O Brasil, mais precisamente os órgãos responsáveis pelo fomento, divulgação e financiamento da cultura do país poderiam espelhar-se na atitude do governo de Aragão, na Espanha. São eles os responsáveis por gravar, editar e distribuir toda a obra Don Quixote de forma gratuita em formato mp3. Uma obra clássica cujo título original completo era El ingenioso hidalgo Don Quixote de La Mancha, com sua primeira edição publicada em Madrid no ano de 1605. O livro é um dos primeiros das línguas européias modernas e é considerado por muitos o expoente máximo da literatura espanhola. Com isso é possível fazer download dos 52 capítulos da primeira parte e os 74 da segunda através e escutar a obra completa em espanhol no próprio computador.
Essa atitude tem o claro objetivo de difundir a cultura e a produção espanhola. O projeto está na contramão da massificação produzida pelo “modo de vida americano” (American Way of Life) largamente difundido desde a década de 1950. A obra prima está cercada de inúmeras possíveis leituras, que dão luz a campos de estudo na historia, na política, na literatura, na sociologia. As possibilidades de entendimento da conjuntura e das ironias a múltiplos comportamentos e figuras representativas de seu tempo são inesgotáveis. Exatamente o oposto da McDonaldização do mundo onde tudo obrigatoriamente precisa seguir um padrão e estar encaixado em determinado grupo de compreensão pré-estabelecido.
No Brasil é possível também adquirir esta obra, em português e gratuitamente no formato Pdf. Não posso deixar de citar a melhor iniciativa por parte destes órgãos financiadores acima citados, o Domínio Público. Além do clássico de Cervantes é possível baixar textos de Shakespeare e Fernando Pessoa. Uma boa iniciativa, não se pode negar. E como o próprio nome já diz, todas as obras que compõem o acervo são de domínio público, portanto de livre reprodução (desde que citada autoria, é claro).
São iniciativas como essas que me deixam mais esperançosa em relação ao acesso à cultura. Claro que não é aconselhável esperar que elas sejam reincidentes, porque a tendência é oposta e a necessidade é nossa.
Texto de Daniela Soares, editora do trecos&trapos.