A maior possibilidade que a oposição estadual – situação no plano federal - ainda tem para derrubar a governadora Yeda Crusius é obter uma prova material que ligue sua pessoa física aos desvios e mal uso de verbas públicas. Relatório paralelo, manobras midiático-judiciais, tudo isso é secundário. A CPI finda aos poucos e com o mesmo labirinto da CPI dos cartões corporativos. Tanto lá como cá, o relatório sai oficialista e a bancada oposta grita como pode. O problema de fundo é conseguir uma prova material contra Yeda Crusius. Até agora, tudo não passa de especulação. É preciso aparecer algum dado de movimentação bancária, um depósito, um cheque, ou algo por estilo. Se este dado for um cheque em torno de R$ 2 milhões de reais assinado por alguém do quilate de Delson Martini, eis a abertura do caminho para sua queda.
O cheque famoso esse, ou o depósito bancário, não precisaria necessariamente ser para Yeda. Se for de alguma pessoa física ou jurídica de relação direta com a governadora, destinado para uma conta bancária sob controle de Eduardo Laranja da Fonseca. Como se sabe, o empresário da construção civil, dono da Self Engenharia, era proprietário da atual residência de Yeda Crusius. Em tese, a casa teria sido comprada por R$ 400 mil; outras teses levantam o valor da casa de R$ 750 mil. De qualquer modo, estes valores não passam de um terço do valor real de mercado imobiliário para o mesmo bairro e rua. No bairro Moinhos de Vento, alguns apartamentos alcançam o valor de R$ 2 milhões. Uma casa na mesma rua é avaliada por cerca de R$1,3 a R$1,5 milhão. A difusão de uma peça midiática, com a escritura – documento de fé pública – da casa de Yeda comparada com uma casa vizinha e dotada das mesmas benfeitorias seria fundamental. Porque até agora não foi feito, é mais um mistério da trama Planaltina com o Piratini. Em suma, haveria de perguntar para Tarso Genro, homem forte do RS no Planalto.
Voltando ao tema da compra da casa, o ex-proprietário Eduardo Laranja da Fonseca é dono da Self Engenharia, e assim como a maioria dos médios e grandes empresários gaúchos, faz parte do time dos devedores da Receita Estadual. Portanto, o fato contábil dele estar em dívida com o fisco estadual pode ser de mão dupla. Se a meta é atingir Yeda, acabaria alcançando Paulo Afonso Feijó também. Tampouco existe evidência de dívida de Feijó, nada tão constrangedor como o engavetamento da cobrança – portanto o calote regimental – assinado pelo poder público beneficiando ao ex-proprietário do Correio do Povo, Renato Ribeiro.
O brete para o Piratini e seu Gabinete de Crise está na difusão do calote. Se alguém da Receita vaza a lista da dívida ativa, com nome, CPF e CNPJ dos caloteiros, Federasul, Fiergs, Farsul e Fecomércio-RS veriam suas bases de empreendedores desesperados com a difusão do nome dos devedores para os cofres do RS. É impasse anunciado e portanto, duvido que o tema da dívida empresarial seja utilizado.
Como o esquema das sistemistas obriga a bancada de “esquerda” a denunciar todo o entorno de Yeda, é óbvio que a bomba atinja o colo do PDT, aliado circunstancial e provisório do PT RS, mas cuja aliança momentânea não poupa a atuação de João Luiz Vargas no Tribunal de Contas do Estado. Se o esquema da aliança de governo implica sociedade política e de negócios, a presença do ex-prefeito de São Sepé na presidência do Tribunal de Contas implica na “parceria” dele, através de seu filho, Eduardo Wegner Vargas, operando na ala de Ferst das sistemistas. Pressionar Vargas pode ser uma forma de atingir a Pensant, e a partir daí cairia a Província toda. O efeito contrário é retirada do PDT da linha de ataque na CPI. Não é coincidência que a legenda herdeira de Brizola assina junto às siglas que compõem o Gabinete de Crise de Yeda, o requerimento para abrir uma “Comissão de Representação Externa”, o embrião de uma CPI voltando os holofotes contra o MST. Isto faz a alegria da mídia comercial gaúcha e livra Yeda dos constrangimentos.
Esta nota foi reescrita especialmente para ser publicada na Agência Chasque.