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Dois pesos distintos: retaliação e subsídio do grande capital

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O dinheiro jorra das plataformas digitais do Estado brasileiro para os subsídios diretos e indiretos dos grandes capitais aqui operando, nacionais ou não. A luta contra os EUA não se reflete nas assimetrias da economia política brasileira tal como ela é. Este é mais um país do tipo pátria contratista.

12 de março de 2010, da Vila Setembrina dos caídos ao largo do espelho d’água da Laguna, Bruno Lima Rocha

Aqueles que acompanham meus artigos sabem o quanto sou crítico do governo de Luiz Inácio. No ex-sindicalista que afirmou nunca haver sido de esquerda, bato justamente por esse lado da moeda e da sociedade. Ao mesmo tempo entendo que cabe a um analista reconhecer o factual contundente e ao menos apontar aquilo que considera correto. Assim o fiz quando o Brasil recebeu ao presidente hondurenho deposto na embaixada em Tegucigalpa e repito o gesto nesse momento, quando o Estado brasileiro trilha o multilateralismo tão apregoado pelos EUA e consegue aprovar uma retaliação contra a potência bélica do planeta. Façamos o reconhecimento pontual sem abrir das críticas pela assimetria.

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Infelizmente, para manter a coerência do atual governo central, aquilo que na arena internacional é criticado se repete em solo pátrio. Pois esta mesma ação se dá no Brasil e não apenas no setor primário de larga escala, onde o Estado financia o chamado agronegócio. Nos distintos ramos da indústria e das grandes obras, o BNDES faz a proa para o financiamento público de empreendimentos corporativos, incentivando na prática as fusões. Aqui, como nos EUA e seu governo de corporações e partido “quase único”, o Executivo também é cúmplice – talvez o maior dos cúmplices - da concentração de capital que gera desemprego e reforça os oligopólios.

Quando o tema ocorre no setor primário, vemos o quanto é baseado em hipocrisia o tema do subsídio agrícola. Se a agricultura no mundo inteiro é subsidiada, então é da lógica desta atividade econômica, dentro dos marcos do capitalismo, que a agricultura camponesa e familiar dispute diretamente com o projeto de latifúndio para a exportação, as mesmas verbas estatais arrochadas do cidadão comum mediante um imposto embutido, sobre-tributado e que jamais retorna em serviços públicos garantidos – supostamente – na letra constitucional.

Eis que o mesmo tema gera uma disputa no âmbito da pouca juridicidade a reger a relação entre Estados soberanos (ou quase, em se tratando de Brasil), justo quando o governo brasileiro protesta na Organização Mundial do Comércio (OMC) brandindo a bandeira de um sistema de trocas justo e com igualdade de condições de competir. Parece piada alguém em sã consciência repetir o mantra nada benéfico do receituário neoliberal, mas foi exatamente isso que desatou o contencioso onde a 11ª economia do mundo vencera pontualmente ao Império.

Um Estado com a pretensão mundial do Brasil deve comportar-se como tal. Era de se esperar uma reação imediata dos EUA, mas a mesma foi declaratória, e por enquanto não belicista. Caso venha a sair uma solução negociada, esta será fruto da postura firme de nosso país em cumprir a resolução da OMC e não em continuar cedendo em uma relação de trocas injustas. Ou seja, este não é um problema comercial, mas sim da política internacional. Mas, chamo para a reflexão os que como eu, estão comemorando a pequena derrota transitória que Washington sofrera. Não confundam os argumentos e não passem a defender o livre comércio apregoado como forma naturalizada de inserção cada vez maior do país Brasil na reconstituição de um sistema mundo abalado, de todas as maneiras, por seu artífice principal, os EUA.


Este artigo , tal como está acima, foi originalmente publicado no portal do Instituto Humanitas da Unisinos (IHU)






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