Ou quando a ciência política faz a sua escolha racional para desconstruir as formas de luta popular em benefício da democracia minimalista e sob controle do sistema financeiro. O “cientista” abaixo é exemplo dessa opção de filiação ao pensamento guia original dos países centrais e iniciados na restauração conservadora de Thatcher e Reagan.
Vale lembrar, tudo começa na data nacional de lua, dia 23 de maio, quando após mais de quatro anos, boa parte do movimento popular gaúcho e brasileiro se colocam em posição de ataque. No Rio Grande do Sul, convenhamos, as medidas de luta até foram tímidas e ordeiras, se comparado com a tomada da hidrelétrica de Tucuruí.
Ainda assim, o periódico, Zero Hora, na reportagem especial, páginas 4 e 5, edição de 6ª feira, dia 25 de maio de 2007, Ano 44, No. 15.245, 2ª edição, trás a manchete “Em busca de atenção!”. E, obviamente, aportam opiniões “científicas”. Dois daqui e outros dois em nível nacional. Recortei aos dois da província.
O subtítulo aponta que: “A opinião de cientistas políticos sobre a eficácia das manifestações”
André Marenco, cientista político, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), decorre sobre sua idéia de “eficácia”, isto sem expor as premissas, portanto, levando a falsas afirmações porque os pressupostos são inexistentes.
Pergunta o ilibado veículo:
OS MOVIMENTOS NÃO SE PREOCUPAM COM A POPULAÇÃO?
“Não. Revela a pouca inteligência dos sindicalistas porque provocam a ira da população em geral. Eles conseguem o contrário do efeito pretendido. Geram desconforto e, conseqüentemente, antipatia.”
PROTESTOS DE RUA QUE CAUSAM TRANSTORNOS GARANTEM O APOIO DE CIDADÃOS?
“Dá a impressão de que não importam os resultados. Importa muito mais essa coisa febril, o ativismo, fortemente partidarizado do que propriamente os resultados. Quandohá uma organização em torno do resultado,há uma certa dose de racionalidade.”
OUTRA FORMA DE DEMONSTRAR DESCONTENTAMENTO ATRAIRIA MAIS APOIO?
“Não há problemas em fazer manifestações, passeatas e panelaços na rua. É uma maneira legítima em uma democracia. Agora, tem de fazer as coisas sem prejudicar a população. Essa falta de sensibilidade dos sindicalistas é espantosa.”
Observemos os argumentos: pouca inteligência - coisa febril - falta de sensibilidade. André Marenco parte do princípio da escolha racional, segundo seu próprio ponto de vista. Ou seja, o de maximizar os ganhos, dentro das regras do jogo, e não ferindo os constrangimentos da ordem. Simplesmente, sociedade alguma pode mudar assim. O ato de rua constrange e ataca a ordem da cidade. Cortar o trânsito é como cortar uma artéria, bloqueando um acesso, obrigando o poder local do Estado a se envolver no conflito.
O confronto em si, eleva o nível de envolvimento dos manifestantes, gerando maior cumplicidade diante do perigo eminente. Este é um papel didático da repressão, e buscá-lo, faz parte do processo pedagógico de uma categoria ou setor de classe.
Sim, isto se e caso o analista entender que ainda existem classes e conflitos sociais irreconciliáveis. Caso pense que não existe, sugiro modestamente que observe os habitantes do Arroio Dilúvio. E, não me refiro às capivaras, mas aos seres humanos sobrevivendo nas cloacas da capital brasileira da urbanidade.
Vale notar como André Marenco consegue a proeza de se posicionar à direita de Paulo Moura. Basta comparar as duas Notas e as respectivas observações.