".

 

O que não se entende é como o staff de Marina e mesmo antes com Eduardo Campos, resolveu se aproximar de neoliberais de carteirinha, como Eduardo Gianetti da Fonseca e André Lara Resende?! O segundo foi presidente do BNDES quando do escândalo do Leilão do Sistema Telebrás sendo a mesa de PABX (central telefônica do edifício-sede do banco de fomento) grampeada. Os apoiadores de Marina poderiam traçar estas mesmas alianças, mas sem trazê-las a público. Some-se a presença de Neca Setúbal como eminência parda no programa de Marina e não resistiu. A ex-senadora ficou grudada neste flerte tucano e, sendo atacada sistematicamente, demonstrando fragilidade e com um PSB titubeante, não resistiu. Até pode ir ao 2o turno, mas já chega abalada, como alguém ferido a tiros que tem de seguir combatendo.

 

No segundo turno entre PSDB e PT, o país vai assistir uma polarização bem brasileira. A ex-esquerda que ainda mantém compromissos distributivos defrontando-se com o neoliberalismo à moda tupiniquim. Com Aécio, a banca enlouquece de alegria e os veículos de comunicação também, a começar pela emissora líder. Convido a quem pensar que estou "imaginando coisas" a retomar a cobertura da véspera das eleições (do sábado, 04 de setembro) para constatar o óbvio. Na segunda volta, teremos o dólar passando R$ 2,50 e com os especuladores querendo repetir os R$ 4,00 de 2002; uma terrível pressão midiática e a produção de fatos midiáticos através das investigações da Petrobrás e a delação premiada de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa. O PT vai reagir com o voto útil e a comparação entre os governos. O lulismo deve ganhar – ao menos está como favorito - esta eleição também na segunda rodada.

 

 

Os consensos e as ideias-força manifestos no último debate de 1º turno

 

Impressiona observar que as ideias básicas do neoliberalismo sofrem de ampla rejeição do eleitorado. Se as pesquisas de tracking realizadas pelas candidaturas majoritárias bloqueiam pontos polêmicos, então a experiência real vivida por milhões de brasileiros nas duas décadas perdidas (a dos '80, com estagflação) e a dos '90 (sem inflação, mas com o desmonte do amparo e do Estado como ente público) gerou uma espécie de consciência coletiva que atravessa as operações de silenciamento da mídia empresarial e mesmo dos acórdãos espúrios das elites dirigentes.

 

Traduzindo: mesmo que o programa econômico de Aécio e Marina flertem com a liberação do capital financeiro e com a criação de um poder para-estatal com a independência do BC (independente da política e dependente dos bancos e especuladores) nenhum deles pode dizer isso em voz alta. Quem o fizer, perde feio, ainda que possivelmente percam na segunda rodada.

 

Apontando as primeiras conclusões

 

Neste momento, nas 24 primeiras horas após o fechamento das urnas, o lulismo continua favorito e a chave para a possível vitória nas urnas está na fidelização dos votos neopentecostais do Rio, dos eleitores de Requião no Paraná, na ascensão do PT na Bahia (indo para o terceiro governo) e na campanha em Minas Gerais, onde o candidato petista ganhou o governo estadual em 1º turno. Assusta o PT a expressiva votação em São Paulo, a provável derrota no Rio Grande do Sul e a imprevisibilidade das executivas estaduais do PMDB. Apavora o PT a possível aproximação de Marina com a campanha de Aécio e a fragmentação evidente que sofrerá a estrutura partidária do PSB. Com um terço dos votos de Marina e Dilma vence com tranqüilidade. Pernambuco pode decidir esta eleição.

 

Dilma será obrigada a agir como Serra fez quando contra ela concorreu em 2010 e contra Lula em 2002. Terá de instaurar o discurso “tenhamos medo”. O pavor social seria a possibilidade – nada inequívoca – de que um governo tucano iria desmontar o aparelho de Estado fortalecido pela coalizão liderada pelo PT e oligarcas e, paulatinamente, retirando os tímidos programas de distribuição de renda.

 

Nos anos ’90, o ex-presidente do Banco Central de FHC, Gustavo Franco (antecessor de Armínio Fraga) afirmou que “nos resta ser neoliberal ou neoidiota”. Os tempos mudaram e os consensos também, incluindo o de Washington. Se a coordenação de campanha tucana literalmente disser o que pensa, a sucessora de Luiz Inácio será reeleita.

 






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