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O silêncio que antecede o badalo


A sineta, símbolo do poder de organização da categoria dos professores da rede estadual gaúcha, prepara-se para badalar assim que a secretária Mariza Abreu começar a restauração modernizante.

Fevereiro de 2007, Vila Setembrina dos Farrapos, Continente de São Sepé

A julgar pelo modus operandi de governos marcados pelo choque de gestão aplicado nas relações de trabalho, o ano de 2007 será crucial. Para compreender o que se passa no pago neste aspecto, é necessário um pequeno giro na história recente.

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Ao assumir o governo da Inglaterra em 1979, Margaret Thatcher enfrentou e venceu uma greve mineira de quase um ano de duração. Além de derrotar o mais poderoso dos sindicatos ingleses, a vitória do Partido Conservador abriu caminho para um avanço nos níveis econômico (com a privatização), político (nas seguidas vitórias eleitorais) e ideológicos (disseminando valores e conceitos do neoliberalismo).

No final do verão de 1995, o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso se depara com uma greve nacional da categoria petroleira. Representada pela FUP, Federação Única dos Petroleiros, trabalhadores especializados que detinham a carga simbólica do orgulho nacional-desenvolvimentista. Os servidores da Petrobrás quase levaram a greve às últimas conseqüências, vindo a perdê-la nas multas judiciais e em duas instâncias da Justiça do Trabalho. FHC dava provas de pulso, abrindo o caminho para sua parcial reforma do Estado, mas aplicando firme a política de privatização.

O Rio Grande em crise e endividado optou, por maioria de 6% de votos, pela aplicação do “novo jeito de governar”. Isso implica na metodologia gerencial contemporânea para tratar assuntos de Estado, pela qual se gerencia a coisa pública com a mesma rigidez de um plano de metas do setor privado. Por essa lógica, o rigor tem de ser aplicado na luta pelo controle da mão de obra. Em se tratando de governo, esta escola gerencial significa dobrar a espinha dorsal do sindicalismo público.

O Cpers cumpre no serviço público gaúcho do início do século XXI, papel semelhante ao da FUP para os servidores federais dos anos ’90. Fazendo analogia da categoria com um contingente mobilizável, o sindicato tem de azeitar seus dispositivos de mobilização para cumprir com as metas definidas por suas instâncias políticas. Fazer oposição social aos planos e metas do enxugamento do Estado gaúcho não será tarefa fácil, numa categoria dividida e que, ademais, descobre-se doente. Este fato de por si já explica a situação real de quem trabalha na ponta da educação pública. Se fosse uma tropa regular, esta teria uma boa porcentagem de soldados doentes, mal alimentados e feridos. No mundo real e sem analogias, o dado não é muito diferente.

O tempo corre e as medidas urgem de ambos os lados. Não é da cultura da categoria declarar greve em um primeiro ano de novo governo. Disso sabem tanto a direção do Cpers como uma de suas ex-diretoras, Mariza Abreu, agora Secretária de Educação do governo Yeda Crusius. As conquistas deste sindicato somente vieram através de luta mobilizada, e, assim, o relógio anda contra a nova administração e os dirigentes sindicais.

A aplicação dos anunciados projetos de municipalização e do índice de produtividade, obrigará, fatalmente, a direção do Cpers a agir. Provavelmente, a sineta ficará em silêncio no primeiro semestre, para reagir badalando alto já a partir de julho ou agosto.

Artigo originalmente publicado, revista mensal Voto, na página 34, seção de Política Sindical. A publicação é especializada em política estadual, e com circulação no Rio Grande, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio e Brasília.






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