Não é novidade ver pesquisa eleitoral dar errado. Em Canoas foi o que ocorreu quando totalizaram os votos das urnas. O candidato Jairo Jorge, venceu a batalha no primeiro (46,51% dos votos) e no segundo turno com 52,63% dos votos válidos. A vitória foi sobre um dos candidatos de continuidade da gestão Marcos Ronchetti (PSDB). O PT Amplo, coligado ao PP e com a bênção de Tarso Genro, derrotou seu opositor, o atual vice-prefeito, Jurandir Maciel, (47,37% dos votos), no município mais populoso da Região Metropolitana de Porto Alegre.
Jairo acompanhou voto a voto a apuração em seu comitê no centro de Canoas. Na comemoração com os simpatizantes, Jurandir apareceu de cadeira de rodas, levando constrangimento e um princípio de tumulto. Por falar em tumulto, o coronel Paulo Roberto Mendes desautorizou o Comandante do Policiamento Metropolitano o comando do 15º BPM e foi ele mesmo “impor a ordem eleitoral” na terra de Chico Fraga. A transição de governo deve ser tensa. O ex-jornalista do Sindicato dos Telefônicos, Jairo Jorge, repetira como mantra a palavra “honestidade”. Ou seja, a vassoura janista pode vir por aí. O novo prefeito eleito já discute a implementação de diversas medidas para alcançar suas metas. Entre elas estão a criação de um órgão fiscalizador das ações do governo. A alegação é o combate à corrupção, mas o ponto nevrálgico é a revisão de contratos. Se conseguir separar os interesses da antiga gestão e criar regras que afastem as cooperativas privadas da prestação terceirizada de serviços públicos, pode fazer um golaço.
“Vou fazer um choque de honestidade”, enfatizou Jairo Jorge, em entrevista à RBS TV. E reafirmou que as características fundamentais que vão nortear as escolhas para a formação do governo são a “sensibilidade política” e a qualificação técnica. A novidade discursiva é digna do “peremptório” do ex-líder do PRC, Tarso Genro. Esse conceito de “sensiblidade” na política pode dar teses sem fim na ciência política neoinstitucionalista praticada pela hegemonia do campo acadêmico nos pagos de Bento Manuel Ribeiro,
Jairo Jorge é jornalista, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tem 45 anos e foi vereador em Canoas, sua cidade natal, entre 1989 e 1992. Seu mandato foi caracterizado pela intermediação da política representativa com a luta popular. Seu capital político foi o meio de campo, levando as demandas de moradores das vilas e bairros desprivilegiados. Na campanha de 2008, se candidatou para prefeitura escorando a imagem na ligação com o presidente Lula. Seu campo de aliança e apoio reconhece a Tarso Genro, atual ministro da Justiça, como chefe político. Jairo acompanhou o irmão de Adelmo Genro, trabalhando como CC (adjunto) no Conselho de Desenvolvimento Econômico e no Ministério da Educação em 2003. Ainda ocupou o cargo de ministro interino da educação em 2004. Nunca é demais lembrar que ao se candidatar para prefeito, Jairo Jorge se licenciou de uma pró-reitoria da falimentar Ulbra.
A transição
Um encontro com o atual prefeito, Marcos Ronchetti (PSDB), na quarta-feira (29/10/2008) iniciou o processo de transição. Na reunião, Jairo confirma uma reformulação de secretarias e dá a entender um acordo transitório. Declarou “esperar transparência nas contas do município”. Para bom entendedor, meia palavra basta. Se os números vierem entreverados, o entrevero será grande para o maior município até então governado por um aliado de Yeda Crusius. O Piratini deve ter aguardado aflito esta reunião. Não duvidem que os próximos dois meses, até 1º de janeiro de 2009, cada dia será um aumento de pressão entre o candidato a candidato ao Piratini, que somado ao aliado político canoense, pode e deve emparedar o governo que teve nas costas a CPI do Detran-RS. A República de Canoas pode vir a ser o alvo da derrama de Tarso.
Pouco após as 14h, Ronchetti, recebeu o sucessor em seu gabinete e, com portas fechadas, ouviu suas solicitações. Entre os pedidos, estava o fechamento da Agência Municipal de Regulação dos Serviços e Saneamento e demais serviços públicos delegados de Canoas. O prefeito eleito pretende diminuir o número de pastas e criar novos órgãos, como a Controladoria Geral do Município e a Secretaria de Cultura. Não resistimos a um comentário. Pau que dá em Chico não pega em Dr. Francisco. Se Rita Sanco fizer a mesma proposta em Gravataí, teremos a Sérgio Stasinski nas cordas e uma possível CPI entre petistas.
Para garantir que a patrola virá, seguindo o lema da “transparência nas contas do município”, Jairo deverá ainda pedir uma auditoria na prefeitura! Isto pode trazer à tona eventuais provas materiais de desvios de verba, corrupção, superfaturamento e outros fatos políticos que foram fruto de escândalos cometidos durante a administração de Ronchetti. Se a auditoria encontrar o que está procurando, terá a opção da filtragem dos fatos. Caso apareça a carta na manga, a ligação de Rubem Roher e Chico Fraga com Lair Ferst, a bateria eleitoral estará apontada para a residente na Rua Araruama, bairro Três Figueiras da Leal e Valorosa capital gaúcha. Se provas contábeis surgirem, resta saber se Ronchetti vai matar no peito e encarar a ressaca apenas com sua traineira? Caso nada mais contundente seja encontrado, o barulho midiático já terá valido a pena. Há uma desconfiança em relação as contas públicas de Canoas. A prefeitura de Ronchetti anunciou muito em rede estadual e em rádios AM poderosas. E, se Jairo Jorge usar de sua experiência profissional e abrir as planilhas de mídia, novamente teremos ressuscitada a “listinha” que correu à boca pequena durante a CPI do Detran-RS.
O novo prefeito sabe que agora o céu é o limite. Está aberta a porteira para o primeiro escalão da política da província. Após 23 anos de trajetória, governar a mais de 300 mil habitantes não é pouca coisa. A resposta para as dúvidas está na equação: governo municipal + articulação do eixo BR 116/Vale dos Sinos + verba federal abundante visando a 2010. É a chance dos governos petistas de Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Sapiranga não aproveitarem esta oportunidade de construir uma reserva eleitoral na Região Metropolitana. Para cumprir esta meta, tem de entrar o chefe político Tarso Genro, o ministro das Cidades Marcio Fortes (do PP) e Lula em pessoa. Brasília terá de pagar a conta para o PT cobrar a fatura nas urnas de 2010.
Este artigo foi originalmente publicado no portal do jornalista Claudemir Pereira, de Santa Maria da Boca do Monte – região central do Rio Grande