Na Nota anterior, iniciamos um esforço conceitual para caracterizar o PCC de uma forma justa. Ou seja, não com uma visão de academia elitizada, preconceito de classe ou soberba intelectual. Se conseguimos ou não, é outro tema, mas no reino das mediocridades pelegas que grassa e impera entre os trabalhadores do 4º setor, incluindo dentre estes, os de opinião e informação, cremos que o esforço por si só já válido.
Voltando ao tema desta segunda, o PCC é um fenômeno que tem de ser observado como al. Algo mais ou menos inovador, com grau de violência e confrontação com a ordem constituída muito superior aos seus sócios do CV do Estado do rio. No livro de Quatrocentos contra Um, escrito por William da Silva Lima, o Professor, fundador do CV, se nota que os ditos tempos românticos da rede de quadrilhas foram os quatro primeiros anos, justo quando o grau de enfrentamento com O estado era muito mais elevado. Bem, o PCC vem aumentando este grau de confronto, paulatinamente, ao longo dos últimos 10anos, e especialmente depois da mega-rebelião do Carnaval de 2001.
Condições e capacidade de buscar uma estabilização com os mandatários do sistema de segurança paulista existem. Portanto, porque não se dá nenhuma espécie de acordo, a não ser tratados assinados com sangue e sempre a partir da correlação de forças? Uma primeira resposta para esta pergunta, é saber se atender os direitos legais e constitucionais dos presos é uma reivindicação passível de ser cumprida? Uma segunda pergunta é saber se há vontade de exercício destes direitos? Obviamente a resposta para ambas é um sonoro e brutal Não!
Sendo assim, o que resta? Do ponto de vista legal as medidas necessárias de fato não serão tomadas. As famílias dos apenados continuarão a fornecer as lágrimas necessárias para aumentar a audiência dos programas de TV e rádio, especializados na tragédia alheia. Do ponto de vista policial, as forças da ordem sempre vão preferir a força bruta ao trabalho fino e a racionalização de recursos. Tanto ao nível nacional como nas polícias estaduais e agora com as guardas dos municípios. Portanto, a bola está com o PCC.
O sistema carcerário está em colapso, em condições desumanas e serve como fermento de mais e mais rebeliões. Afirmamos isso há dois meses atrás, quando escrevemos os artigos “O PCC e o mundo dos absurdos” e “A babel policial brasileira”. E, seguimos afirmando. O Partido do Crime é um fenômeno novo, organizador da vontade de vingança contra a sanha repressiva bestial dos porões da sociedade brasileira. Quanto mais estúpida for a reação do Estado, mais fatos políticos violentos serão gerados.
Quem interpreta corretamente antevê os futuros cenários. O depois já inútil, tão difícil de tragar como as declarações vazias daqueles tardiamente arrependidos, como o “Dr. Lembo da Mackenzie, O Azarado sincero”.