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No Brasil, a “venezuelização” é um fenômeno da direita que perdeu a eleição

umbuzeiro

Não há como ver uma passeata de direita em São Paulo sem retornar ao fantasma da marcha com Deus, pela família e contra a democracia. Mesmo que formem uma aliança tática, manifestantes favoráveis ao impeachment e os que pedem o retorno da caserna terminam por fortalecer corrente de opinião semelhante.

Bruno Lima Rocha, 03 de novembro de 2014

 

Neste breve texto, analiso um pouco mais do drama pós-eleitoral. As palavras que seguem não têm a formalidade costumeira, sendo fruto tanto da reflexão acelerada diante de uma possível escalada reacionária, algo alarmista, como também refletindo a predisposição da direita que perdeu em contestar o processo eleitoral e seu resultado. Assim, torna-se preciso analisar com frieza a patética - embora perigosa - marcha pelo impeachment ou pedindo "intervenção militar" no Brasil, realizada em São Paulo, no sábado 1o de novembro.

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Para refletir. Olha, realmente faz tempos que não via uma possibilidade real de desestabilizar um governo reeleito como esta. Não quero com isso, em hipótese alguma, afirmar minha concordância com o lulismo, o pacto de classe e menos ainda com a convivência fisiológica e a forma absurda como as lideranças petistas se jogaram no modus vivendi do ex-inimigo. Apenas afirmo que temos situações propícias para uma desestabilização política onde o povo, a massa de atingidos pelas tímidas políticas sociais, pode ser utilizada como boiada pós-eleitoral para garantir um governo que faz campanha por esquerda - reforça o mito popular - e se apóia nos capitais aqui operando. Ninguém me convence de que o PMDB não vai roer a corda, ou colocar Dilma contra a parede e, caso tenha chance, comer o corpo do Estado como um câncer em metástase avançada. A situação poderia ser pior. Se o alto tucanato fosse um pouco mais orgânico, era a hora do pânico. 
 

O problema está na margem esquerda da política. Já posso antever o PSOL se comportando como linha auxiliar do governo - linha crítica ou qualquer definição semelhante – como também observo que a desorganização cobra seus dividendos. Agora pagaremos a conta pela falta de coordenação e a inexistência de uma central sindical ou coordenação de movimentos populares com independência de classe e distante da pauta viciada da Via Campesina. Não adianta ficar reclamando daquilo que a esquerda não fez e menos ainda apenas ficar reclamando da óbvia e vergonhosa peleguice do partido de governo. "Torcer" por uma mítica guinada à esquerda de Dilma, ou do PT, ou da liderança de Lula é algo próximo do pensamento mágico ou do infeliz lema dos recalcitrantes de sempre: "manda brasa presidente....". E Jango mandou brasa ao não fazer nada e ir se distanciando da decisão estratégica quando esta foi necessária. 
 

Modestamente, assumindo o simplório papel de quem já não mais ajuda a organizar o tecido social e apenas opina e analisa, entendo que é hora de marcar uma pauta estratégica e forçar a barra para a realização de políticas fundamentais, como a regulação do Capítulo 5 da Constituição Federal (Comunicação Social) e avançar na pauta da Reforma Urbana. Não caberia tampouco uma política de adesismo crítico ou outro neologismo indefensável. Seria algo próximo do absurdo recomendar uma espécie de linha auxiliar, tentando operar sobre o “governo em disputa” ou outro absurdo que ainda alguns setores razoáveis pensavam em 2004, mas que se mostraram ilusórios já na metade do primeiro mandato de Luiz Inácio.

 

Ao contrário do que recomenda o pragmatismo da real politik, ficar como margem auxiliar do governo é o mesmo que deitar-se ao lado do vampiro e reclamar de sua necessidade por sangue alheio. Realmente, o momento é delicado e precisa da unidade do movimento popular para muito além e bem distante do governo de centro-direita. 
 

Toda atenção é pouca. 






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