Estrat�gia & An�lise
ISSN 0033-1983
Principal

Artigos

Clássicos da Política Latino-Americana

Coluna Além das Quatro Linhas

Coluna de Rádio

Contenido en Castellano

Contos de ringues e punhos

Democracy Now! em Português

Democratização da Comunicação

Fale Conosco

LARI de Análise de Conjuntura Internacional

NIEG

Original Content in English

Pensamento Libertário

Publicações

Publicações em outros idiomas

Quem Somos

Sobre História

Sugestão de Sites

Teoria



Apoiar este Portal

Apoyar este Portal

Support this Website



Site Anterior




Creative Commons License



Busca



RSS

RSS in English

RSS en Castellano

FeedBurner

Receber as atualiza��es do Estrat�gia & An�lise na sua caixa de correio

Adicionar aos Favoritos

P�gina Inicial












































Artigos
Para jornais, revistas e outras mídias

Municípios, improbidade e pacto federativo


As mazelas e reclamações da CNM são tão verdadeiras quanto às improbidades administrativas e o desmando que o clientelismo de baixa intensidade gera

Bruno Lima Rocha

4ª, 16 de abril de 2008, Vila Setembrina dos Farrapos Caídos; Continente de São Sepé de ‘Mbororé; Liga Federal de los Pueblos Libres de José Gervasio y Andresito Guacuray

Enquanto escrevo este artigo acontece em Brasília a XI Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios. Organizada pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o evento aponta as mazelas do sistema federativo nacional. No país temos 5.564 municípios, sendo que destes, se esperam ao menos 4 mil prefeitos reunidos na capital federal. Desde a Constituição de 1988 vivemos uma situação controversa na administração pública brasileira. Aumentaram as atribuições das prefeituras e encurtaram suas fontes de arrecadação. Excesso de atribuições e falta de fiscalização é uma combinação bastante problemática.

enviar
imprimir

No que diz respeito da partilha impositiva, do total de impostos arrecadados no país, a União fica com 58,14%, os estados com 25,27% e 16,59% é dos municípios. O problema reside na relação política. Com pouca autonomia, os administradores obedecem a uma lógica de barganhas e emendas, onde operam deputados estaduais e federais. O sistema de liberação de recursos garante palco e palanque a cada dois anos. Todos sabem que a pior das mesclas é a soma de curral político, obras pontuais para fins eleitoreiros e guerra fiscal. Para mudar este cenário, não resta saída além de maior dotação orçamentária para as prefeituras, revisão do pacto federativo e tudo acompanhado de maior controle público.

Alguns podem argumentar existem os espaços institucionais de fiscalização e participação. É verdade, no Brasil não faltam conselhos de todos os tipos. Não há ausência de debate, o que há é falta de capacidade resolutiva. Com as prefeituras endividadas e os administradores apertados pela Lei de Responsabilidade Fiscal, restaria pouco ou nada para fazer. Esta é uma verdade parcial.

Qualquer situação de dependência de um órgão político para outro é ruim. Se esta relação implicar a gestão de parte do Sistema Único de Saúde (SUS) e da rede pública municipal de educação, então a catástrofe é eminente. É certo, se a União não centraliza o que arrecada e repassa para os municípios mais pobres, é inevitável que os lugares mais ermos, com vocação rural, pouca tecnologia de informação, e carência crônica de serviços básicos entrem em estado de calamidade pública permanente. De outro, não há chance de desenvolvimento sustentado na base da subordinação.

Entre as obras e serviços nos municípios e o repasse de verbas pela União sempre há um ou mais políticos profissionais em situações no mínimo embaraçosas. O ocorrido é quase sempre mais do mesmo. Obras federais aplicadas nos municípios e usadas como dividendos eleitorais visando o pleito de 5 de outubro próximo. Para quem considera que exagero nesta relação de obras, liberação de recursos e chancela de um ou mais partidos, vale reproduzir a fala do ministro das Cidades, Márcio Fortes, durante reunião entre correligionários do Partido Progressista (PP), realizada na Câmara na quarta 9 de abril:

“Os prefeitos que não querem ir eu os obrigo a ir. Na semana passada, o Fetter disse que não podia ir ao evento em Porto Alegre (liberando obras do PAC para o Sarandi, zona norte da capital gaúcha, assim como outras cidades do RS) e eu falei a ele: “Se não for, eu não assino o convênio.”

Como é sabido, o ministro indicado por Severino Cavalcanti para o lugar de Olívio Dutra, ameaçava não assinar convênio do PAC para obras de saneamento e infra-estrutura na cidade de Pelotas, onde Fetter Júnior (PP) é intendente. Justiça seja feita, esta forma de fazer política não é exclusividade do governo Lula, do PP, da base aliada ou de um partido em específico. Mais difícil do que mudar um governo é alterar uma cultura política arraigada por séculos.

Já as administrações municipais, longe de serem vítimas da voracidade da União, são, em sua maioria, cúmplices dos desmandos e improbidades administrativas. Mais uma vez recorro aos fatos. Até abril de 2006, a Controladoria Geral da União (CGU) havia investigado as contas de 1.041 municípios brasileiros, cerca de 20% do total. E, nestas administrações investigadas, chegou-se a conclusão que havia roubo em até 80% dos municípios! E de que se trata o desvio de verbas, em sua grande maioria? Justamente dos repasses do governo Central para os entes federados. Tudo obedece à lógica de que, quanto mais distante está o recurso, mais difícil será para fiscalizá-lo.

Fato recorrente, na semana passada foram os pequenos municípios do Rio Grande a caírem na investigação do Ministério Público Estadual. A Operação Gabarito desvendou um esquema de fraudes em concursos públicos de prefeituras e em conluio com as empresas que aplicam as provas. Considerando que a Província tem 496 municípios, aproximadamente, uma em cada cinco cidades está implicada somente neste tipo de fraude.

O tema dos desmandos municipais é algo complexo e necessita de uma solução de longo prazo. A urgência implica uma mudança no pacto federativo através de reforma tributária, orçamento municipal condizente com as atribuições e a ação fiscalizadora no local. Mas, a complexidade da trama vai além dos mecanismos institucionais. Trata-se de problemas estruturais e que dependem de uma mudança de cultura política e o aumento do controle público sobre as administrações locais.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat






voltar