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Bananas e anti-racismo: para além da ironia


No domingo 27 de abril de 2014, Daniel comeu a banana e continuou jogando. Usou de ironia para combater a atitude preconceituosa e racista, recebendo aplausos e adeptos em todo o país.

30 de abril de 2014, Bruno Lima Rocha

O lateral direito do Barcelona e da seleção brasileira, Daniel Alves, protagonizou um episódio onde a ironia e a reação espontânea deu margem para o debate anti-racista em escala mundial. No domingo 27 de abril de 2014, o mundo inteiro o viu comer uma banana atirada para este jogador baiano por um torcedor do clube espanhol (valenciano) Villareal, adversário do time catalão. Daniel comeu a banana e continuou jogando. Usou de ironia para combater a atitude preconceituosa, recebendo aplausos e adeptos em todo o país.

 

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Seu colega de time, o também craque e jogador da seleção, o ex-santista Neymar, lançou campanha pelo twitter e imediatamente mobilizou de celebridades midiáticas a milhões de anônimos. De pronto a presidenta do Brasil, a ex-guerrilheira Dilma Rousseff, seguiu os passos via microblog. Em paralelo, a comoção que já abalava globais pelo assassinato de DG (Douglas Rafael da Silva Pereira), dançarino do Programa Esquenta (baluarte da miscigenação positiva e do elogio da mestiçagem apolítica), engajou o elenco da emissora líder na causa do fim do preconceito racial.

Por mais que sempre seja louvável qualquer iniciativa neste sentido, é preciso qualificar o debate e, ao menos, tentar atravessar uma agenda mais política e menos emotiva. O lema “Somos todos macacos!” vai se tornar um novo ícone da indústria cultural e, aproveitando o mau momento da imagem brasileira para o exterior (com o sistemático assassinato de cidadãos afro-brasileiros), o Ministério do Turismo lançou a #CopaSemRacismo, através de milhões de compartilhamentos nas redes sociais.

O resultado pode ser mais do mesmo. Por um lado, torna-se pública a atitude de Daniel Alves, esta gera adesões sem fim, e serve de discurso de legitimação para a parcela da sociedade brasileira que vê a integração como fator positivo. Por outro, esta mesma parcela, cuja maioria é despolitizada, não se engaja na luta pelos direitos civis fundamentais da população afro-descendente territorializada. Falo de moradores de remanescentes de quilombos reconhecidos e os não reconhecidos, na versão contemporânea de favelas, cortiços, mocambos, vilas e periferias sem fim. Nesta mesma luta se inclui a agenda da política de cotas e a exigência de que a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) seja mais ativa e agressiva na defesa das pautas da maioria.

Na era da midiatização e com a ausência de um setor de movimento negro massivo e nas ruas, viria bem um ícone esportivo mais aguerrido. Algo parecido ao papel que cumpriu o pugilista Muhammad Ali (Cassius Clay), quando em 1966, se recusou a servir ao exército dos EUA e ir à guerra do Vietnã. Ali marcava um momento histórico, projetando o campeão do povo (como eram conhecidos os pesos pesados no boxe) para além da tagarelice e as provocações que tanto o marcaram.

É positiva a reação espontânea de atletas profissionais, em geral pouco ou nada afeitos a se posicionarem socialmente, mesmo quando a opressão os atinge. Neste sentido, superar o paradigma de Pelé fora do campo (Edson Arantes do Nascimento) é um pequeno avanço. Mas daí a festejar um engajamento imediato e midiático, onde pegam carona todos os omissos e hipócritas de sempre, seria um grande equívoco.

Este país precisa reencontrar-se com si mesmo, encarando a escravidão africana e o genocídio indígena como o Holocausto que se abateu sobre nosso povo. Definitivamente, não é com ironia e bom humor que se enfrentam senhores de engenho, capitães do mato e feitores.

Artigo originalmente publicado no site AfroPress.






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