A renúncia de Fidel foi amplamente coberta pela mídia grandona. A atenção especial foi dada pelas revistas semanais. A Carta Capital pôs intelectuais de esquerda convencional a comentar a trajetória do mito em vida; Época gerou uma dúvida e Veja fez a canalhice de sempre. O que definitivamente não temos no Brasil é uma capacidade de crítica por esquerda.
Falar de Cuba e de Fidel Alejandro Castro Ruz é entrar em polêmicas. A paixão e a razão entram em conflito. Vejamos a coisa toda desde uma mirada conceitual. Cuba é uma ditadura, regime político fechado e com capacidade distributivista. A economia cubana é aberta aos capitais estrangeiros europeus e só não tem maior fluxo de investimentos em função do lobby gusano nos EUA. Para quem não se lembra, gusanos são os exilados em Miami, ex-colaboradores de Batista, dissidentes do regime castrista e atuam através de uma estrutura de milícias e economia própria.
Entre a vitória em 1º de janeiro de 1959 e a fusão total do PCC cubano, a sociedade ficou com seu rumo em aberto. No processo revolucionário, desde a constituição do MR 26 de julho, passando pelo ataque frustrado ao Quartel de Moncada, o exílio na Cidade do México, o desembarque do Granma, a ação das colunas na Sierra Maestra, a coordenação das sabotagens e levantes urbanos, o desembarque na Baía dos Porcos, a crise dos mísseis e o acordo com a URSS, muita água, mas muita mesmo, rolou debaixo da ponte da história caribeña e latino-americana.
Infelizmente o tema foi mal abordado pela mídia daqui e a tal da “esquerda” conseguiu debater a Fidel Castro com o vedetismo de sempre. Raul sempre foi a pior escolha, assim como a associação do regime de partido único com a igualdade sócio-econômica. Não há rectificación que alcance a mescla terrível de ortodoxia stalinista com capitalismo de mercado selvagem. Ah, me refiro às amizades de Raul com o comitê central do PC chinês, o maior partido confucionista do mundo. Este é um eixo de análise deixado de lado, só para varia.
Como quase sempre, fazemos o pior dos debates, partindo de caricaturas e preconceitos. Com tanta mediocridade conceitual é impossível debater qualquer coisa.
Esta Nota foi originalmente publicada para o portal de Claudemir Pereira