Bruno Lima Rocha, 26 de agosto de 2014
Marina Silva, ex-senadora pelo PT do Acre, ex-ministra do Meio Ambiente (MMA) durante o governo de Lula e ex-candidata a presidente como um enxerto no Partido Verde no pleito de 2010, está arrancando nas contestadas pesquisas de intenção de voto da segunda metade de agosto de 2014. Restando menos de 45 dias para a apuração de 1º turno, Marina cresce com a exposição permanente, sem críticas - em função do velório de Eduardo Campos e a comoção do país na sequência -, conseguindo esconder quase totalmente, as fragilidades de seu programa de governo.
Vale uma observação antes de seguir. Este analista e a publicação Estratégia & Análise não necessitam fazer juras de convicção política pela democracia radical, substantiva, direta e participativa. Portanto, é desnecessário afirmar que, neste momento de tensão política nacional, nos alinhamos mais à esquerda, para além do cenário eleitoral. Dito isso, nos resguardamos ao direito da crítica sem parecer que estamos em campanha e tampouco confundindo análise com a relevante propaganda das ideias políticas de câmbio. Todo este reforço na posição editorial de E&A e de quem aqui escreve resulta necessário para as linhas que virão.
Marina conseguiu transparecer na superfície, algumas fragilidades que podem cobrar caro no final do 1º turno e na arrancada da segunda volta. Para ajudar nesta análise, reconheço a sabedoria política de Gustavo Gindre - disparado o melhor blogueiro do pensamento crítico brasileiro contemporâneo. Lendo e relendo suas postagens e comentários, observo o seguinte padrão de comportamento político, a partir de um fato singular.
Marina tem como assessor de confiança ao ex-secretário-executivo do MMA na gestão da acreana, João Paulo Capobianco. Cruzando a entrevista dada por este operador ao jornal Valor Econômico em 26/08/2014 (uma joint venture entre os grupos Globo e Folha), ficou nítida a escolha de não confrontar em nada aos interesses constituídos, mesmo aqueles que seriam programáticos. Se nada é programático então tudo é possível. Não há problemas em apoiar e dar sustentação para atividades econômicas da agricultura de escala, mesmo que estes sejam devastadores aos biomas do Centro-Oeste e da Amazônia Legal. Se Marina e seu grupo de assessores diretos proclamam que não vão mexer nem naquilo que seria a coluna vertebral do programa de governo, então não vai alterar nada que fira interesses diretos dos grandes agentes econômicos.
O descolamento – anunciado e já reforçado - da estrutura partidária e a personalização de auxiliares diretos implicam em rodear Marina Silva de um seleto grupo de confiança pessoal. Sem um programa de governo, a tendência do Executivo é se equilibrar, contemplando interesses diversos e tentando fazer uma ampla coalizão. Algo parecido com o governo Itamar Franco antes do Plano Real. Na prática, governar sem programa é aplicar um programa de terceiros, ou aceitar a imposição da pauta de quem ocupa o andar de cima na política e na economia brasileira.
Mais preocupante é a relação simbiótica com Neca Setúbal, sua estrategista de campanha e herdeira do Grupo Itaú. Reforça esta preocupação a pendência impositiva quando da fusão do banco controlado pela família Moreira Salles (Unibanco) pela instituição financeira da família Setúbal. A Receita Federal vai precisar brigar – e muito – para executar esta cobrança sob qualquer novo mandato presidencial. Mas, se a presidente for a “melhor amiga” da devedora, e operação fica ainda mais difícil. Tais sintomas elencados acima indicam que, como operadora da “nova política”, Marina Silva segue os passos de outros arrependidos dos dias em que militavam pela base e por esquerda.
Seu exemplo vale como produto eleitoral, mas é só. Tem serventia aos excelentes publicitários em campanha, aqueles e aquelas atendendo pelo neologismo de “marketeiros”, magos do isolamento do processo eleitoral, descolando-o do processo político. Infelizmente, podemos ter a primeira mulher de origem humilde na Presidência, seguindo o padrão do fundador do lulismo. A ex-senadora também opera para acomodar as tensões sociais, mas com menor ímpeto distributivo do que Lula e menos capacidade executiva que Dilma.
A louca direita brasileira tem em Dilma sua melhor opção, em Aécio a liquidação de si como classe dominante e em Marina uma incógnita.