Os fatos ocorridos na semana anterior em todo o Rio Grande do Sul chamam a atenção para a escalada repressiva do governo de Yeda Crusius; e também para o acordo tácito entre os governos central e estadual no que diz respeito da indústria papeleira. Impressiona tanto a articulação Capital-Estado-Repressão, assim como a sinceridade corporativa da Stora Enso. Em nota publicada em seu portal mundial, a transnacional sueco-finlandesa admite que é proprietária de uma empresa laranja, a Azenglever Agropecuária Ltda, de propriedade nominal de dois de seus diretores.
A escalada de terceirização e esconde-esconde da propriedade jurídica é típica da era do capital financeiro e digital. A Stora Enso não tem como ser proprietária direta de uma terra destinada para o plantio de eucalipto dentro da Faixa de Fronteira. Isto porque, como medida regulatória ainda do governo João Batista Figueiredo, as terras localizadas 150 kms para dentro da linha de fronteira do Brasil com países vizinhos, não podem pertencer a estrangeiros, sejam estes pessoas físicas ou jurídicas. A multi, para driblar a legislação, abriu outra empresa, esta controladora da Fazenda Tarumã, chamada Derflin Agropecuária Ltda. O capital da Derflin classifica a mesma como transnacional, sendo necessária a abertura de uma terceira empresa, desta vez controlada por laranjas da Stora Enso. Eis a origem dos laranjas brasileiros da corporation sueco-finlandesa.
A ocupação da Fazenda Tarumã, por parte de 900 mulheres da Via Campesina marcou o início da jornada de lutas da semana da mulher. Na seqüência da repressão, veio à tona a figura de dois nomes de executivos nacionais da transnacional cujo acionista importante é a família real da Suécia. João Fernando Borges é diretor florestal da empresa e Otávio Pontes é vice-presidente da Stora Enso Brasil. Mais do que as denúncias, o que chama a atenção é a capacidade articulada. Enquanto não se dá o arranjo legal, o senador ex-radialista Sérgio Zambiasi entra com projeto de emenda constitucional para redução da dita faixa para apenas 50 kms. A própria Fazenda Tarumã se localiza dentro de 80 kms da linha, ou seja, além da nova regulação, ainda tramitando no Senado.
Dentro da ilimitada lerdeza da Justiça e da Procuradoria, somada à auto censura e a censura da Brigada Militar, resta o debate pelos meios alternativos e aos portais com vocação para galo de rinha como este aqui. O tema em pauta e a questão de fundo são ambos de extrema gravidade. De tão graves, que o tema tem de ser amortecido entre mentiras e desinformação sistemática.